Rigpa nossa mente luminosa natural
Rigpa é nossa condição natural, nosso modo de ser último e primordial. Presente em cada um dos seres sensíveis, embora velado, o chamamos também tathâgatagarbha, a "essência do tathâgatha". Dum ponto de vista último, rigpa é também Samantabhadra, o Budha primordial. Enfim, enquanto presença espontânea capaz de manifestar todos os fenômenos, o chamamos "o rei que cria todas as coisas". Todos esses termos são equivalentes e tais diferenciações são usadas somente com uma finalidade descritiva.
Um último ponto importante a propósito de rigpa. Na nossa condição comum, nós não reconhecemos rigpa, e somente sem nos parece ser a mente. Nos textos, falamos em procurar a "natureza da mente", semnyi. Descobrir a natureza da mente é descobrir que sem não tem realidade, que ela é vazia de existência própria, que ela não tem nem origem, nem lugar, nem destino. Mas isso ainda não é rigpa.
Rigpa é apresentado ao discípulo no momento preciso quando a mente comum é temporariamente dissolvida. Se o estudante reconhece no instante esta presença vazia e luminosa, sem nenhum apego nem conceito, podemos então falar do estado de rigpa.
Assim, o Ati-yoga é o veiculo de rigpa que transcende todas as análises conceituais, todas as elaborações e fabricações mentais. Enquanto tal, ele está além de todas as opiniões e das "vias" dos outros veículos, que dependem ainda da mente pensante, sem. [...]
O veículo do dzogchen se inicia somente com a compreensão e a experiência de rigpa. Existe um modo de transmissão de poder particular no dzogchen, que visa a apresentação direta de rigpa ao discípulo. Esta transmissão, o rigpa tsel wang ou "transmissão de poder da energia criadora de rigpa", corresponde à quarta iniciação dos tantras, a iniciação da fala.
Existem numerosas espécies em cada uma das três séries dos ensinamentos dzogchen (semde, longde, e menagde). Esta apresentação pode ser direta de mente a mente, simbólica ou oral. Numerosos procedimentos são utilizados. Assim existem as apresentações metafóricas, as apresentações dos sentidos, e as apresentações do signo (sinal). Enfim, existem quatro graus de elaborações para essas transmissões de poder: transmissão de poder elaborada, transmissão de poder sem elaborações, transmissão de poder completamente despida de elaborações e transmissão de poder absolutamente despida de elaborações.
Em todos os casos, o mestre, que se encontra no estado de rigpa, tenta desvelar ao discípulo o que é seu rigpa afim de que ele tenha a experiência direta e, sobretudo o reconheça. Este reconhecimento da visão mesmo que fugaz, é indispensável ao desenvolvimento da prática, porque, sem saber do que se trata, como poderemos "desenvolver" a presença de rigpa?
A prática visa, com efeito, um único objetivo, estabilizar a visão e aumentar o poder de rigpa, afim de que ele impregne progressivamente todos os nossos atos.
Longchenpa
Do livro "La liberté naturelle de l’esprit"
Apresentado e traduzido do tibetano por Philippe Cornu
Tradução para o português Karma Tenpa Dharguy