O Arco-Íris dos Cinco Elementos - Parte 1

Todo o Universo Manifesto, seja os fenômenos confusos do Samsara ou como as visões puras dos budas, é composto pelos cinco grandes elementos: terra, água, fogo, ar e espaço. Eles são materiais básicos da existência, mas não sãos os elementos comuns que experimentamos na vida diária. Os elementos vistos na natureza são apenas formas exteriores de qualidade sutis, elementais. Essas são as qualidades inerentes à mente desperta, manifestadas em todos os aspectos da vida: físicos, emocionais, mentais ou espirituais.

Os elementos e tudo que é composto por eles existem em três níveis: (1) grosseio (2) sutil (3) secreto.

O Nível Grosseiro

Se refere à realidade física de nossos corpos e ambiente. Tudo aquilo que é percebido pelos sentidos, incluso aquilo que é percebido por instrumentos. É a esfera da vida comum diária.

Nível Sutil

Além do plano de existência se encontram se encontram as qualidades imateriais dos elementos, que determinam seu funcionamento e manifestação no mundo exterior. É o nível sutil de energia. Não pode ser medido ou definido cientificamente

Dentro dessas duas dimensões está um aspecto contínuo do material para o sutil. A terra é o material mais denso e pesado, enquanto que o espaço é o mais fino e sutil. Cada elemento contém os outros cinco elementos em seu interior, portanto existem mundos dentro de mundos, todos interconectados e interdependentes.

Nível Secreto

É a dimensão mais interior e sutil de todas. Nada mais é do que a mente desperta, o estado último de vacuidade e luminosidade (sabedoria). A essência secreta dos cinco elementos é o princípio feminino da iluminação tomando a forma dos cinco budas femininos.


No sofrimento mais agudo
O remédio para o despertar
Na natureza da mente confusa
Todas as causas e condições
Que aprisionam e fazem sofrer
No silêncio, o estado puro
Não construído ou manipulado
Da Vontade a energia para ser Livre
Desprendedo-se do passado e do futuro
Da aniquilação do falso "eu"
O vislumbre do Verdadeiro
No retirar-se, o encontro com o Mestre
Em meio as tormentas e atribulações
O Silêncio e a descoberta da Paz
A Verdadeira e Luminosa Paz
Que sempre esteve dentro
E sempre foi buscada fora.

Gratidão na prática


Diariamente recebemos incontáveis coisas das pessoas, das organizações, do "universo" que, de uma forma ou de outra, sustentam nossa vida. Esta vai sendo mantida não somente por trocas, mas por doações, atos de gentileza e amor, desprovidos de expectativas ou necessidade de retorno.

Na trocas, nós damos ou fazemos algo e então recebemos. Na doação, nós recebemos sem ao menos ter feito nada em troca. Basta estar ali precisando e aberto para um ato de doação.

Receber e Doar...

Muitas vezes podemos nos encontrar em uma situação onde não temos condições de troca, seja material, seja de conhecimento ou bons sentimentos. Podemos estar afundados em confusão, tristeza, incapacidade intelectual, falta de recursos financeiros, etc o que aparentemente nos impossibilita de trocarmos qualquer coisa. Nesses momentos buscamos algo e invariavelmente encontramos alguma espécie de conforto gratuito, uma doação de alguma "boa alma" que dedica seu tempo, seus recursos financeiros, sua clareza mental, seus bons sentimentos e palavras para nos ajudar.

E então o tempo passa e saímos daquela estado onde estávamos. Já somos capazes de trocar novamente. Já somos também capazes de doar tempo, recursos financeiros, clareza mental, bons sentimentos e palavras. Não importa se ainda limitados, podemos fazer algo por alguém, assim como fomos ajudados ainda há pouco.

E eis que surge uma barreira a ser transposta: o egoísmo e aqueles fatores que derivam dele como apego, mesquinhes, sentimento de posse, individualidade, etc.

Uma barreira a ser transposta...

Quando surge essa barreira, é o momento de pensarmos se vamos dar um passo à frente em nossa existência ou vamos continuar no mesmo movimento, onde ora temos mais do que precisamos e não ajudamos ninguém; ora estamos em apuros e aproveitamos da bondade de outrem; perambulando entre a mesquinhes e a mendicância, escravos de um ego que nos prende no egoísmo e ingratidão pelas coisas que nos sustentam.

