O Trabalho



(...) Deem-se bem conta disso, disse Gurdjieff, a esse respeito, cada homem tem um repertório definido de papéis que ele representa nas circunstâncias habituais. Tem um papel para cada espécie de circunstâncias em que se encontra habitualmente; mas, coloque-o em circunstâncias ligeiramente diferente e ele será incapaz de descobrir o papel que esteja de acordo com elas e, por um breve instante, tornar-se-á ele mesmo.

O estudo dos papéis que cada um representa é uma parte indispensável do conhecimento de si. O repertório de cada homem é extremamente limitado. Se um homem diz simplesmente "Eu" e "Ivan Ivanovitch", não verá a si mesmo por inteiro, porque "Ivan Ivanovitch" também não está sozinho; ca um tem pelo menos cinco ou seis deles: um ou dois para a sua família, um ou dois para o seu emprego (um para os superiores e outro para os subordinados), um para os amigos no restaurante e talvez outro também par as conversas intelectuais sobre assuntos sublimes. De acordo com os momentos esse homem está completamente identificado com um ou outro e é incapaz de separar-se deles.

Ver seus papéis, conhecer seu próprio repertório e, sobretudo, saber como é limitado, já é saber muito. Mas eis o mais importante: o homem, fora de seu repertório, isto é, logo que algo o faz sair de sua rotina, ainda que por um momento, sente-se terrivelmente pouco à vontade e faz então todos os esforços para voltar novamente, o mais depressa possível, a um ou outro de seus papéis habituais. Recai em seus trilhos e todas as coisas andam de novo sem tropeços para ele: desapareceu todo o sentimento de constrangimento e de tensão.

É sempre assim na vida. Mas, no trabalho, para observar a si mesmo, é absolutamente necessário admitir este constrangimento e esta tensão e não mais temer esses estados de mal-estar e de impotência. Só através deles pode um homem aprender a ver-se. É fácil perceber a razão. Cada vez que um homem não está num de seus papéis habituais, cada vez que não pode encontrar em seu repertório o papel que convém a uma situação dada, sente-se como um homem despido. Tem frio, tem vergonha, desejaria fugir para que ninguém o visse.

Entretanto surge a pergunta: que quer ele?  Se quer uma vida tranquila, deve, antes de tudo, nunca sair de seu repertório. Em seus papéis habituais, sente-se à vontade e em paz. Pois o trabalho e a paz são incompatíveis. O homem deve escolher. Sem enganar a si mesmo. É o que acontece quase sempre. Em palavras, diz escolher o trabalho, enquanto na realidade não quer perder a paz. O resultado é que fica com um pé em cada canoa. É a mais desconfortável de todas as posições. O homem não faz trabalho algum e, apesar disso, não obtém conforto. Infelizmente, é muito difícil para ele mandar tudo para o inferno e começar o trabalho real.

E por que é tão difícil? Antes de tudo, porque sua vida é fácil demais.

Até aqueles que acham a vida ruim estão habituados a ela e, no fundo, pouco lhe importa que ela seja má, uma vez que estão conformados com isso. Mas eis que se deparam com algo novo e desconhecido de que não sabem se poderão tirar ou não um resultado. E o pior é que deverão obedecer a alguém, terão que submeter-se à vontade de outro. Se um homem pudesse inventar para si mesmo dificuldades e sacrifícios, algumas vezes iria muito longe. De fato, isto é impossível. É indispensável obedecer a outro homem e seguir uma direção geral de trabalho cujo controle apenas poderia pertencer a um só.

Nada poderia ser mais difícil que esta subordinação para um homem que, em sua vida, se acha capaz de decidir tudo e de fazer tudo. Naturalmente, quando consegue libertar-se de suas fantasias e ver o que ele é na realidade, a dificuldade desaparece. Mas precisamente esta libertação só se pode produzir no decorrer do trabalho. É difícil começar a trabalhar e, principalmente, continuar a trabalhar, e é difícil por que a vida corre de modo demasiado fácil.


Ouspensky
Fragmentos de um Ensinamento Desconhecido

Mente treinada

As possibilidades de treinar o pensamento são infinitas; suas consequências são eternas.

No entanto, poucos se dão ao trabalho de dirigir o pensamento para canais que lhes tragam benefícios. Em vez disso, deixam tudo ao acaso.

Marden

QUEM É VOCÊ? A Disciplina mais difícil é Ser o que você É


ALUNO: Como a disciplina se relaciona com ser o que você realmente é? Eu pensava que disciplina significava impor algo a você mesmo.

TRUNGPA RINPOCHE: A disciplina mais difícil é Ser o que você É. Constantemente tentar ser o que você não é, é muito mais fácil, porque fomos treinados a colocar seja a nós mesmos seja aos outros, nas categorias adequadas. E se você retira isto, a coisa toda fica muito irritante, muito chata. Não há espaço para se convencer a qualquer coisa. Tudo é bem simples.



Chögyam Trungpa Rinpoche
Crazy Wisdom
Traduzido por Eduardo Padma Dorje em 03/09/2001
http://www.nossacasa.net/shunya/default.asp?menu=1024

Observando e Aprendendo


(...) Talvez você pense que atirar com o arco não pode interessar a um padeiro ou a um agricultor, mas eu lhe digo: eles colocarão o que viram naquilo que estão fazendo.

Você também fará o mesmo: aprenderá com o bom padeiro como usar usar as mãos, e como saber a exata mistura dos ingredientes. Aprenderá com o agricultor a ter paciência, trabalhar duro, respeitar as estações, e não blasfemar contra as tempestades – porque isso seria uma perda de tempo. (...)


Paulo Coelho
O Caminho do Arco

O pensamento e o estudo deve ter um propósito


Todo pensamento, estudo e investigação deve ter uma meta, um propósito e essa meta deve ser adquirir consciência.

