O menino, depois de uma tempestade violenta, saiu na varanda da fazenda e gritou para o avô:
- Vô! Vem aqui, vô! Como o senhor explica essa figueira, que era árvore que gastava 4 homens para abraçar seu tronco, como é que essa figueira tombou, vô? O vento derrubou a figueira, vô! E como é que aquele pezinho de bambu tão fininho não caiu, vô?
O vô o pôs no cangote e o levou à figueira.
- Nossa, vô! Ela está oca!
- É, com o tempo a figueira foi ficando oca...
- Vô, mas não parecia!
- É por causa da casca, filho. Tinha uma casca muito grande... A gente não via, a gente olhava para a figueira e ela estava lá, “metidona”, “poderosa”...
- É vô... Mas o bambú também é oco...
- Então vem cá...
Lá no bambu, bambuzinho pequenininho, o avô disse: “Primeira diferença, o bambu sabe que que é oco desde pequeno".
Primeira coisa que o bambu ensina pra mim e pra você: desde pequeno a gente é oco.
Vazio para poder encher de Deus. Quanto mais eu me esvaziar, mais cheio de Deus e do Espírito Santo.
Segunda coisa que o bambu nos ensina: a nossa vocação é o céu.
Enquanto as gramíneas se arrastam, o bambu, sendo gramínea, sobe, porque ele tem uma meta. Todo bambu cresce para o alto, sempre buscando o alto.
Terceira coisa: se ele quer crescer muito, ele tem que ter raízes profundas.
Se eu quero chegar lá no alto, eu preciso ter raízes sadias, curadas. Raízes é aquilo que temos escondido (os vícios). Eu devo deixar a graça de Deus, a graça da cura, penetrar as minhas raízes. A raiz é alimentada pela leitura contínua da palavra de Deus. A raiz é alimentada por um grupo que me dá sustento, que me fortalece.
Quarta coisa: bambu não cresce para o lado, não cria galho.
Se eu quero ter a graça de crescer para cima, eu não devo criar galho. Criar galho significa dispersar nossos dons, dispersar nossos talentos em coisa que não devemos.
Quantas pessoas se enroscam na vida porque estão sempre amarrados? Amarrado com Fulano, com Ciclano, com a falsa amizade... ‘Ah, eu tenho que ir lá porque sabe como é, né? A vida em sociedade, eu tenho que ir...”. Tenho que ir coisa nenhuma! Eu vou se eu quiser.
A gente vai criando tanto galho, depois vive quebrando galho. A pessoa se divide. Tem tanta coisa pra fazer, tanta galhada!
Corte as galhadas.
Porque quanto menos galho eu tiver, menos dolorosa será a poda.
Os galhos significam as coisas que a gente vai acumulando. Já percebeu quanta coisa a gente tem que a gente não precisa para viver? E vai se apegando...
Nós estamos aqui de passagem. Se você quiser crescer para o alto, corte a galhada. Canalize.
Crescer para o alto e cortar os galhos significa: investir a minha vida. E isso vale para tudo. Quantas famílias estão cheias de dívidas porque não se unem. Cortem o galho, cortem o supérfluo!
O galho cresce aqui, gruda lá, aí aquilo parece que já faz parte do galho e tem que proteger aquilo... E aí vai ficando pesado, o galho vai ficando muito grande, e bicho começa a fazer ninho, e cobras e lagartos, e vai apodrecendo. E a pessoa tenta proteger os galhos! Corte os galhos.
Alguns de nós somos uma galhada enorme. Tem pessoas que quando chegam no lugar você já nota aquela galhada chegando.
Quinta coisa: olhe bem de perto para o bambu. Já viu que ele é cheio de nozinhos? Não é o nó que enfeia o bambu. É o nó que dá resistência ao bambu.
Por isso que lá embaixo os nós estão mais próximos.
Nó significa cada etapa que eu venço, cada problema da minha vida que eu supero.
Se o bambu não tivesse nó ele seria lindo, pareceria um cano de PVC. Mas na primeira ventania racharia de cima até embaixo. É o nó que dá resistência ao bambu e o faz ser forte e firme!
Cada nozinho significa um problema resolvido. Cada vez que eu supero um desafio, cada vez que eu perdoo alguém que me machucou, cada vez que eu peço perdão a alguém que eu machuquei, cada vez que eu faço um pequeno jejum, é um nozinho que vai se solidificando... E o bambu vai ficando tão forte que na China eles fazem ponte com bambu para passar caminhão de guerra, fazem escadas e edifícios.
Uma coisa muito importante: problemas todos nós temos. Eles precisam ser assimilados, ao invés de fugirmos dos problemas. O mundo de hoje ensina você a fugir do problema. "Tome um gole de cachaça que passa!", "toma um doril a dor sumiu!"... Não! Jesus está dizendo para você: "Supere os problemas, eu estou aqui para mostrar como".
Você precisa ter a humildade do bambu de se enraizar no chão e cada dia viver como um dom de Deus (por isso ele ensina: ‘o pão nosso de cada dia’).
O bambu tem nós, e nós significam etapas. Uma longa caminhada se faz com pequenos passos. Problemas a gente tem que solucionar um de cada vez. "Ai, padre, eu tenho 30 pratos pra lavar!" . Você nunca lavou 30 pratos. Você lava um, depois um, depois um, depois um...
Os nós são aquilo que fortalece o bambu.
Sexta coisa: olhe bem para esse bambu... Ele está sozinho? Não. A primeira coisa que o bambu faz quando começa a crescer: ele deixa o vento jogar uma sementinha do lado, e outra do lado, e outra... E esse vento é do Espírito.
Bambu só cresce em touça.
Por isso, quando você olha de longe, uma touça de bambu é maior que uma figueira, maior que uma árvore. E essa touça é tão grudada porque:
Primeiro: nenhum deles tem galho.
Segundo: todos eles têm raízes profundas.
Terceiro: todos eles estão crescendo para cima.
Quarto: todos eles sabem que são ocos.
Quinto: todos eles vão se grudando um no outro porque aprenderam a fazer isso consigo mesmo. Quem aprendeu a superar os nós vai aprendendo agora a se apoiar um no outro. Um bambu apoia a si mesmo pelos nós (problemas superados) e agora se apoia em quem está ao lado.
Sétima coisa: o menininho desceu do cangote do avô, que pegou a ponta do bambu, entortou até o chão, soltou e o bambu voltou. "Meu filho, aprenda com o bambu a ter a humildade de se curvar na hora da tempestade".
A touça tem que se curvar, a família tem que se curvar, a comunidade tem que se curvar.
Como Bambu no Getsêmani
Palestra proferida pelo Padre Léo em campamento na Comunidade Canção Nova