A consciência armazenadora também é uma vítima. É um objeto de apego; não é livre, nela há elementos de ignorância - ilusão, raiva, medo - e estes elementos formam uma força de energia que agarra e que quer possuir. Este é o quarto nível de consciência chamado manas.
Manas tem na sua raiz a convicção em um ego separado, a convicção em uma pessoa. Esta consciência, o sentimento e instinto chamado "eu sou," é profundamente enraizado na consciência armazenadora. Não é uma visão da consciência mental. Profundamente enraizado nas profundidades da consciência armazenadora está a idéia de que há um ego que está separado dos elementos não-eu. A função de manas é agarrar a consciência armazenadora como um eu separado.
Outro modo de pensar em manas é como consciência adana. Adana quer dizer "apropriação". Imagine que de uma videira nasce um broto, e então o broto retrocede, abraça e cerca o tronco da árvore.
Esta profundamente arraigada ilusão - a convicção que há um ego – está lá na consciência armazenadora como o resultado da ignorância e medo, e dá origem a uma energia que se volta e abraça a consciência armazenadora e faz disto o único objeto de seu amor.
Manas está sempre operando. Nunca deixa a consciência armazenadora se libertar. Sempre está abraçando, sempre segurando ou grudando na consciência armazenadora. Acredita que a consciência armazenadora é o objeto de seu amor. É por isso que a consciência armazenadora não é livre.
Há uma ilusão que a consciência armazenadora sou "eu," é meu amado, assim eu não posso deixá-la ir.
Dia e noite há um segredo, uma cogitação profunda que este sou eu, isto é meu, e eu tenho que fazer tudo que eu puder para agarrar, proteger, e fazer isto ser meu. Manas nasce e é enraizada na consciência armazenadora. Nasce da consciência armazenadora, se vira e abraça consciência armazenadora como seu objeto: "Você é meu amado, você sou eu."
A função de manas é se apropriar da consciência armazenadora como sua.
Thich Nhat Hanh
Buddha Mind, Buddha Body
Como a Mente Funciona - Parte 5: Consciência Armazenadora em ação
A consciência armazenadora opera na ausência da consciência mental. Pode fazer muitas coisas. Pode fazer muito planejamento; pode tomar muitas decisões sem você saber. Quando entramos em uma loja de departamentos e procuramos um chapéu ou uma camisa, temos a impressão, enquanto olhamos para os artigos exibidos, que temos livre arbítrio e que, se as finanças permitirem, nós somos livres para escolher tudo o que quisermos. Se o vendedor nos perguntar o que gostamos, podemos apontar ou podemos verbalizar o objeto de nosso desejo. E provavelmente temos a impressão que somos pessoas livres neste momento, ao usar nossa consciência mental para selecionar coisas das quais gostamos. Mas isso é uma ilusão. Tudo já foi decidido na consciência armazenadora. Naquele momento fomos capturados; não somos pessoas livres. Nosso senso de beleza, nosso gostar ou repugnar, foi decidido certamente e muito discretamente no nível da consciência armazenadora.
É uma ilusão que somos livres. O grau de liberdade que nossa consciência mental tem é na verdade muito pequeno. A consciência armazenadora dita muitas das coisas que nós fazemos, porque ela continuamente recebe, abraça, mantém, processa, e toma muitas decisões sem a participação da consciência mental. Mas se nós soubermos a prática, poderemos influenciar nossa consciência armazenadora; poderemos ajudar a influenciar o modo como nossa consciência armazenadora armazena e processa informação para tomar melhores decisões. Nós podemos influenciá-las.
Assim como a consciência mental e a consciência dos sentidos, a consciência armazenadora consome. Quando você estiver ao redor de um grupo de pessoas, embora queira ser você mesmo, você está consumindo os seus modos, e você está consumindo as suas consciências armazenadoras. Nossa consciência é alimentada por outras consciências. O modo que nós tomamos decisões, nosso gosto e aversão, depende do modo coletivo de ver as coisas. Você pode não ver algo como bonito, mas se muitas pessoas pensam que isto é bonito, então lentamente você pode vir também a aceitar isto como bonito, porque a consciência individual é composta da consciência coletiva.
O valor do dólar é composto do pensamento coletivo das pessoas, não só de elementos econômicos objetivos. Os medos das pessoas, seus desejos, e expectativas fazem o dólar subir e baixar. Nós somos influenciados pelos modos coletivos de ver e pensar. É por isso que selecionar as pessoas que estão ao seu redor é muito importante. É muito importante se cercar de pessoas que têm bondade, compreensão e compaixão, porque dia e noite somos influenciados pela consciência coletiva. A consciência armazenadora nos oferece iluminação e transformação. Esta possibilidade é contida em seu terceiro significado, sua natureza de sempre fluir.
A consciência armazenadora é como um jardim onde nós podemos plantar as sementes de flores, frutas, e legumes, e então flores, frutas, e legumes crescerão. A consciência mental é só o jardineiro. Um jardineiro pode ajudar e cuidar da terra, mas o jardineiro tem que acreditar na terra, acreditar que ela pode nos oferecer frutas, flores, e legumes. Como praticantes, nós não podemos confiar apenas em nossa consciência mental; temos que confiar em nossa consciência armazenadora também. Estão sendo tomadas decisões lá embaixo.
Suponha que você digite algo em seu computador e esta informação é armazenada no disco rígido. Aquele disco rígido é como a consciência armazenadora. Embora a informação não apareça na tela, ainda está lá. Você só precisa clicar e ela se manifesta. Bija, as sementes na consciência armazenadora, são como os dados que você armazena em seu computador. Se você quiser, pode clicar e ajudá-los a aparecer na tela da consciência mental. A consciência mental é como uma tela e a consciência armazenadora é como o disco rígido, porque pode armazenar muito dentro dela. A consciência armazenadora tem a capacidade de armazenar, manter, e preservar informação de forma que não possa ser apagada.
Porém, diferentemente da informação de um disco rígido todas as sementes tem uma natureza orgânica e podem ser modificadas. Por exemplo, a semente de ódio pode ser debilitada e sua energia pode ser transformada na energia de compaixão. A semente de amor pode ser regada e pode ser fortalecida. A natureza da informação que está sendo mantida e processada pela consciência armazenadora está sempre fluindo e sempre mudando. Pode ser transformado amor em ódio, e pode ser transformado ódio de volta em amor.