É inútil estudar-se a si mesmo sem esse propósito. Só há razões para estudar-se quando já tivermos nos dados conta que não temos consciência e desejamos adquiri-la.

De outro modo isso será inútil. A aquisição da consciência está relacionada com a liberação gradativa da mecanicidade, pois o homem, tal como é, está plena e completamente subordinado às leis mecânicas. Quanto mais consciente o homem for, mais o homem se afastará da mecanicidade, isto é, mais livre se tornará das leis mecânicas acidentais.

Ouspensky
Quarto Caminho

POSITIVAÇÃO: Atitudes Negativas e Atitudes Positivas



Nossa atitude para com tudo na vida, com os outros e com nós mesmos, pode ser negativa ou positiva.

A atitude negativa (tradicionalmente chamado de "mal") inclui tudo o que neutraliza a leis da liberdade, unidade, auto-realização e auto-ativação.  A esta pertencem todas as tendências para restringir o direito do homem de viver a sua vida como ele pensa (desde que não viole o direito dos outros ou para com ele mesmo).

A esta atitude negativa pertencem todas as demandas moralistas de algum determinado modo de vida ou obediência a uma convenção, todos os obstáculos para a busca do conhecimento, todas as restrições à aspiração do homem para níveis mais elevados, todas as tendências ditatoriais, totalitários e autoritários (exceto medidas necessárias tomadas contra os infratores dos direitos dos outros), tudo o que tende a incutir medo no homem, pessimismo, desalento, a sensação de falta de sentido ou absurdo (abundância de exemplos na arte moderna), todos os tipos de calúnia, fofocas e curiosidades sobre a vida privada das outras pessoas, toda desconfiança e mesquinhez. E por último, e em principalmente: todos os julgamentos e moralizações.

A atitude positiva (tradicionalmente chamado de "bem") inclui tudo o que funciona em harmonia com as quatro leis da vida mencionadas anteriormente.

A atitude positiva se esforça para amar compreensivamente tudo que é humano, se esforça para ver o melhor em todos e desconsidera o pior lado como uma questão de princípio. Ela se abstém de julgar e moralizar, uma vez que olha mais profundamente e sabe que as falhas são sempre universalmente humanas, que vemos apenas o que nos dispomos a ver sobre nós mesmos, que quem quer que julgue outra pessoa julga a si mesmo.

Uma vez que tudo pode ser mal interpretado, deve ser dito aqui que a atitude positiva não implica neutralismo ou fraqueza a frente de violações de direitos. O homem positivo faz o seu melhor para combater a mentira, o ódio e a violência, intervém decididamente ao lado da violados, mas tenta ao mesmo tempo entender e não julgar o infrator - para esta atitude é necessário ser capaz de distinguir entre coisas e pessoas, os erros e o errante.

A atitude positiva diante da vida é baseada na confiança na vida e na confiança em si mesmo e fazer o seu melhor para incutir o mesmo espírito nos outros. Ela quer expor  e mostrar às pessoas as suas imensas possibilidades, o que nos dá poder, coragem e alegria; ajuda a mitigar nossa tendência arraigada a ser hipnotizado por obstáculos e fracassos.



Baseado nos escritos de Henry T. Lawrency
Escritor que se dedicou a desenvolver os pensamentos
da escola esotérica de Pitágoras
http://www.laurency.com/Fke/Fke9.pdf


Quando a Prática dá frutos


Charlotte Joko Beck (EUA, 1917 ~ 2011):

[...] O desejo que exige ter satisfação é o problema. É como se nos sentíssemos constantemente com sede e, para extinguí-la, tentamos colocar uma mangueira em alguma torneira na parede da vida. Continuamos pensando que com essa ou aquela torneira, teremos a água que precisamos. Ao escutar meus alunos, todos parecem sedentos por algo. Podemos conseguir um pouco de água aqui e ali, mas isso apenas nos atormenta. Estar realmente sedento não é divertido. [...]
Se estamos tentando por anos fixar nossa mangueira nessa ou naquela torneira, e cada vez descobrimos que não é suficiente, vai chegar um momento de profundo desencorajamento. Começamos a sentir que o problema não é falharmos em nos conectar com algo lá fora, mas que nada externo poderá jamais satisfazer a sede. É aqui que, bem provavelmente, começamos uma prática séria.
Este pode ser um momento horrível — compreender que nada jamais irá satisfazer. Talvez tenhamos um bom emprego, um bom relacionamento ou família, e ainda assim estamos com sede — e torna-se claro para nós que nada realmente pode preencher nossas demandas. Podemos compreender que até mudar nossa vida — rearranjar os móveis — também não vai funcionar. Esse momento de desespero é na verdade uma bênção, o verdadeiro começo.
Uma coisa estranha acontece quando abrimos mão de todas nossas expectativas. Obtemos um vislumbre de uma outra torneira, uma que permanecia invisível. Conectamos nossa mangueira a ela e descobrimos, para nosso deleite, que a água está jorrando. Pensamos: “Agora peguei! Peguei!”. E o que acontece? De novo, a água seca. Trouxemos nossas exigências para dentro da própria prática, e de novo estamos sedentos.
A prática precisa ser um processo de desapontamento sem fim. Temos que ver que tudo que demandamos (e até obtemos) eventualmente nos desaponta. Essa descoberta é nosso professor. [...] Eventualmente, ficamos suficientemente espertos para antecipar nosso próximo desapontamento, para saber que nosso próximo esforço para matar a sede também vai falhar. A promessa nunca é cumprida. Mesmo com uma prática longa, às vezes buscamos soluções falsas, mas ao perseguí-las, reconhecemos nossa futilidade muito mais rapidamente. Quando ocorre essa aceleração, nossa prática está dando frutos.