Doar é uma prática de gratidão por essas estruturas que nos acalentam nos momentos que precisamos. Pode ser um hospital, um Álcoolicos Anônimos, uma Igreja, um grupo de estudos, uma ONG, um projeto social qualquer. Seja qual for a estrutura, ela está ali trazendo benefícios para pessoas nos momentos que elas mais precisam e muitas vezes somos nós quem as procuramos. Entender que essas estruturas precisam de sustento e não existem sem a intenção e gratidão das pessoas é um passo rumo a superação da visão estreita de nossos egos.

Doar enriquece...


Quando queremos o bem dos demais e não apenas o nosso, nos livramos aos poucos da tendência de auto-centramento. Doar tempo, clareza mental, bons sentimentos, palavras e principalmente dinheiro - que é um recurso importante em termos materiais - constitui  a prática da gratidão e da compaixão pelos demais seres.

Não precisamos ganhar na loteria ou ficarmos milionários para praticarmos a doação. A doação é um ato que contradiz a lógica econômica onde ficamos mais pobres quando nosso dinheiro se vai. Pelo contrário. É um ato onde quem doa, "enriquece" tanto ou mais do que aquele que recebe. Enriquece no treinamento do desprendimento, do altruísmo, da benevolência, da compaixão por tudo e por todos e do entendimento que o dinheiro é uma consequência e não uma causa de nosso bem estar e equilíbrio material e espiritual.

Doemos! Sem dor!

Elogio e crítica: coisas diferentes ou iguais?


Em meio às ações de nossa vida diária, estamos invariavelmente lidando com algo que surge em nós -  muitas vezes sem que tenhamos consciência disso - que é uma espécie de necessidade de que o outro olhe para o que estamos fazendo e então reconheça. Esse olhar, porém, é livre e ao se processar pode produzir distintas ações, desde uma gentil congratulação até uma crítica agressiva.

Se observarmos bem, tanto elogio quanto a crítica são coisas semelhantes. São formas de reconhecimento, onde aquele que vê, irá julgar o que está vendo em uma escala de qualidade. Caso goste, irá elogiar. Caso não goste, irá criticar. Caso não ache nada, pode não dizer nada conclusivo.

O problema não está em si na liberdade de quem julga o que fazemos, mas sim na nossa tentativa de controlar esse julgamento ou esperar que ele seja sempre positivo. É natural nossa tendência de acharmos que fizemos o melhor que poderíamos, assim como é natural o outro não ter a mesma percepção.

Esperar ser reconhecido apenas com elogios é uma ilusão. Tentar sustentar essa ilusão é criar sofrimento para si próprio e evitar situações onde fatalmente seremos criticados.

A crítica muitas vezes se coloca como construtiva, por ser uma tentativa de elevar um padrão de qualidade de nossas ações. Mas toda crítica pode se tornar destrutiva, quando nossa única expectativa é sermos elogiados. E o que ela destrói na realidade? A nós? Ao nosso trabalho? Ou a nossa ilusão de que tudo será elogiado, de que tudo que fazemos é bom, perfeito e adequado?

Quando nos apegamos a uma ilusão, fatalmente algo aparecerá para destruí-la. E se sofremos, é um bom sinal de que estávamos tentando sustentar algo ilusório. Se recebemos o que quer que seja, e tentamos assimilar, temos melhores condições de ver as coisas com lucidez e não da forma como gostaríamos ou achamos que as coisas são.

O elogio seria um reconhecimento (+), ao passo que a crítica seria um reconhecimento (-). Assim como pode haver um reconhecimento neutro. Se apenas aceitarmos reconhecimentos positivos estaremos fadados a sofrer duas em cada três vezes que esperarmos por reconhecimento.

Pensemos nisso.

um estudante


INFINITAMENTE: a mente e sua capacidade de criação infinita


Você já parou para observar a capacidade de criação que sua mente possui? Sim, a sua mente! Não precisamos ser um grande músico, cientista, artista ou escritor para criarmos. Nós criamos diariamente nossa realidade, nosso mundo particular, nossos dramas e estórias. Pintamos essas estórias com a energia de nossas emoções e num passe de mágica tudo parece tão real!

Somos os atores de nossas próprias peças e encenamos muitas vezes com grande perfeição. As pessoas ao nosso redor (esposa, marido, filhos, amigos, colegas de trabalho) por vezes até participam de algumas cenas e dão um ar de realidade ainda maior.

Quem criou isso tudo?

Se você se sentiu um pouco estranho ou incomodado de ler essas últimas frases, proponho um exercício de observação. Pegue algum evento de sua vida que esteja atualmente em foco. Observe-o. Veja cada detalhe, seu histórico, as emoções que você colocou e sentiu através dele, suas projeções de como ele vai se desdobrar e suas projeções iniciais (expectativas). Tente abstrair e responda pra você mesmo uma pergunta: "Quem criou tudo isso?"