Thich Nhat Hanh
Buddha Mind, Buddha Body
É uma ilusão que somos livres. O grau de liberdade que nossa consciência mental tem é na verdade muito pequeno. A consciência armazenadora dita muitas das coisas que nós fazemos, porque ela continuamente recebe, abraça, mantém, processa, e toma muitas decisões sem a participação da consciência mental. Mas se nós soubermos a prática, poderemos influenciar nossa consciência armazenadora; poderemos ajudar a influenciar o modo como nossa consciência armazenadora armazena e processa informação para tomar melhores decisões. Nós podemos influenciá-las.
Assim como a consciência mental e a consciência dos sentidos, a consciência armazenadora consome. Quando você estiver ao redor de um grupo de pessoas, embora queira ser você mesmo, você está consumindo os seus modos, e você está consumindo as suas consciências armazenadoras. Nossa consciência é alimentada por outras consciências. O modo que nós tomamos decisões, nosso gosto e aversão, depende do modo coletivo de ver as coisas. Você pode não ver algo como bonito, mas se muitas pessoas pensam que isto é bonito, então lentamente você pode vir também a aceitar isto como bonito, porque a consciência individual é composta da consciência coletiva.
O valor do dólar é composto do pensamento coletivo das pessoas, não só de elementos econômicos objetivos. Os medos das pessoas, seus desejos, e expectativas fazem o dólar subir e baixar. Nós somos influenciados pelos modos coletivos de ver e pensar. É por isso que selecionar as pessoas que estão ao seu redor é muito importante. É muito importante se cercar de pessoas que têm bondade, compreensão e compaixão, porque dia e noite somos influenciados pela consciência coletiva. A consciência armazenadora nos oferece iluminação e transformação. Esta possibilidade é contida em seu terceiro significado, sua natureza de sempre fluir.
A consciência armazenadora é como um jardim onde nós podemos plantar as sementes de flores, frutas, e legumes, e então flores, frutas, e legumes crescerão. A consciência mental é só o jardineiro. Um jardineiro pode ajudar e cuidar da terra, mas o jardineiro tem que acreditar na terra, acreditar que ela pode nos oferecer frutas, flores, e legumes. Como praticantes, nós não podemos confiar apenas em nossa consciência mental; temos que confiar em nossa consciência armazenadora também. Estão sendo tomadas decisões lá embaixo.
Suponha que você digite algo em seu computador e esta informação é armazenada no disco rígido. Aquele disco rígido é como a consciência armazenadora. Embora a informação não apareça na tela, ainda está lá. Você só precisa clicar e ela se manifesta. Bija, as sementes na consciência armazenadora, são como os dados que você armazena em seu computador. Se você quiser, pode clicar e ajudá-los a aparecer na tela da consciência mental. A consciência mental é como uma tela e a consciência armazenadora é como o disco rígido, porque pode armazenar muito dentro dela. A consciência armazenadora tem a capacidade de armazenar, manter, e preservar informação de forma que não possa ser apagada.
Porém, diferentemente da informação de um disco rígido todas as sementes tem uma natureza orgânica e podem ser modificadas. Por exemplo, a semente de ódio pode ser debilitada e sua energia pode ser transformada na energia de compaixão. A semente de amor pode ser regada e pode ser fortalecida. A natureza da informação que está sendo mantida e processada pela consciência armazenadora está sempre fluindo e sempre mudando. Pode ser transformado amor em ódio, e pode ser transformado ódio de volta em amor.
Thich Nhat Hanh
Buddha Mind, Buddha Body
Como a Mente Funciona - Parte 4: Consciência Armazenadora
A terceira camada de consciência, a consciência armazenadora, é a mais profunda. Há muitos nomes para este tipo de consciência. Na tradição de Mahayana é chamada de consciência armazenadora, ou alaya em sânscrito. A tradição de Theravada usa a palavra pali bhavanga para descrever esta consciência. Bhavanga quer dizer constantemente fluindo, como um rio. A consciência armazenadora também é chamada às vezes de consciência raiz ou sarvabijaka que significa "a totalidade das sementes". Em vietnamita, nós chamamos a consciência armazenadora de tang. Tang significa manter e preservar.
Estes nomes diferentes se referem aos três aspectos da consciência armazenadora:
A consciência armazenadora é como um museu. Um museu só pode ser chamado de um museu quando houver coisas nele. Quando não houver nada dentro, você pode chamá-lo de um edifício, mas não um museu. O guardião é o responsável pelo museu. A função dele é manter os vários objetos preservados e não permitir que sejam roubados. Mas tem que haver coisas para serem armazenadas, coisas para serem mantidas. A consciência armazenadora se refere ao armazém e também ao que é armazenado, isto é, toda a informação do passado, dos nossos antepassados, e todas as informações recebidas de outras consciências. Na tradição budista, esta informação é armazenada como bija, sementes.
Suponha que esta manhã você ouça certo canto pela primeira vez. Sua orelha e a música se tocam e provocam a manifestação da formação mental chamada toque que faz a consciência armazenadora vibrar. Aquela informação, uma semente nova, entra no continuum da consciência armazenadora. Ela tem a capacidade de receber a semente e armazená-la em seu coração. A consciência armazenadora preserva toda a informação que recebe. Mas a função dela só não é receber e armazenar estas sementes; seu trabalho também é processar esta informação.
O trabalho de processar neste nível não é caro. A consciência armazenadora não gasta tanta energia quanto, por exemplo, a consciência mental. A consciência armazenadora pode processar esta informação sem muito trabalho. Assim se você quiser economizar sua energia, não pense muito a toa, não planeje muito, e não se preocupe muito. Permita que sua consciência armazenadora faça a maioria do trabalho.
Thich Nhat Hanh
Buddha Mind, Buddha Body
Estes nomes diferentes se referem aos três aspectos da consciência armazenadora:
- O primeiro significado é o de um lugar, um "armazém" aonde são mantidos todos os tipos de sementes e informações. Uma semente de mostarda é muito pequena. Mas se a semente de mostarda tiver a oportunidade de brotar, a casca exterior quebrará, e o que é muito pequeno por dentro ficará bem grande - uma planta enorme de mostarda. Nos Evangelhos há a imagem de uma semente de mostarda que tem a capacidade de se tornar uma árvore enorme onde muitos pássaros podem vir e tomar refúgio. A semente de mostarda é o símbolo dos conteúdos da consciência armazenadora. Tudo que vemos ou tocamos tem uma semente repousada profundamente em nossa consciência armazenadora.
