Sejamos Paz


Não haverá PAZ
Enquanto buscarmos fora
O que já temos dentro

Não haverá PAZ
Enquanto estivermos fora
De nosso "centro"

Não haverá PAZ
Enquanto criarmos separações
Entre nós e nosso irmão

Não haverá PAZ
Enquanto nossas mentes estiverem
Desatentas e em confusão

Não haverá PAZ
No orgulho de sermos melhores
Ou na inveja quando sentimo-nos inferiorizados

Não haverá PAZ
Na crítica constante ao outro
No ódio, na raiva e desgostos externalizados

Não haverá PAZ
Na falta de gentileza, no grito
e na aspereza dos gestos impulsivos

Não haverá PAZ
Naquele que gera sofrimento
Para si e para os outros seres vivos

Não haverá PAZ
Na busca infinita da acumulação
De bens e  conhecimento na forma teórica

Não haverá PAZ
Na palavra vazia e sem força
Pela falta de prática e excesso de retórica

Não haverá PAZ
No julga-los ou julgar-se
Mas no observa-los e observar-se

Não haverá PAZ?
Haverá PAZ!
PAZ!

Afinando pianos



Quando era criança e ia passar férias com meu pai, o acompanhei algumas vezes em um trabalho que ele fazia: afinar pianos. Para afinar pianos geralmente se usa um diapasão. O diapasão (veja imagem) consiste em um metal. Esse metal ele fazia soar uma determinada corda ou batia nela e colocava o diapasão no ouvido. Em seguida ia afinando a corda, repetindo esse processo inúmeras vezes.

Não me recordo bem o processo pois realmente ainda era bem pequeno (entre  7 e 9 anos) e existia uma técnica ali que eu não conseguia entender, mas de fato o diapasão é um instrumento que recebe a vibração externa e vibra na mesma onda.


Escutando um ensinamento de um Lama ele citou o diapasão e suas propriedades e fez uma analogia com nosso comportamento e como influenciamos as pessoas em volta. É como se fôssemos a corda do piano que produz o som e o outro fosse o diapasão.

Ora somos corda, ora somos o diapasão. Ora estamos recebendo vibrações, ora estamos emitindo vibrações. Essas vibrações podem se afinar com o tempo, como no processo de afinação de um piano, pela mera coexistência em um mesmo espaço e tempo.

Por exemplo, uma pessoa se muda para outro estado. Logo ela estará exposta a outra cultura, costumes, etc. No começo vai soar meio estranho os sotaques, mas depois de um certo tempo eles “ressoam” de forma mais familiar, até que acontece uma “afinação” da pessoa em relação ao meio onde ela está, assim como ela também está influenciando seu meio.

Estar atento e desperto, nos permite a visão necessária para percebermos o quanto influenciamos e somos influenciados pelos ambientes, pessoas e eventos à nossa volta. Em uma natureza toda interligada e interdependente, soamos e ressoamos vibrações constantemente.

Assim como precisamos filtrar aquilo que vem de fora e nos causa algum tipo de problema, também precisamos ter o cuidado com o que produzimos. Somos responsáveis pelos“sons” que produzimos pois eles ressoam e moldam o nosso entorno e a realidade que percebemos.

Afinar nossos “pianos” portanto é uma arte, que requer atenção, observação e um longo aprendizado através da vida. 


um estudante

Corromper e ser Corrompido


No nosso mundo cíclico (samsara) isto é no mundo criado pela consciência do corpo (afastada de nossa natureza primordial), existe uma propensão de colocarmos as coisas em "escala", isto é, classificar as coisas como: isso é ruim, aquilo é um pouco melhor, aquilo outro é bom e aquele lá é excelente.

Essas graduações de qualidade ainda que existam em termos mais sutis de vibração, no nosso mundo, regido pela ignorância, podem causar diversos problemas.

Quando colocamos alguém ou alguma pessoa acima de nós mesmos, ou abaixo de nós mesmos, estamos propensos a criar sofrimento.

A pessoa que é considerada acima, pode criar soberba, orgulho, vaidade e portanto ser CORROMPIDA.

A pessoa que se considera abaixo, pode criar em si, o desejo de vir a ser (que pode ser positivo ou não), a inveja (que é o desejo de vir a ser mal orientado) como também estar camuflando um mecanismo do ego que lá na frente vai lhe colocar na posição de ser corrompida também.

