Fuga

NO INÍCIO... O ENTUSIASMO

No início de um novo projeto, tudo tem vigor e tudo nos entusiasma. Inúmeras possibilidades se abrem diante de nós; nossa esperança alça vôos, e nossa energia e animação são ilimitadas. Porém, conforme os problemas vão aparecendo, o entusiasmo inicial talvez comece a se desgastar. 

O futuro perde algumas das suas promessas, e nossa vontade e determinação podem vacilar. Parece muito mais fácil procurarmos formas de evitar o trabalho do que deixarmos inspirar pelos desafios que ele oferece.


RETENDO ENERGIA

Quando o trabalho nos faz solicitações difíceis, nossa opção pode ser a de reter a nossa energia. Como não nos colocamos no trabalho, nossa energia se torna dispersa e confusa, e começamos a divagar, de um dia para outro. 

Vemo-nos buscando desculpas para não trabalhar de modo eficiente: não estamos nos sentindo bem ou precisamos de mais tempo. assim que distrações aparecem, logo acorremos a elas, fazendo pausas frequentes ou saindo para fazer coisas desnecessárias, talvez parando pelo caminho para conversar com um amigo. 

No final do dia, foi muito pouco o que o nosso tempo rendeu.  No entanto, se encarássemos nosso trabalho de forma direta, talvez fôssemos descobrir que ele é bem menos ameaçador do que tememos; perdemos, porém a oportunidade de ter essa percepção.

FUGIR OU ENCARAR?

Frequentemente, escolhemos fugir de um problema em vez de encará-lo honestamente. Todavia, ao fazer essa escolha, privamo-nos da oportunidade de crescer e de aprofundar nosso autoconhecimento.  Talvez acreditemos poder resolver nossos problemas escapando deles, mas eles simplesmente não vão embora. 

Podemos tentar fazer mudanças radicais em nosso modo de vida: mudar de emprego, obter um divórcio ou arranjar novos amigos. Na superfície, essas mudanças parecem resolver nossos problemas; mais cedo ou mais tarde, porém, o novo estilo de vida pode se mostrar tão decepcionante quanto aquele que deixamos para trás.


APRENDEMOS A FUGIR, DESDE PEQUENOS

Fugir de nossas dificuldade é um hábito que aprendemos quando crianças. Quando uma criança se depara com algo que não deseja, ela usa toda uma série de manobras para evitar a situação, tais como chorar, esconder-se ou brigar. Se o pais se mostram complacentes com esse comportamento, considerando-o natural e tipicamente infantil, acabam reforçando uma atitude que poderá vir, mais tarde a prejudicar o filho na vida.

A não ser que sejamos ensinados a encarar nossos problemas diretamente e a trabalhar com eles, os padrões de fuga se repetirão na escola, com os amigos e com a família; eles podem passar a ser um modo de agir aceito como natural.


EVITAR RESPONSABILIDADES

Evitar responsabilidades é uma maneira comum de escapar de situações difíceis e exigentes. Guardamos nossa energia, fazendo menos do que somos capazes. Quando surgem problemas, alegamos haver muitas limitações que nos impedem de funcionar eficazmente, ou talvez culpemos os outros pela nossa ineficiência. 


VOCÊ ESTÁ TRABALHANDO DA MELHOR MANEIRA POSSÍVEL?

Podemos até conseguir convencê-los de que fizemos o melhor que podíamos. Como sabemos que não estamos empregando toda a nossa energia no trabalho, e que os resultados acabarão por refletir isto, usamos uma série de artifícios e jogos para dar a impressão de que estamos trabalhando da melhor maneira possível.

Se não damos suporte ao nosso trabalho e um insucesso parece provável, podemos até tentar nos convencer que não existia nada que éramos, de fato, capazes de fazer.


ANDANDO EM CÍRCULOS?

Podemos nos sentir aliviados quando conseguimos fugir dos nossos problemas mas, na realidade, fugimos muito pouco. Os problemas continuam a aparecer sob outras formas, seja no trabalho, seja nos nossos relacionamentos pessoais. É como se estivéssemos correndo sobre uma esteira rolante, sempre passando pelas mesmas cenas, sem nunca chegar a lugar algum.

A fim de quebrar este padrão de fuga, precisamos examinar nossas atitudes e sentimentos cuidadosamente, e assumir uma forma mais direta e honesta de lidar com o nosso trabalho e com a vida.


ESQUIVANDO-SE

Ao observarmos nossos padrões de fuga, vemos que quase tudo pode nos oferecer um meio para nos esquivarmos. 

No trabalho, as interrupções nos proporcionam várias oportunidades de evitar coisas que preferíamos não fazer. As atividades dos momentos de lazer podem, facilmente, se tornar um substitutivo que nos exime de lidar com os nossos problemas. Conversar com um amigo sobre nossas dificuldades pode nos manter afastados de encontrar soluções dentro de nós mesmos.

Quando examinamos nossas ações e hábitos com honestidade, talvez descubramos que mesmo as ações mais simples podem ser motivadas por um desejo de fuga.


COMPREENDENDO NOSSO ESCAPISMO

Uma vez que tenhamos compreendido como tentamos escapar dos nossos medos e dificuldades, podemos decidir mudar esse padrão. Da próxima vez que você se deparar com um problema e se sentir buscando uma maneira de contorná-lo, pode tomar uma decisão consciente de redirecionar sua energia, entrar no problema e encontrar uma solução.

Embora você possa no início, sentir resistência com relação a isto, os sentimentos positivos que aparecem quando você encara o trabalho e a vida de forma honesta, fortalecerão sua capacidade de se por frente a desafios no futuro e o incentivarão a crescer.


A ENERGIA DA SUPERAÇÃO

Quando pesamos com honestidade nossa motivação, nossas atitudes, forças e fraquezas, começamos a enxergar um lado mais profundo da nossa natureza, do qual podemos extrair uma energia vital que empresta verdadeiro significado às nossas vidas.

Quando soubermos aproveitar as oportunidades que o trabalho nos oferece de nos defrontarmos com as nossas dificuldades e superá-las, seremos capazes de desafiar até mesmo os problemas mais severos com habilidade, descontração e competência.


CAMINHO: MUDAR NOSSO INTERIOR

Nossa inquietude, nosso constante desejo de fuga se arrefecerá quando percebermos que a única mudança efetiva que nos é dada realizar ocorre dentro de nós mesmos. Descobrimos que a alegria e a satisfação se encontram dentro de nós; basta nos darmos tempo para procurá-las.

Quando fazemos isto, aprendemos a superar a tendência de fugir às nossas responsabilidades. Substituímos essa tendência por uma abertura em relação aos outros, por uma perspectiva equilibrada diante da vida e por uma capacidade mansa, mas persistente, de realizar tudo o que nos propomos.

Este ó caminho para se viver uma vida saudável e satisfeita, para saborear os desafios que ampliam o nosso potencial, aumentando os benefícios disponíveis a todos nós.



Tarthang Tulku
O Caminho da Habilidade: 
formas suaves para um trabalho bem-sucedido






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