- O segundo significado é sugerido pelo nome vietnamita tang, porque a consciência armazenadora não apenas carrega toda a informação, mas a mantém e os preserva.
- O terceiro significado é sugerido por bhavanga, o sentido de processar e transformar.
A consciência armazenadora é como um museu. Um museu só pode ser chamado de um museu quando houver coisas nele. Quando não houver nada dentro, você pode chamá-lo de um edifício, mas não um museu. O guardião é o responsável pelo museu. A função dele é manter os vários objetos preservados e não permitir que sejam roubados. Mas tem que haver coisas para serem armazenadas, coisas para serem mantidas. A consciência armazenadora se refere ao armazém e também ao que é armazenado, isto é, toda a informação do passado, dos nossos antepassados, e todas as informações recebidas de outras consciências. Na tradição budista, esta informação é armazenada como bija, sementes.
Suponha que esta manhã você ouça certo canto pela primeira vez. Sua orelha e a música se tocam e provocam a manifestação da formação mental chamada toque que faz a consciência armazenadora vibrar. Aquela informação, uma semente nova, entra no continuum da consciência armazenadora. Ela tem a capacidade de receber a semente e armazená-la em seu coração. A consciência armazenadora preserva toda a informação que recebe. Mas a função dela só não é receber e armazenar estas sementes; seu trabalho também é processar esta informação.
O trabalho de processar neste nível não é caro. A consciência armazenadora não gasta tanta energia quanto, por exemplo, a consciência mental. A consciência armazenadora pode processar esta informação sem muito trabalho. Assim se você quiser economizar sua energia, não pense muito a toa, não planeje muito, e não se preocupe muito. Permita que sua consciência armazenadora faça a maioria do trabalho.
Thich Nhat Hanh
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Como a Mente Funciona - Parte 3: Consciência dos Sentidos
O segundo nível de consciência é a consciência dos sentidos, a consciência que vem dos nossos cinco sentidos: visão, audição, gosto, toque, e cheiro.
Quando nós caminhamos, usamos este tipo de consciência também. Nós vemos a nossa frente, provamos e cheiramos o ar, ouvimos sons e nossos pés tocam o chão.
Às vezes chamamos estes sentidos de "portões" ou “portas" porque todos os objetos de percepção entram na consciência devido ao nosso contato sensorial com eles.
A consciência dos sentidos envolve três elementos:
Thich Nhat Hanh
Buddha Mind, Buddha Body
Quando nós caminhamos, usamos este tipo de consciência também. Nós vemos a nossa frente, provamos e cheiramos o ar, ouvimos sons e nossos pés tocam o chão.
Às vezes chamamos estes sentidos de "portões" ou “portas" porque todos os objetos de percepção entram na consciência devido ao nosso contato sensorial com eles.
A consciência dos sentidos envolve três elementos:
- o órgão do sentido (olhos, orelhas, nariz, língua, ou corpo);
- o próprio objeto (o objeto que nós estamos cheirando ou o som que nós estamos ouvindo);
- a nossa experiência do que nós estamos vendo, ouvindo, cheirando, provando, ou tocando.
Thich Nhat Hanh
Buddha Mind, Buddha Body
Como a Mente Funciona - Parte 2: Consciência Mental
Consciência mental é o primeiro tipo de consciência. Gasta a maior parte de nossa energia.
Consciência mental é nossa consciência de trabalho que faz julgamentos e planos; é a parte de nossa consciência que se preocupa e analisa.
Quando nós falarmos de consciência mental, também estamos falando de consciência do corpo, porque consciência mental não é possível sem o cérebro. Corpo e mente simplesmente são dois aspectos da mesma coisa. Corpo sem consciência não é uma realidade, um corpo vivo. E a consciência não pode se manifestar sem um corpo.
É possível nos treinarmos para remover a falsa distinção entre cérebro e consciência. Nós não deveríamos dizer que consciência nasce do cérebro, porque o oposto é verdade: o cérebro nasce da consciência.
O cérebro é só dois por cento do peso do corpo, mas consome vinte por cento da energia do corpo. Portanto usar a consciência mental é muito caro. Pensar, se preocupar, e planejar tomam muita energia.
Podemos economizar energia treinando nossa consciência mental no hábito de plena atenção. Plena atenção nos mantém no momento presente e permite a nossa consciência mental relaxar e deixar ir a energia da preocupação sobre o passado ou o futuro.
Thich Nhat Hanh
Buddha Mind, Buddha Body
Como a Mente Funciona - Parte 1: as quatro consciências
Antes de podermos caminhar por nossos antepassados, antes de podermos caminhar por aqueles que nos prejudicaram, precisamos aprender a caminhar por nós mesmos. Para fazer isso, precisamos entender nossas mentes e a conexão entre nossos pés e nossas cabeças.
O mestre Zen vietnamita Thuong Chieu disse
O Buda ensinou que a consciência é sempre contínua, como um fluxo de água.
Há quatro tipos de consciência:
Quando nós caminharmos em plena atenção, todas as quatro camadas da consciência estarão operando.
Thich Nhat Hanh
Buddha Mind, Buddha Body
O mestre Zen vietnamita Thuong Chieu disse
"Quando nós entendermos como nossa mente trabalha, nossa prática fica fácil."Em outras palavras, se nós pudermos caminhar em plena atenção com nossa consciência, nossos pés seguirão naturalmente.
O Buda ensinou que a consciência é sempre contínua, como um fluxo de água.
Há quatro tipos de consciência:
- consciência mental
- consciência dos sentidos
- consciência armazenadora
- manas
Quando nós caminharmos em plena atenção, todas as quatro camadas da consciência estarão operando.
Thich Nhat Hanh
Buddha Mind, Buddha Body
Formações Mentais: o pensamento sem o "eu"
Há uma formação mental chamada vitarka, "pensamento inicial". Quando usarmos o verbo "pensar", precisamos de um sujeito do verbo: eu penso, você pensa, ele pensa. Mas, realmente, você não precisa de um sujeito para um pensamento a ser produzido. Pensando sem um pensador - isto é absolutamente possível. Pensar é pensar em algo. Perceber é perceber algo. O que percebe e o objeto que é percebido são um.