POSITIVAÇÃO: Tendências pessoais de Atração ou Repulsão



Já no reinos sub humanos,  a mônada tem conseguido adquirir uma tendência básica. Trata-se de uma ou de outra tendência: atrativa (positivo) ou repulsiva (negativo).

Tendo uma tendência básica atrativa, a mônada se esforça instintivamente para se adaptar aos seres ao seu redor, porque - embora vagamente - percebe sua unidade inevitável com eles. Tendo uma tendência básica repulsiva, a mônada se esforça para afirmar-se contra a vida que a rodeia, para explorá-la e dominá-la.

As duas tendências básicas desenvolvem-se ainda mais no reino humano dentro do amor e ódio, no desejo de unidade e na vontade de poder. Essas mônadas humanas que têm a tendência repulsiva devem superá-la, substituindo-a com a tendência atrativa, antes que elas possam alcançar o estágio causal. Isto exige um trabalho gigantesco, especialmente porque a maioria da humanidade em nosso planeta tem adquirido a tendência repulsiva.

Não é fácil para a minoria que está trabalhando para fortalecer ou adquirir atração, quando seu ambiente - com sua negatividade individual e coletiva (afetando-os  também telepaticamente) - contrapõe esse esforço.

Repulsão é o obstáculo mais maciço para a evolução do nosso planeta, coletivamente e individualmente.

A partir disso, está claro que o trabalho para a atração - a unidade, o amor, a compreensão, a tolerância, a fraternidade, a cooperação - é o trabalho mais importante que a evolução individual e do coletivo podem fazer. A base necessária para este trabalho é o indivíduo estar se esforçando para uma atitude positiva frente a vida.


Baseado nos escritos de Henry T. Lawrency
Escritor que se dedicou a desenvolver os pensamentos
da escola esotérica de Pitágoras
http://www.laurency.com/Fke/Fke9.pdf

As Leis da Vida na Evolução



Nos níveis mais baixos de evolução o homem vive de forma inconsciente e automática. Nos estágios mais avançados o homem pode trabalhar eficientemente por sua evolução através da aplicação das Leis da Vida. Todas as sete leis da vida trabalham juntas pela evolução do homem. Elas trabalham, todavia, de formas diferentes.

Três dessas Leis – as Leis do Desenvolvimento, Destino e Mérito (Colheita) – trabalham por uma longa série de encarnações sem que o homem seja capaz de diretamente influenciá-las ou seus efeitos. Elas determinam as condições básicas de cada encarnação. Porém, dentro das limitações que são inevitáveis em qualquer nível de Desenvolvimento, Destino e Mérito (Colheita), o homem muitas vezes é capaz de aplicar outras quatro Leis: As Leis da Liberdade, da Unidade, do Eu e da Ativação de forma eficiente e propositalmente. Assim, ele pode afetar indiretamente as outras leis também. Estas são, portanto, as quatro Leis mais importantes para o homem do ponto de vista evolutivo.

É uma visão errônea da Lei do Mérito (Colheita) que tudo o que encontramos na vida é apenas colheita (o chamado karma). A Lei da Liberdade exclui a possibilidade do chamado destino cego. Temos 99% de chances de mudar o nosso destino aparentemente inevitável. Mas, para isso, devemos ter uma atitude positiva diante da vida: a percepção de que temos o poder de superar obstáculos aparentemente intransponíveis.

O propósito da Lei do Mérito (Colheita) é nos fazer compreender a vida, fazer-nos respeitar a unidade, mostrando-nos de forma mais tangível qual a consequência quando temos a unidade, sob nossos pés. Se tivermos essa atitude, então devemos ser capazes de tomar os sofrimentos e adversidades tranquilamente e de uma forma positiva, tomá-los como as provações que devemos passar, a fim de ganhar força interior e resistência, qualidades necessárias e habilidades.

Normalmente levamos a Colheita no sentido negativo. Ao fazê-lo pioramos o efeito da colheita e até da nova semeadura. É verdade que o sofrimento do homem é auto-infligido. No entanto, apenas cerca de um décimo do seu sofrimento é uma Colheita ruim. Os restantes 9/10 deve ser entendido como a forma negativa de enfrentar sua má colheita: pela tristeza, preocupação, medo, depressão, tristeza, ódio, desejo de vingança, e assim por diante. A imaginação amplia as coisas e a imaginação nos faz reviver o sofrimento muitas vezes.

No “Estágio Cultural” o homem desperta para a percepção de que ele precisa aprender a controlar sua consciência, conscientemente mantendo seus pensamentos, sentimentos e imaginação sob observação. Assim ele descobre a arma mais eficiente que há em sua guerra contra o sofrimento. Usando-a, ele pode aprender a superar grande parte do seu sofrimento.


Henry T. Lawrence
escritor que se dedicou a desenvolver os pensamentos da escola
esotéricade Pitágoras na atualidade
http://www.laurency.com 

Dhammapada: Controle Emocional


Quem abriga pensamentos de hostilidade como:
Ele me maltratou, ele me golpeou,
ele me derrotou, ele me roubou, -
para aqueles que abrigam pensamentos como esses
a raiva nunca será apaziguada.

Quem não abriga pensamentos de hostilidade como:
Ele me maltratou, ele me golpeou,
ele me derrotou, ele me roubou, -
para aqueles que não abrigam pensamentos como esses
a raiva será apaziguada.

Dhammapada (versos 3 e 4)

Comentários*

Esse par de versos revela o princípio psicológico que é a base do controle Emocional. A Emoção é uma excitação do corpo que começa com um pensamento. Um pensamento cria uma “figura mental” que se agarrada faz surgir a emoção correspondente. Somente quando essa “figura mental” é descartada e não recebe atenção é que essa emoção se apazígua.