Quando damos a oportunidade dessa auto-observação acontecer, podemos nos surpreender com o nível de criação que possuímos e de que forma utilizamos essa capacidade livre e criadora de nossas mentes. Do contrário, se nos fechamos para esta auto-observação, estamos negando que somos criadores de nossas realidades e vamos depositar as causas em outras coisas ou pessoas. A responsabilidade da criação é de cada um, quer a reconheçamos ou não.


Condicionamentos...


É claro que em nossas criações e nas peças que encenamos, estamos sujeito a condicionamentos. Nossa liberdade é restringida por diversos fatores como cultura, crenças, influência do meio em que estamos, apegos, expectativas, influência das pessoas com que nos relacionamos, entre outros fatores. Porém no que diz respeito a nossa criação, existe sim a possibilidade de uma liberdade infinita. No melhor uso dessa capacidade é que podemos concentrar nossa atenção e esforços para vivermos melhor.


Observe-se


A observação é o pré-requisito para conseguirmos identificar essa capacidade livre e criadora da mente.  Com a observação vamos compreendendo passo-a-passo como usamos essa capacidade o que nos dá a possibilidade de irmos experimentando novas formas de a utilizarmos, isto é, criarmos e atuarmos em meio ao mundo em que vivemos.

Observe-se!  Sinta a imensa liberdade e capacidade de criação que está ao seu alcance!

Sejamos Paz


Não haverá PAZ
Enquanto buscarmos fora
O que já temos dentro

Não haverá PAZ
Enquanto estivermos fora
De nosso "centro"

Não haverá PAZ
Enquanto criarmos separações
Entre nós e nosso irmão

Não haverá PAZ
Enquanto nossas mentes estiverem
Desatentas e em confusão

Não haverá PAZ
No orgulho de sermos melhores
Ou na inveja quando sentimo-nos inferiorizados

Não haverá PAZ
Na crítica constante ao outro
No ódio, na raiva e desgostos externalizados

Não haverá PAZ
Na falta de gentileza, no grito
e na aspereza dos gestos impulsivos

Não haverá PAZ
Naquele que gera sofrimento
Para si e para os outros seres vivos

Não haverá PAZ
Na busca infinita da acumulação
De bens e  conhecimento na forma teórica

Não haverá PAZ
Na palavra vazia e sem força
Pela falta de prática e excesso de retórica

Não haverá PAZ
No julga-los ou julgar-se
Mas no observa-los e observar-se

Não haverá PAZ?
Haverá PAZ!
PAZ!

Afinando pianos



Quando era criança e ia passar férias com meu pai, o acompanhei algumas vezes em um trabalho que ele fazia: afinar pianos. Para afinar pianos geralmente se usa um diapasão. O diapasão (veja imagem) consiste em um metal. Esse metal ele fazia soar uma determinada corda ou batia nela e colocava o diapasão no ouvido. Em seguida ia afinando a corda, repetindo esse processo inúmeras vezes.

Não me recordo bem o processo pois realmente ainda era bem pequeno (entre  7 e 9 anos) e existia uma técnica ali que eu não conseguia entender, mas de fato o diapasão é um instrumento que recebe a vibração externa e vibra na mesma onda.


Escutando um ensinamento de um Lama ele citou o diapasão e suas propriedades e fez uma analogia com nosso comportamento e como influenciamos as pessoas em volta. É como se fôssemos a corda do piano que produz o som e o outro fosse o diapasão.

Ora somos corda, ora somos o diapasão. Ora estamos recebendo vibrações, ora estamos emitindo vibrações. Essas vibrações podem se afinar com o tempo, como no processo de afinação de um piano, pela mera coexistência em um mesmo espaço e tempo.

Por exemplo, uma pessoa se muda para outro estado. Logo ela estará exposta a outra cultura, costumes, etc. No começo vai soar meio estranho os sotaques, mas depois de um certo tempo eles “ressoam” de forma mais familiar, até que acontece uma “afinação” da pessoa em relação ao meio onde ela está, assim como ela também está influenciando seu meio.

Estar atento e desperto, nos permite a visão necessária para percebermos o quanto influenciamos e somos influenciados pelos ambientes, pessoas e eventos à nossa volta. Em uma natureza toda interligada e interdependente, soamos e ressoamos vibrações constantemente.