Quando Descartes disse, "penso, logo existo" o ponto dele era que se eu pensar, deve haver um "eu" para o pensar ser possível. Quando ele fez a declaração "penso" ele acreditou que pudesse demonstrar que o "eu" existia. Nós temos o hábito forte de acreditar em um ego, um eu. Mas, observando muito profundamente, podemos ver que um pensamento não precisa de um pensador para ser possível. Não há nenhum pensador atrás do pensamento - há apenas o pensamento; isso é suficiente.
Agora, se o senhor Descartes estivesse aqui, nós poderíamos lhe perguntar, ”Monsieur Descartes, você diz, ‘você pensa, então você existe’, mas o que é você? Você é seu pensamento. Pensamento - isso é bastante. O pensamento se manifesta sem a necessidade de um eu por trás”.
Pensando sem um pensador. Sentindo sem aquele que sente. O que é nossa raiva sem nosso "eu"? Este é o objeto de nossa meditação. Todas as cinqüenta e uma formações mentais acontecem e manifestam sem um eu atrás delas organizando para que uma apareça, e depois para que outra apareça. Nossa consciência mental tem o hábito de se basear na idéia de um eu, em manas. Mas podemos meditar para estar mais atentos a nossa consciência armazenadora onde mantemos as sementes de todas as formações mentais que não estão se manifestando no momento em nossa mente.
Quando meditamos, praticamos olhar profundamente procurando trazer luz e claridade ao nosso modo de ver as coisas. Quando a visão do não-eu é obtida, nossa ilusão é afastada. Isto é o que nós chamamos transformação. Na tradição budista, transformação é possível com a compreensão profunda. O momento em que a visão do não-eu existe, manas, a noção de "eu sou" se desintegra, e nós nos achamos desfrutando, neste exato momento, de liberdade e felicidade.
Thich Nhat Hanh
Buddha Mind, Buddha Body
Formações Mentais e Consciência
Formações que existem na consciência são chamadas formações mentais.
Quando há contato entre um órgão do sentido (olhos, orelhas, nariz, boca, corpo) e o objeto, a consciência dos sentidos surge. E no momento que seus olhos primeiramente olham um objeto, ou você sente o vento em sua pele, a primeira formação mental de contato se manifesta. O contato causa uma vibração no nível da consciência armazenadora.
Se a impressão for fraca, então a vibração pára e a corrente da consciência armazenadora recupera sua tranqüilidade; você continua dormindo ou continua com suas atividades, porque aquela impressão criada através de toque não foi forte o bastante para chamar a atenção da consciência mental.
É como quando uma mosca pousa na superfície da água e faz a água ondular um pouco. Depois que a mosca sai, a superfície da água se torna completamente calma novamente. Portanto embora a formação mental se manifeste, embora a corrente de vida vibre continuamente, não há nenhuma consciência nascida na consciência mental porque a impressão foi muito fraca.
(...) As cinqüenta e uma formações mentais também são chamadas concomitantes mentais; quer dizer, elas são o conteúdo verdadeiro da consciência, do mesmo modo que as gotas de água são o conteúdo verdadeiro do rio.
Por exemplo, a raiva é uma formação mental. A consciência mental pode operar de tal modo que a raiva pode se manifestar nela. Naquele momento, a consciência mental está cheia de raiva, e podemos até sentir que nossa consciência mental não é nada mais que a raiva. Mas na realidade, a consciência mental não é só raiva, porque mais tarde a compaixão surge, e naquele momento, a consciência mental se torna compaixão. Consciência mental é, em vários momentos, todas as cinqüenta e uma formações mentais, sejam elas positivas, negativas ou neutras.
Sem formações mentais, não pode haver nenhuma consciência.
Thich Nhat Hanh
Buddha Mind, Buddha Body
Formações e Condições
A palavra "formação" (samskara em sânscrito) significa algo que manifesta quando muitas condições se juntam.
Quando nós olharmos para uma flor, podemos reconhecer muitos dos elementos que se juntaram para a flor se manifestar naquela forma. Nós sabemos que sem a chuva não pode haver nenhuma água e a flor não pode se manifestar. Vemos que o sol também está lá. A terra, o adubo, o jardineiro, tempo, espaço, e muitos elementos se juntaram para ajudar a flor a se manifestar. A flor não tem uma existência separada; é uma formação.
O sol, a lua, a montanha, e o rio são todos formações.
Usando a palavra "formação" nos lembra que não há nenhum núcleo de existência separada neles. Há só uma junção de muitas, muitas condições para algo para manifestar.
(...) podemos nos treinar para olhar para tudo como uma formação. Sabemos que todas as formações estão mudando todo o tempo. Impermanência é uma das marcas de realidade, porque tudo muda.
Thich Nhat Hanh
Buddha Mind, Buddha Body
A Nobre Verdade do Sofrimento e os Cinco Agregados do Apego
Em seus ensinamentos, cujo conjunto se chama Dhamma (em sânscrito, Dharma), o Buda expôs aquilo que observou e constatou, de maneira direta, ser verdadeiro e comum a todos os seres vivos. Ele explicou suas descobertas e as ensinou no que chamou de Quatro Nobres Verdades. Elas são chamadas de “Nobres” porque, se plenamente praticadas e compreendidas, levam o praticante a viver num estado mental claro e purificado, um estado de paz e felicidade incomparável e puro, que nenhuma vicissitude da vida pode perturbar.
Abaixo estão alguns dos discursos de Buda que desenvolvem o tema:
“Monges, há estas Quatro Nobres Verdades: a Nobre Verdade do Sofrimento; a Nobre Verdade da origem do sofrimento; a Nobre Verdade da cessação do sofrimento; e a Nobre Verdade do caminho que leva à cessação do sofrimento.
E o que é, monges, a Nobre Verdade do Sofrimento? Nascimento, envelhecimento, doença, dor, tristeza, lamentação, pesar, desespero e morte são sofrimento. Não obter o que se deseja e ter contato com o que não se deseja é sofrimento.
Em suma, os cinco agregados do apego são sofrimento. Quais são os cinco?
- Todo tipo de forma material seja ela passada, presente ou futura, interna ou externa, grosseira ou sutil, inferior ou superior, distante ou próxima - isso se chama agregado da forma.
- Toda sensação seja ela passada, presente ou futura, interna ou externa, grosseira ou sutil - isso se chama agregado da sensação.
- Toda percepção seja ela passada, presente ou futura - isso se chama agregado da percepção.