Um conselho constante do Buda aos seus discípulos era para “não retalharem” mas praticarem a paciência em todas as ocasiões e lugares, mesmo quando provocados. O Buda elogia aqueles que toleram as ofensas dos outros mesmos que eles tenham capacidade para retalhar. No próprio Dhammapada há várias ocasiões que mostram que o Buda praticava a paciência mesmo quando severamente criticado, abusado ou atacado. A paciência não é um sinal de fraqueza ou derrotismo, mas é uma infalível força dos grandes homens e mulheres.

O segredo da paciência é mudar a “figura mental” ou como a situação é interpretada. Um jataka (estórias de vidas anteriores do Buda) conta: o monge continuou repetindo no pensamento  “longa vida ao Rei e que ele esteja livre do mal” enquanto seus membros eram decepados até a morte por esse Rei cruel que queria testar a sua paciência.


*Michael Beissert

Praticar

Você realmente não precisa saber muitas coisas,
mas você definitivamente precisa praticar o que você sabe.

Swami Rama

Meditação Raja Yoga - Parte 12 - A sétima etapa: Dhyana


A fim de atingir o estado superconsciente de uma maneira científica, é necessário passar através dos vários estágios de Raja-Yoga. Depois de Pratyahara e Dharana, chegamos a Dhyana, a meditação. Dhyana é a sétima etapa da Raja Yoga.


Quando a mente foi treinada para permanecer fixa em um determinado local interno ou externo, chega a ela o poder de fluir em uma corrente ininterrupta, por assim dizer. Este estado é chamado Dhyana. 

Em Dhyana o foco no objeto atingido em Dharana se estabiliza e nele permanece. A concentração do iogue permanece no ponto entre as sobrancelhas e a meditação pode ser feita utilizando um pensamento semente. O pensamento semente se torna o objeto da meditação. 

Causas externas, movimentos internos e a reação 
Estas idéias devem ser compreendidas ao estudarmos Dhyana, ou meditação. Ouvimos um som. Primeiro há a vibração externa; segundo, o movimento dos nervos que a leva à mente; terceiro, a reação da mente, com a qual surge, como relâmpago, o conhecimento do objeto que era a causa externa dessas diferentes mudanças, desde as vibrações etéreas às reações mentais. Estes três fenômenos sã chamados, na yoga, sabda (som), artha (significado), e jnana (conhecimento). 

Na linguagem da fisiologia são chamados a vibração etérea, o movimento no nervo e cérebro, e a reação mental. Os três, através de processos distintos, misturaram-se de maneira a tornar-se indistinguíveis. De fato, não podemos agora perceber nenhum deles; apenas percebemos seu efeito culminado, que chamamos objeto externo. Cada ato de percepção inclui os três e não hã razão por que não podemos distingui-los.

Quando por prévia preparação, a mente se tenha tornado forte e controlada e obtido poder mais fino de percepção, deve ser utilizada na meditação. Esta, deve começar com objetos grosseiros e vagarosamente elevar-se a objetos mais finos, até tornar-se sem objeto. A mente deve primeiro dedicar-se a perceber as causas externas das sensações, depois os movimentos internos e depois sua própria reação. Quando conseguir perceber, isoladas, as causas externas das sensações, obterá o poder de perceber todas as existências materiais sutis, todos os corpos e formas finos

Quando assim  consegue perceber os movimentos internos em si mesmos, terá o controle de todas as ondas mentais, em si mesma ou nos outros, antes mesmo que se tenham traduzido em energia física. E quando a mente do iogui estiver apta a perceber a reação mental em si mesma, terá adquirido o conhecimento de tudo, desde os objetos sensíveis, como todo pensamento, são o resultado dessa reação. Então o iogui verá os alicerces da mente e ela estará sob seu perfeito controle.



Swami Vivekananda
Raja Yoga


Disciplina: aprendendo a guiar nossas energias

A essência do meu conselho é que se deve aprender a disciplinar-se. Disciplina significa guiar a energia adequadamente em três direções: a mente, a ação e a fala.

A disciplina não significa prender-se, reprimir-se, suprimir-se, ou torturar a si mesmo. Significa aprender a guiar as energias que temos e aprender a ser positivo na vida.

Negatividade não ajuda. Ela é como um veneno de efeito lento. Mas o pensamento positivo é como néctar, e definitivamente ajuda.

Swammi Rama

Tornar-se a Verdade

É importante para nós 
não somente conhecer a verdade,
mas também, tornar-se a verdade.


Lama Tashi Namgyal
The Ninth  Karmapa’s  Ocean of  Definitive  Meaning


Consciência Dualista e Consciência Primordial



Se pudermos transcender a consciência dualista, atingindo assim a consciência primordial, então pode-se ver as coisas com precisão, assim como elas são, sem qualquer projeção conceitual.

Somos tentados a dizer que, tendo transcendido as "fantasias intensificadas", há "fatos", mas estes são totalmente fatos não-conceituais que não possuem toda a solidez que eles tem na percepção comum que nós sobrepomos.

Ao ver as coisas com precisão como elas são, pode-se responder as coisas apropriadamente, sem idéias preconcebidas. Neste nível de percepção inequívoca, tomar decisões apropriadas e inconfundivelmente compassivas é decididamente possível.


Thrangu Rimpoche
The Ninth Karmapa’s Ocean of  Definitive Meaning



Meditação Raja Yoga - Parte 11 - A sexta etapa: Dharana



A sexta etapa da Raja Yoga é chamada de Dharana.

Dharana consite em concentrar a mente em um único ponto ou objeto, sustentando essa concentração. O propósito é investigar a verdade por traz do objeto da meditação. Mantendo a distinção do objeto e suas propriedades, daquilo que o circunda, conduz a uma clara e vigorosa consciência do objeto.[1]. A meditação ocorre com Dharana e Dhyana juntamente.