Quem CORROMPE fortalece no outro as ervas daninhas de sua auto-imagem e portanto está lhe causando indiretamente as causas de seu sofrimento. Um exemplo: uma pessoa faz uma plástica e rejuvenesce. Nós a vemos e falamos "nossa que linda que você ficou!". Ainda que esse elogio seja realmente baseado na nossa percepção, isso vai causar vaidade na outra pessoa. Daqui alguns anos  sua pele estará novamente enrrugada, ela se olhará no espelho, o sofrimento brotará e ela irá desejar novamente por uma plástica. Assim como nós podemos desejar passar pelo mesmo.

CORRUPÇÃO = CORROMPIDO + AQUELE QUE CORROMPE

Estamos acostumados a ouvir essas duas palavras no sentido de corrupção de dinheiro público, ou de funcionários públicos. Nesse caso o mecanismo é o mesmo: aquele que "corrompe" também fortalece o "corrompido". O sucesso daquele que é corrompido (seu dinheiro, poder, etc) gera atração naquele que corrompe ou que apenas observa. Isso gera tentativas de pessoas serem os CORROMPIDOS e por isso elas corrompem, pois no inconsciente estão desejando ser aquele que é corrompido.

Isso pode ser muito grosseiro como uma pessoa que paga para um político para lhe dar benefícios para sua empresa por exemplo, mas na maioria das vezes é muito sútil e bastante presente no nosso dia-a-dia.

As diferenças de qualidade rotuladas incorretamente por nossa ignorância coletiva, causam conflitos, disputas, competições e guerras. São essas diferenciações de qualidade que colocam pessoas despreparadas no poder. É essa mesma corrupção, causada pelo comportamento humano, que gera a devoção a líderes negativos, líderes religiosos, que criam impérios para escravizar pessoas.

Temos que tomar cuidado com nossa devoção mal direcionada, pois ela é a consequência de nossa incorreta percepção da "qualidade" de algo ou de alguém. E quando embarcamos nessa de perceber algo ou alguém como alguma coisa superior, estamos no caminho de devocionar cegamente e portanto cair na armadilha do "corromper" e ser "corrompido".

Nós temos uma natureza de paz e luz que desconhecemos. Portanto projetamos para fora perfeições e qualidades que julgamos positivas, mas que pensamos não possuir. E nessa invariavelmente vamos encontrar algo que nos atraia e vamos depositar nisso esperanças, projeções, etc.

O cuidado a ser tomado é o de não corromper pessoas ou grupos de pessoas, depositando nelas nossas projeções. Precisamos sempre ter essa atenção, para não alimentarmos a vaidade no outro e o desejo ou inveja em nós mesmos.

um estudante

Atenção Plena na superação do sofrimento


O Buda depois de abandonar sua vida de príncipe, renunciar a tudo e meditar por 6 anos,  tendo vivido segundo se acredita por Eons (incontáveis vidas) enfim se iluminou.

Ele então pronunciou em seus primeiros discursos as Quatro Nobres Verdades e um caminho de prática de oito passos (Caminho Óctuplo).

Esse ensinamento de forma resumida dizia:
1) O sofrimento existe (realidade do sofrimento)
2) Ele surge de nossa falta de lucidez ou ignorância (origem do sofrimento)
3) O sofrimento pode ser cessado (cessação do sofrimento)
4) Há o caminho para sua cessação (o caminho de oito passos)

2600 anos depois vivemos em um planeta onde pessoas sofrem por todos os cantos, quase 24 horas por dia, pelos mais variados motivos. O sofrimento não só é uma realidade, mas parece ser a tônica da vida global, onde pessoas sofrem, fazem sofrer e compartilham seu sofrimento.

Somos parte desse contingente de sofredores, que até mesmo acostumaram a confundir prazer com sofrimento, vício com virtude e tantas outras confusões, até mesmo se orgulhando  ou vitimizando-se pelo sofrimento que passam.

NÓS CRIAMOS TUDO ISSO

Precisamos olhar para isso com sinceridade. Precisamos entender quantas ações e pensamentos geradores de sofrimento, em diversos níveis, cometemos durante um simples dia. É só através da observação consciente que podemos nos deparar de frente com nossas tendências de produzir incessantemente sofrimento, do contrário nem os percebemos.