- Toda formação mental seja ela passada, presente ou futura - isso se chama agregado das formações mentais.
Esses cinco fatores, monges, são chamados de cinco agregados do apego.
- Todo momento de consciência seja ele passado, presente ou futuro – isso se chama agregado da consciência.
E qual é, monges, a Nobre Verdade da origem do sofrimento?
É essa ânsia pelos cinco agregados, que leva a renascimentos incessantes e ao sofrimento contínuo, além da sedução e do desejo que se prolongam ardentemente ora aqui, ora ali, a saber:
- o desejo por prazeres sensoriais
- o desejo de existir para sempre
Essa é a Nobre Verdade sobre a origem (e continuidade) do sofrimento."
- e o desejo pelo fim da vida.
Yogavacara
Superando a Ilusão do Eu
Meditação como Liberdade
(...) O meditador para de praticar ações desnecessárias que só aumentam o envolvimento com seu corpo e mente e a escravidão a eles.
Isso acontece porque o meditador então compreende que as ações não-saudáveis praticadas no presente
perpetuam esse processo. As ações atuais se baseiam naquelas realizadas anteriormente, e as ações
futuras serão condicionadas pelos hábitos praticados no presente.
Assim, se eliminarmos da vida as ações não-saudáveis, egoístas, gananciosas e desnecessárias, estaremos preparando o terreno para uma vida mais calma, menos atribulada, no futuro.
Yogavacara
Superando a ilusão do Eu
Dhammapada - O trabalho solitário de cada um
“Sozinho se faz o mal, sozinho se é corrompido.
Sozinho o mal deixa de ser feito,
Sozinho se é purificado.
Pureza e impureza dependem de cada um,
O outro não pode nos purificar.”
Buda
Dhammapada verso 165
Meditação: concentração mental e Vipassana
O Buda disse:
‘Bhikkhus, existem dois tipos de enfermidades. Quais são as duas? Enfermidade física e enfermidade mental. Parece que existem pessoas que desfrutam o estar livre da enfermidade física por um ano ou dois...até mesmo por cem anos. Mas, bhikkhus, é raro neste mundo alguém que desfrute o estar livre da enfermidade mental nem que seja por um momento apenas, exceto aqueles que se libertaram das impurezas mentais.’Os ensinamentos do Buda, e em particular o método de meditação ensinado por ele, tem como objetivo produzir um estado de saúde mental perfeita, equilíbrio e tranqüilidade. A palavra meditação é na verdade um pobre substituto para o termo original em Pali – bhavana, que significa ‘cultura’ ou ‘desenvolvimento’ isto é, cultura mental ou desenvolvimento mental. A meditação Budista ou bhavana, representa o desenvolvimento mental no sentido mais amplo da palavra. Seu objetivo é purificar a mente das impurezas e perturbações, tais como os desejos sensuais, raiva, má vontade, indolência, preocupações, inquietações e dúvidas, e cultivar qualidades como a concentração, atenção, inteligência, energia, a faculdade de análise, confiança, alegria, tranqüilidade e finalmente conduzir ao alcance da sabedoria máxima que é ver e compreender a natureza das coisas tal como elas na verdade são e realizar a verdade última, Nibbana.
Existem dois tipos de meditação. Uma é o desenvolvimento da concentração mental (samma samadhi). Este tipo de meditação já existia antes do Buda. Portanto não é puramente Budista, mas não está excluída do campo da meditação Budista. A outra forma de meditação é conhecida como vipassana ou insight sobre a verdadeira natureza das coisas. Esse é um tipo de meditação essencialmente Budista. É um método analítico baseado na atenção plena, plena consciência e investigação.
http://www.acessoaoinsight.net/meditacao.php
(Walpola Rahula – What the Buddha Taught, 1974)
O que é Kamma? (Karma)
O kamma pode ser exposto na linguagem simples de uma criança: faça o bem e o bem virá para você, agora e depois. Faça o mal e o mal virá para você, agora e depois.
Na linguagem da colheita, kamma pode ser explicado dessa forma: se você semeia boas sementes, irá ter uma boa colheita. Se você semeia sementes ruins, irá ter uma má colheita.
Na linguagem da ciência, kamma é chamado de lei de causa e efeito: toda causa tem um efeito. Outro nome para isso é a lei da causação moral. Causação moral funciona no reino moral, assim como a lei física de ação e reação funciona no reino físico.
No Dhammapada, kamma é explicado dessa maneira: a mente é o chefe (o que vai à frente) de todos os estados bons e ruins. Se você fala ou age com uma mente ruim, então a infelicidade o seguirá como a roda segue o casco do boi. Se você fala ou age com uma mente boa, então a felicidade o seguirá como a sombra que nunca o deixa.
Kamma é simplesmente ação. Nos organismos vivos, há um poder ou força para a qual são dados diferentes nomes, tais como tendências instintivas, consciência, etc. Essa propensão inata força cada ser consciente a se mover. Uma pessoa se move mental ou fisicamente. Seu movimento é ação. A repetição das ações é hábito, e hábito se torna caráter. No Buddhismo, esse processo é chamado de kamma.
No sentido último, kamma significa ação ou volição, tanto boa quanto má. ‘Kamma é volição’, disse o Buddha. Assim, kamma não é uma entidade, mas um processo, ação, energia e força. Alguns interpretam essa força como ‘influência-da-ação’. São nossos próprios atos reagindo em nós. A dor e a felicidade que uma pessoa experimenta são os resultados de suas próprias ações, palavras e pensamentos reagindo nela mesma. Nossas ações, palavras e pensamentos produzem nossa prosperidade e fracasso, nossa felicidade e miséria.
Kamma é uma lei natural e impessoal que opera estritamente de acordo com nossas ações. É uma lei por si mesma e não possui nenhum criador. Kamma opera em seu próprio campo sem a intervenção de um agente externo, independente e regente. Como não há nenhum agente escondido dirigindo ou administrando recompensas ou punições, os buddhistas não rezam para alguma força sobrenatural a fim de influenciar os resultados kammicos. De acordo com o Buddha, kamma não é nem predestinação nem determinismo imposto a nós por poderes ou forças misteriosas e desconhecidas aos quais devemos impotentemente nos submeter.