Em Dharana investigamos as "Quatro Perspectivas" (Forma, Qualidade, Propósito e Causa) de um objeto de meditação e depois a registramos em um papel.[2]

Patanjali [3] diz "A consciência de um objeto é alcançada pela concentração em sua quádrupla natureza:

  • A forma - através do exame
  • A qualidade (gunas) - através da participação discriminadora
  • O propósito - através da inspiração
  • A causa (Alma) - através da identificação."

Essa é uma das etapas mais interessantes da meditação Raja Yoga, pois é nessa etapa que o conhecimento da Alma começa fluir para a personalidade. Dharana deve ser aprimorada pelo pelo discípulo através da prática e do estudo mais aprofundado. Esse texto é apenas um passo inicial.

[1] Sharma, Devinder Enlightenment Is the Secret to Fly, p.541

Concentração e Relacionamento

Nós não devemos simplesmente pensar sobre Deus, nós devemos nos concentrar Nele; pensar cria teologia, concentrar-se cria relacionamento.

Apenas o relacionamento proporciona experiência.

Anthony Strano
O Ponto Alfa

Meditação Raja Yoga - Parte 10 - A quinta etapa: Pratyahara


A quinta etapa da Raja Yoga é chamada de Pratyahara.

O que é Pratyahara? Sabemos como nascem as percepções. Em primeiro lugar há os instrumentos externos, depois os órgãos internos, funcionando no corpo através dos centros cerebrais, e por último, a mente. Quando todos se juntam e se ligam a algum objeto externo, então, percebemo-lo. Ao mesmo tempo, é bastante difícil concentrar a mente e ligá-la a apenas um órgão; a mente é a escrava de objetos físicos.

Todas as ações, internas e externas, ocorrem quando a mente se liga a determinados centros, chamados órgãos. Querendo ou não, as pessoas juntam suas mentes aos centros. Essa, a razão por que cometem ações tolas e sentem-se infelizes.

Porém, se tivessem a mente sob controle, não agiriam assim. Qual seria o resultado de controlar-se a mente? Seria o de evitar que eia ficasse ligada aos centros de percepção, e, naturalmente, o sentir e o querer estariam sob controle. É claro até aqui. Mas, isto é possível?

Mente o macaquinho maluco
Quão árduo é controlar a mente! Bem foi ela comparada ao macaquinho maluco, da história. Havia um macaquinho, inquieto por sua própria natureza, como todos os macacos. Como se não bastasse isso, alguém o fez beber bastante vinho, de forma que se tornou ainda mais irrequieto. Então, um escorpião o ferrou. Quando uma pessoa é ferrada por um escorpião, salta de dor durante todo um dia, O pobre macaquinho sentiu-se absolutamente miserável. E para completar sua desgraça, um demônio o possuiu. Que palavras podem descrever a sua incontrolável inquietação?

A mente humana assemelha-se ao macaquinho. Incessantemente ativa por sua própria natureza, embriaga-se com o vinho do desejo, que lhe aumenta a turbulência. Depois que o desejo apoderou-se dela, vem o ferrão do escorpião do ciúme pelo sucesso dos outros; e por fim o demônio do orgulho instala-se na mente, fazendo-a atribuir-se muita importância. Quão árduo o controle da mente!

Acalmando a mente

Portanto, a primeira lição é sentar-se por um tempo e deixar vagar a mente. Ela está em efervescência durante a maior parte do tempo. Assemelha-se àquele saltitante macaquinho. Que o macaco salte quanto queira; simplesmente esperai e observai.

Conhecimento é poder, diz o provérbio, e é verdadeiro. A menos que se saiba o que a mente está fazendo, não se pode controla-la. Entregai-lhe as rédeas, talvez surjam muitos terríveis pensamentos; ficareis admirados ao ver que é possível ter tais pensamentos; mas encontrareis que a cada dia que passa, as divagações da mente serão menos violentas, que gradualmente ela se vai tornando mais tranquila.

Nos primeiros meses notareis na mente uma infinidade de pensamentos; depois, que vão diminuindo e que em mais alguns meses serão bem poucos, até que, por fim, a mente estará sob perfeito controle.

Controlar a mente e não permitir que ela se ligue aos centros, é Pratyahara. Como consegui-lo? É um trabalho imenso; não pode ser feito num dia. Somente pelo esforço contínuo, paciente, durante anos, teremos êxito.



Swami Vivekananda
Raja Yoga


Prática do caminho escolhido


É importante para todos os buscadores e aspirantes escolham um caminho definido e pratique-o. Sem prática nada pode ser alcançado. Bem-aventurados são aqueles que estão no caminho.

Um dia eles vão chegar ao seu objetivo e alcançar a liberdade de todas as dores e misérias.

Swami Rama

Meditação Raja Yoga - Parte 9 - A quarta etapa: Pranayama



Pranayama é um dos mais importantes métodos da ciência do Yoga. Porém na Raja Yoga sua importância é secundária, ao contrário da Hata Yoga onde os exercícios respiratórios são muito importantes.

A função do Pranayama é possibilitar ao aspirante o controle sobre o sistema nervoso. Um gradual controle sobre esse sistema possibilita o controle da mente e do "prana" (energia vital). Pranayama também é o processo que objetiva auxiliar a nos mantermos não afetados por pensamentos perturbadores, mantendo o corpo e a mente perfeitamente alinhados e com saúde.

Na Raja Yoga, o Pranayama é realizado de forma simplificada. Deve-se manter a respiração normal, sem qualquer controle sobre ela, apenas observando seu ritmo (influxo e efluxo). A concentração na respiração ajuda a mente a se acalmar, aumentando a concentração no objeto da meditação.

O Pranayama na Raja Yoga é um método acessório e não o objetivo em si.