Assim como precisamos filtrar aquilo que vem de fora e nos causa algum tipo de problema, também precisamos ter o cuidado com o que produzimos. Somos responsáveis pelos“sons” que produzimos pois eles ressoam e moldam o nosso entorno e a realidade que percebemos.

Afinar nossos “pianos” portanto é uma arte, que requer atenção, observação e um longo aprendizado através da vida. 


um estudante

Corromper e ser Corrompido


No nosso mundo cíclico (samsara) isto é no mundo criado pela consciência do corpo (afastada de nossa natureza primordial), existe uma propensão de colocarmos as coisas em "escala", isto é, classificar as coisas como: isso é ruim, aquilo é um pouco melhor, aquilo outro é bom e aquele lá é excelente.

Essas graduações de qualidade ainda que existam em termos mais sutis de vibração, no nosso mundo, regido pela ignorância, podem causar diversos problemas.

Quando colocamos alguém ou alguma pessoa acima de nós mesmos, ou abaixo de nós mesmos, estamos propensos a criar sofrimento.

A pessoa que é considerada acima, pode criar soberba, orgulho, vaidade e portanto ser CORROMPIDA.

A pessoa que se considera abaixo, pode criar em si, o desejo de vir a ser (que pode ser positivo ou não), a inveja (que é o desejo de vir a ser mal orientado) como também estar camuflando um mecanismo do ego que lá na frente vai lhe colocar na posição de ser corrompida também.

Quem CORROMPE fortalece no outro as ervas daninhas de sua auto-imagem e portanto está lhe causando indiretamente as causas de seu sofrimento. Um exemplo: uma pessoa faz uma plástica e rejuvenesce. Nós a vemos e falamos "nossa que linda que você ficou!". Ainda que esse elogio seja realmente baseado na nossa percepção, isso vai causar vaidade na outra pessoa. Daqui alguns anos  sua pele estará novamente enrrugada, ela se olhará no espelho, o sofrimento brotará e ela irá desejar novamente por uma plástica. Assim como nós podemos desejar passar pelo mesmo.

CORRUPÇÃO = CORROMPIDO + AQUELE QUE CORROMPE

Estamos acostumados a ouvir essas duas palavras no sentido de corrupção de dinheiro público, ou de funcionários públicos. Nesse caso o mecanismo é o mesmo: aquele que "corrompe" também fortalece o "corrompido". O sucesso daquele que é corrompido (seu dinheiro, poder, etc) gera atração naquele que corrompe ou que apenas observa. Isso gera tentativas de pessoas serem os CORROMPIDOS e por isso elas corrompem, pois no inconsciente estão desejando ser aquele que é corrompido.

Isso pode ser muito grosseiro como uma pessoa que paga para um político para lhe dar benefícios para sua empresa por exemplo, mas na maioria das vezes é muito sútil e bastante presente no nosso dia-a-dia.

As diferenças de qualidade rotuladas incorretamente por nossa ignorância coletiva, causam conflitos, disputas, competições e guerras. São essas diferenciações de qualidade que colocam pessoas despreparadas no poder. É essa mesma corrupção, causada pelo comportamento humano, que gera a devoção a líderes negativos, líderes religiosos, que criam impérios para escravizar pessoas.

Temos que tomar cuidado com nossa devoção mal direcionada, pois ela é a consequência de nossa incorreta percepção da "qualidade" de algo ou de alguém. E quando embarcamos nessa de perceber algo ou alguém como alguma coisa superior, estamos no caminho de devocionar cegamente e portanto cair na armadilha do "corromper" e ser "corrompido".

Nós temos uma natureza de paz e luz que desconhecemos. Portanto projetamos para fora perfeições e qualidades que julgamos positivas, mas que pensamos não possuir. E nessa invariavelmente vamos encontrar algo que nos atraia e vamos depositar nisso esperanças, projeções, etc.

O cuidado a ser tomado é o de não corromper pessoas ou grupos de pessoas, depositando nelas nossas projeções. Precisamos sempre ter essa atenção, para não alimentarmos a vaidade no outro e o desejo ou inveja em nós mesmos.

um estudante

Atenção Plena na superação do sofrimento


O Buda depois de abandonar sua vida de príncipe, renunciar a tudo e meditar por 6 anos,  tendo vivido segundo se acredita por Eons (incontáveis vidas) enfim se iluminou.

Ele então pronunciou em seus primeiros discursos as Quatro Nobres Verdades e um caminho de prática de oito passos (Caminho Óctuplo).