Os buddhistas acreditam que se irá colher o que se plantou; somos o resultado do que fomos, e seremos o resultado do que somos. Em outras palavras, não somos absolutamente o que fomos, e não continuaremos a ser o que somos. Isso simplesmente significa que kamma não é um completo determinismo. O Buddha indicou que se tudo está fixado ou determinado, então não haveria livre arbítrio, nem vida moral ou espiritual. Meramente seríamos escravos de nosso passado. Por outro lado, se tudo é indeterminado, então não poderia haver cultivo do crescimento moral e espiritual. O Buddha, assim, declarou a verdade do Caminho do Meio: tal kamma deve ser entendido nem como estrito determinismo, nem como absoluto indeterminismo, mas como uma interação de ambos.
Ven. Dr. K. Sri Dhammananda
No que os Budistas acreditam
Na linguagem da colheita, kamma pode ser explicado dessa forma: se você semeia boas sementes, irá ter uma boa colheita. Se você semeia sementes ruins, irá ter uma má colheita.
Na linguagem da ciência, kamma é chamado de lei de causa e efeito: toda causa tem um efeito. Outro nome para isso é a lei da causação moral. Causação moral funciona no reino moral, assim como a lei física de ação e reação funciona no reino físico.
No Dhammapada, kamma é explicado dessa maneira: a mente é o chefe (o que vai à frente) de todos os estados bons e ruins. Se você fala ou age com uma mente ruim, então a infelicidade o seguirá como a roda segue o casco do boi. Se você fala ou age com uma mente boa, então a felicidade o seguirá como a sombra que nunca o deixa.
Kamma é simplesmente ação. Nos organismos vivos, há um poder ou força para a qual são dados diferentes nomes, tais como tendências instintivas, consciência, etc. Essa propensão inata força cada ser consciente a se mover. Uma pessoa se move mental ou fisicamente. Seu movimento é ação. A repetição das ações é hábito, e hábito se torna caráter. No Buddhismo, esse processo é chamado de kamma.
No sentido último, kamma significa ação ou volição, tanto boa quanto má. ‘Kamma é volição’, disse o Buddha. Assim, kamma não é uma entidade, mas um processo, ação, energia e força. Alguns interpretam essa força como ‘influência-da-ação’. São nossos próprios atos reagindo em nós. A dor e a felicidade que uma pessoa experimenta são os resultados de suas próprias ações, palavras e pensamentos reagindo nela mesma. Nossas ações, palavras e pensamentos produzem nossa prosperidade e fracasso, nossa felicidade e miséria.
Kamma é uma lei natural e impessoal que opera estritamente de acordo com nossas ações. É uma lei por si mesma e não possui nenhum criador. Kamma opera em seu próprio campo sem a intervenção de um agente externo, independente e regente. Como não há nenhum agente escondido dirigindo ou administrando recompensas ou punições, os buddhistas não rezam para alguma força sobrenatural a fim de influenciar os resultados kammicos. De acordo com o Buddha, kamma não é nem predestinação nem determinismo imposto a nós por poderes ou forças misteriosas e desconhecidas aos quais devemos impotentemente nos submeter.
Os buddhistas acreditam que se irá colher o que se plantou; somos o resultado do que fomos, e seremos o resultado do que somos. Em outras palavras, não somos absolutamente o que fomos, e não continuaremos a ser o que somos. Isso simplesmente significa que kamma não é um completo determinismo. O Buddha indicou que se tudo está fixado ou determinado, então não haveria livre arbítrio, nem vida moral ou espiritual. Meramente seríamos escravos de nosso passado. Por outro lado, se tudo é indeterminado, então não poderia haver cultivo do crescimento moral e espiritual. O Buddha, assim, declarou a verdade do Caminho do Meio: tal kamma deve ser entendido nem como estrito determinismo, nem como absoluto indeterminismo, mas como uma interação de ambos.
Ven. Dr. K. Sri Dhammananda
No que os Budistas acreditam
Delusão: como a mente se engana
Talvez não seja tão necessário entender exatamente o que delusão significa, mas sim perceber operando.
É possível que achemos que saibamos o que seja, talvez tenhamos um significado pronto para um termo desses, mas tudo isto pode ser contraproducente—nos fixamos ao nosso conceito do que seja e impedimos que aquilo frutifique como prática. Estas palavras são mágicas, e isto num sentido muito profundo.
Elas não são conceitos exatos, ou verdadeiros, ou técnicos (embora também não deixem de ser estas coisas), o que elas são principalmente é portas para a liberação. Essa palavra "delusão" é um guardião da sua mente, e você precisa se relacionar com ela como se fosse um cachorro feroz, prestes a morder você, mas que você gostaria ter como cão de guarda, a protegendo. Não é possível simplesmente passar a coleira para alguém: vai arrancar pedaços! É preciso que que a pessoa por si mesma faça amizade com ele, entenda seus sinais sutis, tenha por este cachorro uma espécie de devoção misturada com respeito. Então aos poucos o cachorro-delusão pode vir a ser seu protetor—e esse é dos protetores mais furiosos—vence morte, renascimento, sofrimento—qualquer coisa.
Nomeie e o cachorro-delusão estraçalha. Por isso você não precisa saber como é esse cachorro, que tamanho ele tem, que cor e raça ele é. Você precisa ter este cachorro. Você precisa fazer amizade com ele. Como ele é muito bravo e esquivo, é preciso aproximar-se com cuidado máximo.
Feita esta advertência, agora creio que não há problema em descrever o cachorro. Apenas espero que ele não nos morda enquanto faço isto!
Quando ouvimos falar de delusão como a fonte de todos os problemas, imediatamente queremos achar um jeito de acabar com ela. Mas ela é a própria liberdade e a natureza criativa da mente. Em sânscrito, delusão é avidia. Avidia é Prajna (sabedoria) ao avesso. Avidia é o que impede Prajna, Prajna é o reconhecimento do que está além de Avidia, ou a liberdade em meio a avidia. Mas na verdade não são duas coisas, é apenas o mesmo cachorro atacando ou protegendo.
Delusão tecnicamente é quando olhamos para uma coisa e esquecemos todas as outras. Ou seja, exatamente porque vemos, somos cegos. Exatamente porque um objeto surge, ignoramos todos os outros. Ela é a fonte das tendências cármicas, da identidade, das situações da vida e da morte.
Quando olhamos uma paisagem pintada num quadro, temos emoções particulares, vemos um rio, árvores, etc. Mas ali há apenas papel e tinta. Esquecemos o papel e a tinta e reconhecemos rio, árvores, etc. Por isso a delusão é algo criativo, não apenas algo aprisionador.