Swami Rama
Path of Fire



Rigpa: o estado de presença desperto



Rigpa é um estado de presença claro e desperto que transcende a mente pensante comum. Ele é como o sol que aparece quando as nuvens dos pensamentos se afastam. Rigpa é não-composto, não tem começo nem fim. Em sua essência ele é primordialmente puro [kadag] e sem elaborações, o que chamamos ainda vacuidade. Mas em sua natureza, ele é luminosidade espontaneamente presente [lhundrup]. Esses dois aspectos são indissociáveis.

Do ponto de vista de rigpa, a mente conceitual sem, as paixões, etc., não são senão um jogo oriundo de sua criatividade luminosa. Há, pois uma imensa diferença entre mente comum, sem e rigpa.

Sem é um epifenômeno de rigpa, uma simples função da claridade e de seu movimento. Rigpa é um estado claro e sem distrações onde nenhum apego é possível. Nesse estado, tudo que surge não é mais que uma exibição sem finalidade e dissolve-se sem deixar traço, como uma vaga no oceano ou um desenho sobre a água.

Comparamos tradicionalmente rigpa a um espelho. O espelho tem duas características: ele é vazio em si-mesmo, e simultaneamente ele tem potencialidade de refletir claramente todas as espécies de aparências, belas ou feias. Essas aparências, visíveis no espelho, são incapazes de o sujar, pois ele permanece vazio por essência. Estar sob a influência da mente comum e do apego, é estar fascinado pelos reflexos e se lançar em perseguição, seduzido por uns, irritado ou desgostoso com outros. Estar no estado de rigpa consiste em contemplar a exibição dos reflexos permanecendo na condição natural do espelho, sem estar distraído. Os reflexos não têm nenhum poder sobre o espelho, e este permanece imutável e sem manchas. Assim, do ponto de vista do espelho os reflexos não criam nenhum problema. Se quando vemos as projeções, esquecemos no mesmo instante a condição natural, a ilusão se instala.

Nos textos antigos do dzogchen, em particular do semde, rigpa é também chamado tchang tchoup sem, quer dizer bodhichitta ou "mente de iluminação". Mas esse termo tem uma significação especial no dzogchen. Tchang significa "totalmente puro", sendo sinônimo de kadak. A pureza primordial de rigpa. Tchoup significa "realizado", "perfeito", e evocando aqui a natureza espontaneamente realizada de rigpa [lhundrup]. Sem é, pois aqui a natureza da mente primordialmente pura e espontaneamente presente, e não mais a mente no sentido comum.


Longchenpa
Do livro "La liberté naturelle de l’esprit"
Apresentado e traduzido do tibetano por Philippe Cornu
Tradução para o português Karma Tenpa Dharguy
http://www.nossacasa.net/shunya/default.asp?menu=1166


Meditação Raja Yoga - Parte 8 - A terceira etapa: Asana



A terceira etapa da Raja Yoga  é  Asana,  ou postura. Apesar da Raja Yoga ter foco no desenvolvimento da mente, algumas observâncias podem ser feitas quanto à postura física mais adequada.

Vejamos abaixo as instruções de Swammi Vivekananda sobre Asana:
Devemos   cumprir,  diariamente, uma série de exercícios, físicos e mentais, até  alcançarmos estados mais elevados. Portanto é absolutamente  necessário que encontremos uma postura na qual possamos permanecer   durante   muito tempo.   Essa   postura,  a  mais  cômoda, deve ser a escolhida. Para pensar, uma determinada  postura pode ser muito cômoda para uma pessoa, enquanto  que para outra pode ser desconfortável. Saberemos mais tarde, que durante o estudo destes assuntos psicológicos, o corpo se  torna teatro de grande atividade. 
Correntes nervosas serão  deslocadas   e   encaminhadas   através   de   um   novo   canal.  Surgirão novas espécies de vibrações; a constituição inteira  será remodelada, por assim dizer. Mas a parte essencial da  atividade permanecerá ao longo da coluna vertebral; portanto  a única coisa necessária para a postura é manter a coluna livre,  sentando-nos   eretos,   de   modo   que   as três partes – peito,  pescoço e cabeça – fiquem em linha reta. Que o peso total dessas partes descanse nas costelas, e teremos uma postura  natural e cômoda, com a coluna reta. Notamos, facilmente, que  não   conseguiremos   produzir   pensamentos   elevados,   com   o  peito para dentro.
O foco da postura é muito mais em uma posição onde possamos permanecer por algum tempo, para podermos praticar as reflexões com semente e a contemplação. Não é foco da Raja Yoga o desenvolvimento de posturas para fortalecimento do corpo físico como é feito na Hatha Yoga. Uma mente treinada pode harmonizar todo o sistema corporal sem a necessidade de posturas e exercícios físicos que exijam grande esforço.

Na Raja Yoga a postura é apenas observada para que permita ao meditador permanecer o tempo que for necessário em uma postura, sem estressar seu corpo e mantendo a coluna ereta. Sentar-se em um poltrona ou cadeira, de forma confortável, com a coluna ereta é o suficiente.

Liberdade


Somente o conhecimento da verdade sobre si mesmo é libertador; toda e qualquer ilusão sobre si mesmo é escravizante.

Roberto Rohden

Renúncia Mental

“A renúncia está na mente, não é
alcançada pela renúncia física, nem
impedida pela falta dela.”

Ramana

O ato de renúncia à vida familiar e as posses é muito bem apreciado pelos indianos, que  valorizam tal feito, porém a opinião de Ramana a respeito disso era bem clara, e desaconselhava  quem o perguntasse.

Sua justificativa seria que a verdadeira renúncia não é uma retirada, mas uma ampliação  do amor, e que não basta despojar-se das roupas e abandonar o lar, mas renunciar aos desejos, às  paixões, aos vínculos e fundir-se ao mundo, estendendo seu amor a todos.