Esse ensinamento de forma resumida dizia:
1) O sofrimento existe (realidade do sofrimento)
2) Ele surge de nossa falta de lucidez ou ignorância (origem do sofrimento)
3) O sofrimento pode ser cessado (cessação do sofrimento)
4) Há o caminho para sua cessação (o caminho de oito passos)

2600 anos depois vivemos em um planeta onde pessoas sofrem por todos os cantos, quase 24 horas por dia, pelos mais variados motivos. O sofrimento não só é uma realidade, mas parece ser a tônica da vida global, onde pessoas sofrem, fazem sofrer e compartilham seu sofrimento.

Somos parte desse contingente de sofredores, que até mesmo acostumaram a confundir prazer com sofrimento, vício com virtude e tantas outras confusões, até mesmo se orgulhando  ou vitimizando-se pelo sofrimento que passam.

NÓS CRIAMOS TUDO ISSO

Precisamos olhar para isso com sinceridade. Precisamos entender quantas ações e pensamentos geradores de sofrimento, em diversos níveis, cometemos durante um simples dia. É só através da observação consciente que podemos nos deparar de frente com nossas tendências de produzir incessantemente sofrimento, do contrário nem os percebemos.

Os sofrimentos podem ser os mais grosseiros como a dor, até os mais sutis, como a angústia, a ansiedade o a sensação de vazio. O sofrimento pode se dar das mais variadas formas e todas elas são causadas. E onde está a causa?

Um exemplo simples de sofrimento sendo causado. Uma pessoa vai atravessar a rua, o sinal está fechado para pedestres mas ela avança. De repente vem um carro que precisa frear. Outras pessoas também estão presenciando a situação. Quem atravessou, quem estava dentro do carro, quem estava em outros carros e até mesmo quem só observava sofreram naquele momento, mesmo que por uma fração de segundo.

São esses sofrimentos, grosseiros ou sutis, que ocorrem em profusão no nosso dia-a-dia, espalhando sofrimento para todos que estejam ao redor.


NA IGNORÂNCIA, CULPE O OUTRO

A ação mais comum, em meio a falta de lucidez ou ignorância - somada a não observação da conduta pessoal própria - é transferir a responsabilidade da causação do sofrimento, para o OUTRO. O outro é responsável pelo meu sofrimento. O outro pode ser o pai, o filho, a mãe, o namorado, o avô, o juiz, o deputado, o zelador, o guarda, o motorista, etc, etc.

O outro, assim como eu ou você, está tentando ser feliz. Mas nessa tentativa de ser feliz, assim como eu e você, pode se utilizar de meios inábeis, ignorantes e por tanto egoístas. E se o OUTRO age movido por sentimentos parecidos com os meus, na realidade o OUTRO é igual a MIM. O OUTRO sou EU MESMO!

Não há outro. Há apenas a constante fuga e a tentativa de nós mesmos de transferirmos nossa responsabilidade pelo sofrimento que sentimos e que espalhamos, substituindo a atenção em mim, pela atenção no outro.

Sendo assim, um dos antídotos que o Buda deixou em seu caminho óctuplo era "Atenção Plena". Isso também foi dito por Jesus Cristo em diversos ensinamentos "observai", "não faça ao outro aquilo que não gostaria que fosse feito para você", "ame o outro como a si mesmo". Tantos outros mestres em diversas tradições religiosas deixaram exemplos semelhantes.

Essa atenção, esse vigiar próprio, é uma forma de olharmos melhor para nós mesmos e deixarmos que o outro também faça sua parte.

Se pararmos de causar sofrimento para nós e para os outros, isso já é, por si só, a nossa iluminação. Todos nós temos essa possibilidade, basta transformarmos nossos sofrimentos em aprendizado, de forma consciente, através da atenção plena voltada para nossa própria ação em meio ao mundo e as relações com os demais.

Só assim poderemos superar, passo-a-passo, a falta de lucidez ou a ignorância, que é o combustível para todo o sofrimento humano.


Um estudante

Morrer para Nascer

Não obstante vosso interesse por esses temas, damo-vos o se­guinte conselho: não desperdiceis vosso tempo e vossa energia na busca de livros ou de escritos, dos quais esperais encontrar uma eventual libertação. O Tao não pode ser expresso por palavras nem por escritos. O Tao, a senda, o caminho, pode unicamente ser vivenciado.

Estas poucas indicações mostram, em toda a sua crueza, a penú­ria do conhecimento e do raciocínio, a pobreza da compreensão intelectual e a estupidez da consciência cerebral.