A delusão tem várias características: separatividade, teimosia, tempo e espaço, identidade, criatividade, cegueira, etc. Assim, como domamos este cachorro? Apenas nos perguntamos "como a mente se engana?" E obtemos uma resposta?
É como um koan, uma pergunta com o objetivo de colocar a mente num estado tão inescapável que ela precisa transcender a si mesma. Como a mente se engana ao responder este koan? Como se engana ao não responder? Como a mente se engana?
Se entendermos isto, estamos livres do engano, e o que surge é uma manifestação de criatividade.
O cachorro é nosso amigo: até lhe damos comida, o levamos para passear e brincamos com ele. Nunca mais vai nos morder, ele sabe que não temos medo, ele tornou-se nosso amigo. Mas será que não vai mesmo? Como a mente se engana?
Por exemplo, estamos tendo um pesadelo, um gorila está nos devorando. Acordamos gritando, suados. Cadê o gorila? Como a mente se engana? Perdemos pai e mãe num acidente de automóvel. Como a mente se engana? Temos câncer. Como a mente se engana? Você tem que dizer algo a seu amigo que perdeu a namorada. Como a mente se engana?
Se entendemos como a mente se engana, aí podemos verdadeiramente acordar. Mas é preciso mais do que explicar o que é engano e o que é mente, é preciso reconhecer o engano ocorrendo enquanto ocorre e olhar ele nos olhos.
Padma Dorge
Fonte: http://tzal.org/delusao-como-a-mente-se-engana/
É possível que achemos que saibamos o que seja, talvez tenhamos um significado pronto para um termo desses, mas tudo isto pode ser contraproducente—nos fixamos ao nosso conceito do que seja e impedimos que aquilo frutifique como prática. Estas palavras são mágicas, e isto num sentido muito profundo.
Elas não são conceitos exatos, ou verdadeiros, ou técnicos (embora também não deixem de ser estas coisas), o que elas são principalmente é portas para a liberação. Essa palavra "delusão" é um guardião da sua mente, e você precisa se relacionar com ela como se fosse um cachorro feroz, prestes a morder você, mas que você gostaria ter como cão de guarda, a protegendo. Não é possível simplesmente passar a coleira para alguém: vai arrancar pedaços! É preciso que que a pessoa por si mesma faça amizade com ele, entenda seus sinais sutis, tenha por este cachorro uma espécie de devoção misturada com respeito. Então aos poucos o cachorro-delusão pode vir a ser seu protetor—e esse é dos protetores mais furiosos—vence morte, renascimento, sofrimento—qualquer coisa.
Nomeie e o cachorro-delusão estraçalha. Por isso você não precisa saber como é esse cachorro, que tamanho ele tem, que cor e raça ele é. Você precisa ter este cachorro. Você precisa fazer amizade com ele. Como ele é muito bravo e esquivo, é preciso aproximar-se com cuidado máximo.
Feita esta advertência, agora creio que não há problema em descrever o cachorro. Apenas espero que ele não nos morda enquanto faço isto!
Quando ouvimos falar de delusão como a fonte de todos os problemas, imediatamente queremos achar um jeito de acabar com ela. Mas ela é a própria liberdade e a natureza criativa da mente. Em sânscrito, delusão é avidia. Avidia é Prajna (sabedoria) ao avesso. Avidia é o que impede Prajna, Prajna é o reconhecimento do que está além de Avidia, ou a liberdade em meio a avidia. Mas na verdade não são duas coisas, é apenas o mesmo cachorro atacando ou protegendo.
Delusão tecnicamente é quando olhamos para uma coisa e esquecemos todas as outras. Ou seja, exatamente porque vemos, somos cegos. Exatamente porque um objeto surge, ignoramos todos os outros. Ela é a fonte das tendências cármicas, da identidade, das situações da vida e da morte.
Quando olhamos uma paisagem pintada num quadro, temos emoções particulares, vemos um rio, árvores, etc. Mas ali há apenas papel e tinta. Esquecemos o papel e a tinta e reconhecemos rio, árvores, etc. Por isso a delusão é algo criativo, não apenas algo aprisionador.
A delusão tem várias características: separatividade, teimosia, tempo e espaço, identidade, criatividade, cegueira, etc. Assim, como domamos este cachorro? Apenas nos perguntamos "como a mente se engana?" E obtemos uma resposta?
É como um koan, uma pergunta com o objetivo de colocar a mente num estado tão inescapável que ela precisa transcender a si mesma. Como a mente se engana ao responder este koan? Como se engana ao não responder? Como a mente se engana?
Se entendermos isto, estamos livres do engano, e o que surge é uma manifestação de criatividade.
O cachorro é nosso amigo: até lhe damos comida, o levamos para passear e brincamos com ele. Nunca mais vai nos morder, ele sabe que não temos medo, ele tornou-se nosso amigo. Mas será que não vai mesmo? Como a mente se engana?
Por exemplo, estamos tendo um pesadelo, um gorila está nos devorando. Acordamos gritando, suados. Cadê o gorila? Como a mente se engana? Perdemos pai e mãe num acidente de automóvel. Como a mente se engana? Temos câncer. Como a mente se engana? Você tem que dizer algo a seu amigo que perdeu a namorada. Como a mente se engana?
Se entendemos como a mente se engana, aí podemos verdadeiramente acordar. Mas é preciso mais do que explicar o que é engano e o que é mente, é preciso reconhecer o engano ocorrendo enquanto ocorre e olhar ele nos olhos.
Padma Dorge
Fonte: http://tzal.org/delusao-como-a-mente-se-engana/
Hsin Hsin Ming – Versos sobre a Fé na Mente
Se queres ver a verdade,
Então não tenha opiniões a favor ou contra coisa alguma.
Quando o profundo significado das coisas não é compreendido
A essencial paz da mente é perturbada inutilmente.
Jianzhi Sengcan (Kanchi Sôsan Daioshô)
http://aguasdacompaixao.wordpress.com/2009/06/26/versos-sobre-a-fe-na-mente-hsin-hsin-ming/
Então não tenha opiniões a favor ou contra coisa alguma.
Quando o profundo significado das coisas não é compreendido
A essencial paz da mente é perturbada inutilmente.
