O maior medo que cada um de nós consegue transportar é o medo de si mesmo, o medo dessa região tenebrosa ou sombria dissimulada atrás de cada um dos nossos instintos, emoções, pensamentos e sentimentos, o medo desse pouco confessável ou ignoto território que, por falta de coragem para o afrontarmos face a face, nos condiciona numa contínua fuga para diante de onde resulta toda a avidez e violência, mas também todas as aparências de virtude e santidade, todos os disfarces de amor e compaixão, todos os projetos de salvação universal, com que impregnamos e iludimos o mundo, a começar por nós mesmos.
É nessa treva ou sombra que se oculta o infinito luminoso que somos, o fundo comum e os confins sem fim de todos os seres e coisas.
Ter a coragem de atravessar e iluminar essa floresta escura, com mais monstros do que todas as mitologias planetárias, numa jornada solitária e nua, sem armas, escudo ou armadura, com o propósito de libertar o universo da nossa ignorância e um dia regressar para incitar os outros à mesma empresa, é a maior realização a que podemos aspirar.
Comparada com ela, a história das civilizações, as conquistas tecnológicas e as viagens espaciais são meros e fúteis jogos de crianças adultas.
Paulo Borges
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