Nada podeis saber, possuir e compreender que tenha valor, antes que tenhais morrido para esta natureza, antes que a tão perniciosa ilusão-eu tenha se extinguido em vosso microcosmo.* Enquanto permane­cerdes diante disso, continuareis profanos, ímpios e, consequen­temente, imaturos, e, no final, fixar-vos-eis na razão obscurecida, e nada tereis, absolutamente nada.


J. van Rijckenborghe
e Catharose de Petri

A Gnosis Chinesa

Liberdade e Prisão


Tudo aquilo que contribui para fortalecer o ego
fortalece as grades da prisão
onde mente e coração vivem
confusos e perdidos

Tudo aquilo que contribuiu para enfraquecer o ego
enfraquece as grades da prisão
onde a mente e o coração vivem
confusos e perdidos

Cada ação
Cada pensamento
Cada sentimento
Podem libertar ou prender
Podem enfraquecer ou fortalecer o nosso ego
Essa é a grande e maravilhosa escolha na vida.

Obs: o ego pode ter vários nomes > "eu", "identidade", "personalidade", "consciência do corpo", "pecador"...

Um estudante

Oco como bambu

Cesse toda atividade física: sente-se naturalmente à vontade.
Não converse ou fale: Deixe o som ser vazio, como um eco.
Não pense em nada: Veja a experiência além do pensamento.

Seu corpo não tem nenhum núcleo, oco como bambu.
Sua mente vai além do pensamento, aberto como o espaço.
Solte-se do controle e descanse ali.

Mente sem projeção é mahamudra.
Treine e desenvolva isto e você surgirá em um profundo despertar.


Tilopa

Auto-centramento: uma bolha limitadora

(...) Auto-centramento não é uma boa expressão. Auto-centramento significa bolhas estreitas de diversos tipos.

Na nossas ações no mundo nós podemos trabalhar com bolhas estreitas. Bolha estreita é o seguinte: “aquilo que acontece dentro do meu carro eu razoavelmente me interesso. O que não me interesso eu jogo para fora do carro. O que está pra frente no tempo ou pra trás no tempo também não me interessa. O que me interessa é aquilo, limitado. Então o que eu faço que produz consequências para frente no tempo ou aquilo que está para traz que pode me apoiar eu nem vejo. Eu só olho assim, como um fogo que queima, uma coisa local”.

Outras pessoas ao contrário pensam com sentido de gratidão pelo que veio antes e olham com cuidado para os que vem depois. Elas olham consigo e o que acontece com os outros ao redor agora. Isso é uma inteligência maior, no mínimo uma bolha maior, uma bolha mais cuidadosa.

Quando nós temos uma percepção mais ampla nossa vida fica melhor, quando temos uma percepção mais estreita, auto-centrada, nós vamos acabar com problemas.

Se vocês olharem, por exemplo, as plantas, elas tem um sentido muito interessante. Se vocês tentarem olhar a inteligência delas, elas são apenas benignas. Elas se expandem calmas, serenas, são capazes de estar numa grande avenida barulhenta, elas apenas se expandem, olham pro sol, se ampliam, produzem sombra, melhoram o ar, acolhem os pássaros,  elas seguem fazendo a parte delas.

Se nós pensarmos que elas tem uma “mente ampla” isso seria a grande mente de um grande mestre, sereno no meio da grande  confusão.

Por outro lado se pensarmos que elas tem uma mente estreita, elas estão dentro de uma bolha onde só fazem a mesma coisa não importa o que acontece. Felizmente é uma coisa benigna não é, mas em princípio, elas não tem a capacidade de socorrer alguém, gerar uma intencionalidade, entender o outro no mundo dele e atuar. Mas o seres humanos tem essa possibilidade.

Porém o ser humano também pode se transformar em seres “parados” dentro das bolhas olhando um jogo estreito. Dentro desse jogo estreito para poder mantê-lo eles vão se prender.


Lama Padma Samten

Seres Complexos. Dificuldades simples.


Imagine se esse Planeta fosse um grande ser vivo. Imaginou?

Sendo esse Planeta um grande ser vivo, imagine se nós humanos fôssemos células desse grande ser vivo. Consegue imaginar?

Agora vamos fazer uma analogia.

Nosso corpo é um ser vivo, composto por células.  Cada uma dessas células tem uma certa especialização, isto é, uma MISSÃO a cumprir dentro daquele sistema em que ela se encontra.