Apesar dos laços de afeição familiares serem fortes, o fato de se separar dessas pessoas,  sem se estar preparado, pode significar criar vínculo com outras, como discípulos, seguidores de  um guru, andarilhos do caminho. Os grandes homens que abandonaram a família não fizeram por aversão a vida familiar,  mas devido ao amor imenso que sentiam por todos os seres. Estavam de tal forma em Paz que  não havia desejo de abandonar isso ou aquilo, se afastavam apenas das questões mundanas,  mantendo o foco no Divino, porém continuavam com a vida em sociedade.

Ramana dizia que os esforços deveriam começar a ser feitos agora, pois independem do ambiente. Mesmo durante o trabalho diário o foco pode ser no Si, o que não impede que as  atividades sejam executadas plenamente. Ramana era um exemplo disso, sempre atento a tudo,  muito organizado e disciplinado com horários, o que acontecia mesmo ele estando mergulhado  em Si.
“Não é preciso renunciar à vida ativa. Se você meditar uma ou duas horas por dia, poderá dar seguimento normal aos deveres. Se meditar de modo certo, então  a corrente mental induzida continuará a fluir durante o trabalho.”(Osborne, 1970) 
Com essa postura, a atitude diária com as pessoas também sofrerá alteração e tenderá a  acompanhar a meditação. Um seguimento não se separa do outro, e o homem assim como num  teatro desempenha seu papel, sem se identificar com as personagens, sem se esquecer de quem  realmente é.

Quando o trabalho é executado apenas porque deve ser executado, sem vaidade ou egoísmo, traz redução da exploração, a cooperação toma o lugar da rivalidade e a eficiência não é comprometida, apenas os esforços estão direcionados no caminho certo. Como exemplo disso há  os escultores das catedrais, que trabalhavam por toda vida mantendo o anonimato nas artes que  faziam.


Trabalho Acadêmico de Viviane Cabral
http://www.fabioterapeuta.com.br/images/stories/TVP/Ramana-Maharish/Ramana-Maharish-Vida-e-Ensinamentos.pdf


Meditação Raja Yoga - Parte 7 - A segunda etapa: Niyama


A segunda etapa da Raja Yoga, conforme os Yoga Sutras de Patanjali, é o Niyama.

Niyama, do sanscrito "contenção", "observância", "regra", "restrição", "necessariamente" denota o dever ou obrigação adotado por um aspirante espiritual no caminho da Raja Yoga.

Segundo Patanjali são cinco as regras de observância:

Shaucha (Çauca): limpeza.

Da limpeza [Çauca] vem a indiferença ao próprio
corpo e o desinteresse por se misturar aos demais. 
(Yoga Sutras de Patanjali 2:40)


Santosha: contentamento.

Do contentamento vem a obtenção da mais elevada
felicidade [bem-estar].
(Yoga Sutras de Patanjali 2:42)


Tapas: sacrifício, austeridade, penitência.
Tapas traz a destruição das impurezas, o que leva à

perfeição dos sentidos do corpo [káya ]. (Yoga Sutra de Patanjali, 2:43)


Svadhyaya: auto-estudo das escrituras.

A busca do saber interior [svádhyáya ], orientada pela
presença divina, traz a integração mais elevada
[ samprayoga ]. (Yoga Sutra de Patanjali, 2:44)



Ishvarapranidhana: auto-entrega.

Da entrega ao  Íçvara, a perfeição no samadhi.
(Yoga Sutra de Patanjali, 2:45)


Swami Jnaneshvara Bharati


A Prática da Diligência - Parte 2 - Três formas de encarar o sofrimento


(...) Após uma análise mais aprofundada, a pessoa percebe que a causa real (ou força) que induz a essa diligência é o sofrimento. O relacionamento das pessoas com o sofrimento, desta forma, afeta a sua reação a ele, resultando em negligência ou cuidado. E mesmo as reações de cuidado variam em qualidade. Uma análise dessa dinâmica irá mostrar o valor da diligência (appamāda).

Há três maneiras de responder ao sofrimento:

1. Comportamento baseado no Sofrimento: algumas pessoas se entregam ao conforto e ao prazer, negligenciam suas responsabilidades, não consideram perigos potenciais, mas, ao invés, preferem esperar até que o perigo as confronte. Diante dos problemas e da necessidade, apressam-se para remediar a situação, às vezes com sucesso, outras vezes não.

2. Comportamento baseado no Medo do Sofrimento: algumas pessoas temem o sofrimento e a dificuldade e, assim, se esforçam para impedi-los. Embora as suas tentativas de garantir mais segurança sejam geralmente bem sucedidas, suas mentes são sobrecarregadas pela ansiedade. Além de temer o sofrimento, elas sofrem pelo medo e agem guiadas por essa fonte secundária de angústia.

3. Comportamento baseado no Conhecimento do Sofrimento: algumas pessoas refletem com sabedoria sobre como lidar com o sofrimento potencial. Elas não são intimidadas pelo medo, uma vez que compreendem a natureza das Três Características, pois reconhecem o perigo potencial. Elas investigam a dinâmica da mudança, baseando-se na consciência da impermanência e na liberdade e flexibilidade oferecidas pela característica de não-eu, para escolher o melhor caminho a seguir. Além disso, utilizam as experiências do passado como uma lição para evitar o sofrimento e para se orientar no sentido do maior bem possível. Vão sendo aliviados do tanto de sofrimento que estiver em suas capacidades, até o ponto de tornarem-se livres de todo sofrimento e ansiedade.

