Porque existem certas atitudes e preferências de que não gostamos de largar, envolvemo-nos sempre em situações difíceis e experimentamos conflitos interiores.
Às vezes renunciamos a coisas importantes - nosso dinheiro, nosso lar, nossas propriedades - sem muita dificuldade. Mas os apegos emocionais - tais como o elogio e a censura, o ganho e a perda, o prazer e a dor, as palavras bondosas e as ásperas - são muito sutis. Estão além do nível físico; existem na personalidade ou na auto-imagem, e não estamos dispostos a deixá-los partir.
Temos também certas atitudes e preconceitos, geralmente escondidos, de que não gostamos nem sequer de tomar conhecimento.
Nossos apegos exercem uma influência magnética, que nos retém num lugar como se estivéssemos na prisão. É difícil dizer se essa força controladora provém de nossos atos passados, do nosso medo da morte ou de alguma origem desconhecida; o fato é que não podemos nos mover - e, assim, toda a sorte de frustrações e conflitos nos ataca, criando mais frustração e mais sofrimento.
As pessoas estão dispostas a ir para a guerra e até a renunciar à vida por uma causa, mas não podem renunciar às causas de seu sofrimento. É um mistério o modo com que certas fixações psicológicas nos dominam com tanta força que não podemos abnegar delas.
Podemos observar cuidadosamente nossos padrões de vida, e até podemos vir a aceitar a maneira como os mais sutis agarramentos e negatividades nos causam sofrimento. À proporção que crescem nossa compreensão e nossa percepção, vemos a importância de trabalhar através de nossas emoções, apegos e negatividades, e vemos também que a solução final vem de dentro. Nesse momento, em que de fato despertamos para a nossa penosa condição, começamos a mudar nossas atitudes mais íntimas e pode operar-se algum progresso verdadeiro.
De "Gestos de Equilíbrio" - Tarthang Tulku
E-book disponível em: http://books.google.com.br/books?id=6uL0jdfsa2oC&printsec=frontcover&hl=pt-BR&source=gbs_ge_summary_r&cad=0#v=onepage&q&f=false