Células do sistema de defesa precisam encontrar intrusos e combate-los. Células do sistema nervoso, levam impulsos para todas as partes do organismo e permitem que ele se mova 24 horas por dia, 7 dias por semana, 365 dias por ano. E assim por diante... Cada simples e única célula tem seu trabalho a ser feito. E muitas delas cooperam para que esses trabalhos possam ser concluídos da forma correta.

Agora imagine você como uma célula dentro desse organismo maior chamado TERRA.

E pense nos momentos em que você faz seu trabalho mal feito, ou tem dificuldades de realizá-lo por causa de uma outra pessoa (célula), ou quando você quer que seu trabalho seja mais reconhecido que os demais, ou quando você julga uma outra célula, ou quando você não quer trabalhar com uma outra célula por não terem afinidade, ou quando você acha que deve ganhar mais que uma outra célula, ou quando você cria confusões e atrapalha as demais células, e coisas semelhantes.

Agora imagine se as células do nosso corpo trabalhassem dentro de um mesmo estado de "SEs" (condições) e "PORQUES" (justificativas para fazer ou não fazer algo). O que seria de nós?

Talvez apareceria um buraco na nossa pele. Ou cairiam pelos de uma parte apenas do corpo. Ou talvez o intestino parasse por alguns dias, em uma greve das células digestivas que reivindicam melhores condições do que as células neuronais que gastam mais energia e "trabalham menos".

Ok, você pode me dizer: "mas somos seres com pensamentos, com consciência, com emoções... as células são mecanismos mais simples". Sim podemos cair nesse campo das comparações, já que estamos fazendo analogias. Mas o fato é poderíamos no concentrar em refletir sobre uma única questão:

"Somos seres muito mais complexos e com dificuldade de fazer coisas muito mais simples."

Na minha visão, se cada uma de nós iniciasse uma reflexão individual sobre seu papel em um organismos maior (Terra) e como vem cumprindo esse, bem como de nossa interdependência com todos os demais seres - com suas respectivas especializações (as células desse organismo) - teremos mais condições de criar realidades melhores para esse organismo onde vivemos.

Cooperar, ajudar, tentar sempre fazer o melhor naquilo que é nosso trabalho, trabalhar em si próprio na eliminação dos medos e dificuldades auxiliando os demais (através de nossas próprias experiências ao invés de teorias inócuas), seriam preocupações mais alinhadas com essa visão de que todos fazemos parte de um grande TODO.

A qualidade do funcionamento desse grande todo, depende da qualidade do funcionamento e interação de cada simples parte: eu, você, sua família, seu vizinho, o cobrador de ônibus, o presidente de empresa, o juiz, o mendigo, etc.

Um Estudante

A Motivação através dos Quatro Pensamentos que Transformam a Mente


Objetivo: Brotar em cada um a vontade de avançar no caminho.

Quando a nossa vontade flutua, quando nos arrastamos para paisagens flutuantes, precisamos retomar o foco e motivação.

Aquilo que está mais na base são os quatro pensamentos que transformam a mente. A gente escuta “bom fazer o que é real isso, não tem escapatória”:

1.       Tenho uma vida humana preciosa

2.       Os Ensinamentos existem

3.       A impermanência (mudança constante) das coisas existe

4.       Eu tenho estruturas cármicas vivas, tenho estruturas cármicas latentes ou carmas primários, quando isso aflora inevitavelmente faço coisas equivocadas que eu me dou conta depois; isso produz sofrimento para mim e para os outros; estou preso nessa experiência cíclica, eu tento fazer coisas melhores, faço e depois afundo para coisas piores e vou oscilando.

Logo é necessário aproveitar o tempo.

Então de novo e de novo voltamos pra esse ponto.

Esse é um raciocínio auto-centrado (os 4 pensamentos que transformam a mente): “eu aquilo, eu isso, eu tenho essa vantagem vou aproveitar isso ou aquilo”

Por que esse pensamento auto-centrado é útil? Porque quando nós estamos em crise estamos auto-centrados. Então temos que falar dentro de uma linguagem auto-centrada. Mas se vocês observarem esse pensamento auto-centrado logo em seguida ele se amplia. Quando entendemos isso logo fazemos o voto de beneficiar os seres.

Então a motivação inclui isso, essa retomada e quando entendemos o que significa o “andar” nós nos interessamos de uma forma mais ampla pelos seres. A compaixão é muito importante pelo que nós podemos fazer pelos outros seres, mas especialmente, a compaixão é importante por que nós abrimos nosso horizonte. Nós estamos auto-centrados e fechados e isso já faz parte de uma estrutura de ignorância que nos conduz aos infernos, ao sofrimento direto. Então nós precisamos abrir isso um pouco.