Os sofrimentos podem ser os mais grosseiros como a dor, até os mais sutis, como a angústia, a ansiedade o a sensação de vazio. O sofrimento pode se dar das mais variadas formas e todas elas são causadas. E onde está a causa?

Um exemplo simples de sofrimento sendo causado. Uma pessoa vai atravessar a rua, o sinal está fechado para pedestres mas ela avança. De repente vem um carro que precisa frear. Outras pessoas também estão presenciando a situação. Quem atravessou, quem estava dentro do carro, quem estava em outros carros e até mesmo quem só observava sofreram naquele momento, mesmo que por uma fração de segundo.

São esses sofrimentos, grosseiros ou sutis, que ocorrem em profusão no nosso dia-a-dia, espalhando sofrimento para todos que estejam ao redor.


NA IGNORÂNCIA, CULPE O OUTRO

A ação mais comum, em meio a falta de lucidez ou ignorância - somada a não observação da conduta pessoal própria - é transferir a responsabilidade da causação do sofrimento, para o OUTRO. O outro é responsável pelo meu sofrimento. O outro pode ser o pai, o filho, a mãe, o namorado, o avô, o juiz, o deputado, o zelador, o guarda, o motorista, etc, etc.

O outro, assim como eu ou você, está tentando ser feliz. Mas nessa tentativa de ser feliz, assim como eu e você, pode se utilizar de meios inábeis, ignorantes e por tanto egoístas. E se o OUTRO age movido por sentimentos parecidos com os meus, na realidade o OUTRO é igual a MIM. O OUTRO sou EU MESMO!

Não há outro. Há apenas a constante fuga e a tentativa de nós mesmos de transferirmos nossa responsabilidade pelo sofrimento que sentimos e que espalhamos, substituindo a atenção em mim, pela atenção no outro.

Sendo assim, um dos antídotos que o Buda deixou em seu caminho óctuplo era "Atenção Plena". Isso também foi dito por Jesus Cristo em diversos ensinamentos "observai", "não faça ao outro aquilo que não gostaria que fosse feito para você", "ame o outro como a si mesmo". Tantos outros mestres em diversas tradições religiosas deixaram exemplos semelhantes.

Essa atenção, esse vigiar próprio, é uma forma de olharmos melhor para nós mesmos e deixarmos que o outro também faça sua parte.

Se pararmos de causar sofrimento para nós e para os outros, isso já é, por si só, a nossa iluminação. Todos nós temos essa possibilidade, basta transformarmos nossos sofrimentos em aprendizado, de forma consciente, através da atenção plena voltada para nossa própria ação em meio ao mundo e as relações com os demais.

Só assim poderemos superar, passo-a-passo, a falta de lucidez ou a ignorância, que é o combustível para todo o sofrimento humano.


Um estudante

Morrer para Nascer

Não obstante vosso interesse por esses temas, damo-vos o se­guinte conselho: não desperdiceis vosso tempo e vossa energia na busca de livros ou de escritos, dos quais esperais encontrar uma eventual libertação. O Tao não pode ser expresso por palavras nem por escritos. O Tao, a senda, o caminho, pode unicamente ser vivenciado.

Estas poucas indicações mostram, em toda a sua crueza, a penú­ria do conhecimento e do raciocínio, a pobreza da compreensão intelectual e a estupidez da consciência cerebral.

Nada podeis saber, possuir e compreender que tenha valor, antes que tenhais morrido para esta natureza, antes que a tão perniciosa ilusão-eu tenha se extinguido em vosso microcosmo.* Enquanto permane­cerdes diante disso, continuareis profanos, ímpios e, consequen­temente, imaturos, e, no final, fixar-vos-eis na razão obscurecida, e nada tereis, absolutamente nada.


J. van Rijckenborghe
e Catharose de Petri

A Gnosis Chinesa

Liberdade e Prisão


Tudo aquilo que contribui para fortalecer o ego
fortalece as grades da prisão
onde mente e coração vivem
confusos e perdidos

Tudo aquilo que contribuiu para enfraquecer o ego
enfraquece as grades da prisão
onde a mente e o coração vivem
confusos e perdidos

Cada ação
Cada pensamento
Cada sentimento
Podem libertar ou prender
Podem enfraquecer ou fortalecer o nosso ego
Essa é a grande e maravilhosa escolha na vida.

Obs: o ego pode ter vários nomes > "eu", "identidade", "personalidade", "consciência do corpo", "pecador"...

Um estudante
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