O Buda depois de abandonar sua vida de príncipe, renunciar a tudo e meditar por 6 anos, tendo vivido segundo se acredita por Eons (incontáveis vidas) enfim se iluminou.
Ele então pronunciou em seus primeiros discursos as Quatro Nobres Verdades e um caminho de prática de oito passos (Caminho Óctuplo).
Esse ensinamento de forma resumida dizia:
1) O sofrimento existe (realidade do sofrimento)
2) Ele surge de nossa falta de lucidez ou ignorância (origem do sofrimento)
3) O sofrimento pode ser cessado (cessação do sofrimento)
4) Há o caminho para sua cessação (o caminho de oito passos)
2600 anos depois vivemos em um planeta onde pessoas sofrem por todos os cantos, quase 24 horas por dia, pelos mais variados motivos. O sofrimento não só é uma realidade, mas parece ser a tônica da vida global, onde pessoas sofrem, fazem sofrer e compartilham seu sofrimento.
Somos parte desse contingente de sofredores, que até mesmo acostumaram a confundir prazer com sofrimento, vício com virtude e tantas outras confusões, até mesmo se orgulhando ou vitimizando-se pelo sofrimento que passam.
NÓS CRIAMOS TUDO ISSO
Precisamos olhar para isso com sinceridade. Precisamos entender quantas ações e pensamentos geradores de sofrimento, em diversos níveis, cometemos durante um simples dia. É só através da observação consciente que podemos nos deparar de frente com nossas tendências de produzir incessantemente sofrimento, do contrário nem os percebemos.
Os sofrimentos podem ser os mais grosseiros como a dor, até os mais sutis, como a angústia, a ansiedade o a sensação de vazio. O sofrimento pode se dar das mais variadas formas e todas elas são causadas. E onde está a causa?
Um exemplo simples de sofrimento sendo causado. Uma pessoa vai atravessar a rua, o sinal está fechado para pedestres mas ela avança. De repente vem um carro que precisa frear. Outras pessoas também estão presenciando a situação. Quem atravessou, quem estava dentro do carro, quem estava em outros carros e até mesmo quem só observava sofreram naquele momento, mesmo que por uma fração de segundo.
São esses sofrimentos, grosseiros ou sutis, que ocorrem em profusão no nosso dia-a-dia, espalhando sofrimento para todos que estejam ao redor.
NA IGNORÂNCIA, CULPE O OUTRO
A ação mais comum, em meio a falta de lucidez ou ignorância - somada a não observação da conduta pessoal própria - é transferir a responsabilidade da causação do sofrimento, para o OUTRO. O outro é responsável pelo meu sofrimento. O outro pode ser o pai, o filho, a mãe, o namorado, o avô, o juiz, o deputado, o zelador, o guarda, o motorista, etc, etc.
O outro, assim como eu ou você, está tentando ser feliz. Mas nessa tentativa de ser feliz, assim como eu e você, pode se utilizar de meios inábeis, ignorantes e por tanto egoístas. E se o OUTRO age movido por sentimentos parecidos com os meus, na realidade o OUTRO é igual a MIM. O OUTRO sou EU MESMO!
Não há outro. Há apenas a constante fuga e a tentativa de nós mesmos de transferirmos nossa responsabilidade pelo sofrimento que sentimos e que espalhamos, substituindo a atenção em mim, pela atenção no outro.
Sendo assim, um dos antídotos que o Buda deixou em seu caminho óctuplo era "Atenção Plena". Isso também foi dito por Jesus Cristo em diversos ensinamentos "observai", "não faça ao outro aquilo que não gostaria que fosse feito para você", "ame o outro como a si mesmo". Tantos outros mestres em diversas tradições religiosas deixaram exemplos semelhantes.
Essa atenção, esse vigiar próprio, é uma forma de olharmos melhor para nós mesmos e deixarmos que o outro também faça sua parte.
Se pararmos de causar sofrimento para nós e para os outros, isso já é, por si só, a nossa iluminação. Todos nós temos essa possibilidade, basta transformarmos nossos sofrimentos em aprendizado, de forma consciente, através da atenção plena voltada para nossa própria ação em meio ao mundo e as relações com os demais.
Só assim poderemos superar, passo-a-passo, a falta de lucidez ou a ignorância, que é o combustível para todo o sofrimento humano.
Um estudante