A primeira forma de abrir é ser capaz de ver os outros seres, especialmente aqueles mais queridos que nós temos mais contato.

Se o nosso olho alcança os OUTROS o que acontece?  Nós saímos do peso do auto-centramento. Auto-centramento é um peso.   Muitas pessoas pensam que é uma grande inteligência ficar auto-centrado, mas é o caminho do inferno. Ali dentro não se vai a lugar nenhum.

Naturalmente nossa mente é ampla. Ela pode se prender à paisagens e bolhas estreitas. O auto-centramento é uma bolha. Nós somos capturados por uma paisagem limitada. Ela dá problemas. Dá problemas em várias direções.

Uma percepção mais ampla, torna nossa vida melhor. Uma percepção mais estreita, nos limita e traz sofrimentos.

Estar em uma bolha estreita nos leva a fazer sempre as mesmas coisas, limitados, estreitos pela limitação que nós próprios criamos.

A motivação é muito importante pois ela nos faz ter vontade de ampliar essa visão.


Padma Samten

Fragmento de uma conversa sobre Medo e Trabalho

Alejandra Caballero

(...) Quando você tira o mimimi, a birrinha, ou seja, o controle do emocional sobre a situação você dá à mente (intelecto) o controle sobre a situação e a vê de forma mais clara e racional.

Colocado isso para um terceiro fica mais fácil de ele compreender. Com carga emocional (sua) ele possivelmente não entenderia pois ele não tem essa carga com ele.

O não envolver-se é na questão de resultado das ações e principalmente no aspecto emocional. Mas nas ações em si, cabe sim a você desenvolver seu papel. Você deve envolver-se mentalmente nessas situações e a partir daí influenciar esses eventos de forma a elevá-los. Se pensar somente sob um prisma egoísta e limitado, os problemas irão se avolumar e o aprendizado ficará estagnado em um mesmo ponto. Se ampliar seus propósitos, se for mais inclusiva, sua consciência abre um pouco mais e você consegue entender melhor certos aspectos.

O difícil e o fácil são situações vividas pelo nível em que sua consciência está. Quando lhe falta EXPERIÊNCIA e VISÃO, certamente você classificará aquilo como difícil. Quando ainda lhe falta EXPERIÊNCIA mas já há um pouco mais de VISÃO, você entende que pode tirar aquilo de letra. 

Pense e coloque essas situações sob a LUZ.

O que é Paz


Paz é algo que muitos de nós buscamos e ansiamos em nossas vidas, mas o que é afinal a Paz?

A paz hora é definida como um estado de não violência, de não guerra, hora é confundida com a satisfação dos desejos humanos que culminam em alegria, ainda que esta seja quase sempre passageira.

Paz, todavia, é algo que está além dos desejos e das aversões humanas. A verdadeira Paz nasce quando superamos aquilo que chamamos sinteticamente de medo. Sinteticamente, pois medo pode significar muitas coisas.

O estado de Paz é alcançado sempre que nossas ações não são conduzidas pelo medo. Assim, por exemplo, se eu não tenho medo de perder algo, eu não me agarro à isso, não crio formas de protegê-lo, não usarei da violência para sua preservação, nem desejarei que outros usem.

Uma situação extrema do cotidiano humano pode ser utilizada como exemplo: o assalto. Muita da Paz que ansiamos reside no medo de perdermos aquilo que temos de forma violenta. O que seria o assalto senão o meio pelo qual isso ocorre? O assalto por tanto é aquilo que tira a Paz do cidadão, por infringir-lhe: (a) uma perda (b) de forma muitas vezes violenta. O medo de um assalto portanto, nos retira a Paz. Portanto a Paz se perde, antes mesmo de qualquer ação concreta. Podemos passar anos andando pelas ruas sem sermos assaltados, mas se o medo estiver conosco, não teremos Paz. Assim como poderemos tomar precauções baseadas nesses medo ou incentivar ações violentas para que o medo que sentimos seja amenizado.

Esse é um exemplo. Outros tantos poderiam ser colocados. A Paz é uma quimera na sociedade atual, pois o medo é uma grande e presente realidade nos corações e mentes de todos.

O medo produz comportamentos individuais e coletivos que só fortalecem a sensação de medo e enfraquecem a verdadeira noção de Paz.

A Paz começa dentro de cada um de nós, assim como o medo. Reflita sobre as ações que comete por medo e reflita como poderia transformá-las em ações sem medo e portanto de Paz. Pratique.

Um Estudante

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