O primeiro tipo de comportamento é negligente; os tipos dois e três são condutas diligentes, mas o tipo dois é uma precaução alimentada por impureza e, portanto, ligada ao sofrimento. O tipo três, por outro lado, surge da sabedoria e, por isso, é livre de embaraços: nenhum sofrimento mental surge. Essa é a completa e adequada diligência que só um arahant pratica perfeitamente. A qualidade da vigilância das pessoas não despertas depende de sua capacidade de aplicar a sabedoria (em conformidade com o tipo três) e da redução do estresse causado pelo medo e pela ansiedade (do tipo dois).

Como descrito acima, as pessoas comuns não são as únicas suscetíveis à negligência; pessoas nos estágios iniciais do despertar podem ser descuidadas também.

A razão para essa falta de cuidado é o contentamento, a saciedade ou a complacência com respeito às qualidades excepcionais que atingiram. Elas deleitam-se na felicidade e no bem estar e abandonam o seu trabalho espiritual. Outra razão é porque perceberam as Três Características: elas têm uma compreensão profunda da mudança, se resignam com a condicionalidade e não estão preocupadas com a decadência e a separação. Devido a estas tranquilidade e resignação elas param; não mostram mais interesse e não fazem qualquer esforço para lidar com questões não resolvidas. Negligenciam as tarefas necessárias para a prevenção ou aprimoramento, permitindo que os problemas simplesmente se mantenham ou mesmo agravem-se.

Nesse caso, a realização do bem espiritual, ou da (inicial) libertação, é o motivo para o descuido. Esses indivíduos agem incorretamente, a sua prática é unilateral e incompleta, carecendo do esforço necessário para atingir o valor integral da diligência. Para corrigir essa situação, eles devem estar cientes de ambos os benefícios, o espiritual e o prático, e levá-los até a conclusão.



Ven. Ajahn Payutto


Meditação Raja Yoga - Parte 6 - A primeira etapa: Yama


Yama compõem a primeira etada do Caminho Óctuplo dentro da Raja Yoga, segundo os Yoga Sutras de Patanjali. Yama constitui uma regra ou código de conduta para viver com um estado de consciência virtuoso.  Eles definem como devemos orientar as nossas relações externas e internas.

Patanjali lista cinco Yamas em seu Yoga Sutras:

Yama é a não-agressão [ahi,sa], a autenticidade
[satya], o não roubar [asteya], a prática de uma vida
espiritualmente regrada [bráhmacarya] e o não cobi-
çar [aparigraha]. (Yoga Sutras de Patanjali, 2:30)


1. Ahimsa
Não violência, inofensividade, abster-se de agredir os outros, não causar dor aos demais seja por pensamentos, palavras ou ações
Com o estabelecimento da não-agressão [ahi,sa], a
inimizade desaparece das proximidades (Yoga Sutras de Patanjali, 2:35)

2. Satya
Verdade e correção. Aplicação dessas tanto aos pensamentos como às palavras.
Com o estabelecimento da autenticidade [satya], há o domínio sobre as ações e seus frutos. (Yoga Sutras de Patanjali, 2:36)

3. Asteya
Asteya refere-se a não roubar, não cobiçar, nem acumular, assim como não obstruir desejos de outras pessoas na vida.
Com o estabelecimento do não-roubar [asteya],  há  a presença de todas as coisas excelentes. (Yoga Sutras de Patanjali, 2:37)

4. Brahmacharya
Uma vida devotada à espiritualidade. Abstinência, particularmente no caso da actividade sexual. Implica necessariamente o celibato. Além disso, o comportamento responsável em relação ao nosso objetivo de avançar em direção à verdade. Ele sugere que devemos formar relacionamentos que promovam a compreensão das verdades mais elevadas. Praticar brahmacharya significa que usamos a nossa energia sexual para regenerar a nossa conexão com nosso eu espiritual. Isso também significa que nós não usamos essa energia em qualquer forma que possa prejudicar os outros.

Com a prática de uma vida espiritual [brahmacarya], a obtenção de vigor (Yoga Sutras de Patanjali, 2:38)


5. Aparingaha
Não possessividade, não realização através dos sentidos, não cobiça, não apego, não indulgência, não ganância. O termo normalmente significa limitar posses para o que é necessário ou importante.

Com o não cobiçar [aparigraha], a percepção correta do como e do porquê do nascimento. (Yoga Sutras de Patanjali, 2:39)

Swami Jnaneshvara Bharati

A Lei

Aquele que busca a Fonte, a ela chegará;
aquele que procura a Verdade, a encontrará;
aquele que se entrega ao Infinito, será por ele absorvido.

Mas, à Fonte, o buscador chegará
somente quando olvidar o que está procurando;
A Verdade ele a encontrará
apenas quando a busca não mais existir;
E o Infinito o absorverá em seu seio, quando ele, o homem,
entregar-se a transcendência em seu próprio ser.

Trigueirinho
Segredos Desvelados

Meditação Raja Yoga - Parte 5 - Caminho Óctuplo


A meditação Raja Yoga foi dividida por Patânjali em um caminho óctuplo.


  1. Yama: constituiu um código de conduta (moralidade).
  2. Nyama: observância religiosa, comprometimento com a prática, com o estudo e devoção.
  3. Asana: integração do corpo e mente através da atividade física.
  4. Pranayama: regulação da respiração promovendo a integração corpo e mente.
  5. Pratyahara: abstração dos sentidos, retirada dos sentidos de seus objetos de percepção.
  6. Dharana: concentração unidirecional da mente.
  7. Dhyana: meditação, estabilização da concentração.
  8. Samadhi: estado de consciência tranquila, superconsciente, absorvida.

Essas caminho não é linear, porém certas condições são necessárias para uma realização de uma determinada etapa. Por exemplo, não se alcança estados de concentração uni-direcionada se o praticante tiver problemas de conduta moral e de comprometimento com a prática. 


Swami Jnaneshvara Bharati



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