Jianzhi Sengcan (Kanchi Sôsan Daioshô)
http://aguasdacompaixao.wordpress.com/2009/06/26/versos-sobre-a-fe-na-mente-hsin-hsin-ming/
Obrigado Formiguinha
Tem uma formiga morando na minha mesa do trabalho.
Nesse momento ela está aqui próxima do meu teclado andando errantemente.
Aliás não deve ser uma formiga apenas... Confesso que essa é a remanescente talvez de uma família de formigas. Digo isso porque tempos atrás, quando as encontrava, logo pensava "Que saco essas formigas!"
Pa, pum, pow, pau, pow... Devia ser a guerra nuclear para elas a ponta dos meus dedos massacrando suas cabeças.
Pobre coitadas. Matei uma porção delas até pensar "Mas porque estou matando essas formigas?"
"Seres tão indefesos que mau sabem o porque estão perdidas nessa mesa?"
Se eu mesmo não sei o que estou fazendo nesse mundo porque maltratar um ser que, nas suas devidas proporções, está tão perdido quanto eu?
Então resolvi não matá-las mais.
Não me acho bonzinho por isso ou digno de um Prêmio Nobel da Paz, mas percebo que algo dentro de mim está diferente. Preocupar-se com formigas talvez seja um caminho para compreender seres maiores e mais complexos como pessoas de carne e osso.
Se consegui compreender que a formiga tem seu papel,
vive sua experiência e se perde em meio à elas por vezes (diga-se minha mesa)
talvez consiga compreender que as pessoas também tem seu papel,
vivem suas experiências e se perdem em meio à elas por vezes.
E eu sou, uma dessas pessoas, assim como essa formiga perdida -
e suas antepassadas que sofreram com a violência da minha ignorância -
que procura desempenhar meu papel, entender os caminhos e aprender
em meio às felicidades e adversidades da vida.
A formiga sumiu ou talvez esteja fora do meu ângulo de visão.
Mas o que fica é seu caminho, as marcas que ela deixou (feromônios) para que outras formigas "aprenderem" o caminho correto e para que eu em um momento de maior sutileza das idéias, compreendesse o papel daquele pequeno ser agitado em minha mesa.
Assim como a formiga errante também passaram pela Terra gerações e gerações de antepassados
deixando as marcas de seu caminho na busca pela compreensão maior.
As pessoas passam, as formigas passam, as trilhas do seu caminho permanecem por um tempo
para que possam de alguma forma ajudar e guiar o caminho de quem vem mais tarde.
Mesmo tomando muitas "dedadas na cabeça" e por hora sofrendo
com os efeitos da ignorância alheia ou com nossa própria
o importante é compreender que uma hora podemos
encontrar uma compreensão maior e quem sabe o caminho de volta.
Obrigado Formiguinha!
PR
A força nas palavras
(...) Nossas palavras tem força. Elas criam imagems mentais e forças emocionais chamadas pelos mestres de pensamento-forma. Essas formas magnetizam-se através de nossas intenções e emoções acabando por atrair energias semelhantes.
Por isso precisamos ter um certo cuidado não apenas na expressão da fala mas naquilo que a antecede, que são os pensamentos e emoções. Ainda que não falemos algo impuro ou incorreto pelo emprego do auto-controle, podemos já ter pensado, o que irá gerar pensamentos-forma negativos. Um palavrão por exemplo, considerado uma palavra impura e portanto negativa, deve ser evitado desde o Pensar, passando pelo Sentir e terminando no Agir através da fala.
O falar desnecessário ou carregado de impurezas acaba por criar causas. Por isso o cuidado com a qualidade e com a quantidade daquilo que expressamos através da fala e sua intencionalidade é necessário. Somos responsáveis por nossa fala e seus efeitos sobre os demais
seres.
(...) nossa palavra falada criará um pensamento-forma que incorporará a idéia que tivermos em nossas mentes. A palavra errada separa e é interessante ter em mente que a palavra, o símbolo da unidade é divina, enquanto que a linguagem, em suas muitas diversificações é humana.
À medida que a evolução prossegue e a família humana eleva-se até sua verdadeira posição no grande plano do universo, a palavra certa e correta será constantemente utilizada, porque pensaremos mais antes de pronunciarmos as palavras ou como disse um grande instrutor "através da meditiação retificaremos os erros das palavras"; e o significado das formas das palavras dos sons verdadeiros e corretos e da qualidade vocal, torna-se-á cada vez mais aparente.
A fala, portanto, é uma poderosa ferramenta de criação e também de destruição em nosso mundo. Reflitam sobre a forma como estão utilizando-na.
Mestre Tibetano
Fuga e Expectativa
Myoe Win Aung
Você vai pra onde você quer... faz o que você quer...
Você pode criar qualquer coisa.
O que vale analisar é:
POR QUE ESTOU SAINDO DE "A" E INDO PARA "B" ?
Estou fugindo de algo de A?
Ou estou saindo numa boa?
Estou esperando algo em B?
Ou estou indo sem expectativas?
Geralmente combinamos FUGA com EXPECTATIVA.
Dificil ser 0 e 0 :)
PR
O silêncio
O guerreiro da luz medita. Senta-se em um lugar tranqüilo da sua tenda, e entrega-se a luz divina.
Ao fazer isto, procura não pensar em nada; desliga-se da busca de prazeres, dos desafios e das revelações – e deixa que seus dons e seus poderes se manifestem.
Mesmo que não os perceba na mesma hora, estes dons e poderes estão tomando conta de sua vida, e vão influir no seu cotidiano. Enquanto medita, o guerreiro não é ele, mas uma centelha da Alma do Mundo.
São estes momentos que lhe permitem entender sua responsabilidade, e agir de acordo com ela. Um guerreiro da luz sabe que – no silêncio do seu coração, existe uma ordem que o orienta.
Paulo Coelho
http://g1.globo.com/platb/paulocoelho/2012/06/16/o-silencio-2/
Mesmo que não os perceba na mesma hora, estes dons e poderes estão tomando conta de sua vida, e vão influir no seu cotidiano. Enquanto medita, o guerreiro não é ele, mas uma centelha da Alma do Mundo.
São estes momentos que lhe permitem entender sua responsabilidade, e agir de acordo com ela. Um guerreiro da luz sabe que – no silêncio do seu coração, existe uma ordem que o orienta.
Paulo Coelho
http://g1.globo.com/platb/paulocoelho/2012/06/16/o-silencio-2/
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