Meditação - Karl Renz

KARL: Na meditação, o “eu sou” está meditando sobre o que é o “eu sou”, porém, sem a expectativa de uma resposta. Sem essa resposta, só há meditação, mas ninguém que medita. Isso é meditação. Todo o resto – tudo que se fizer em função de uma resposta, onde tem a expectativa de se ganhar algo com isso – não é meditação .

NATARAJAN: Nenhuma necessidade de fechar os olhos.

KARL: Não. É por isso que realmente gosto do Budismo. Você tem que abrir os olhos. Tem que ver. Tem que meditar sobre Aquilo, mas não de olhos fechados. Você não quer fugir. Você tem que enfrentar Aquilo que é, e não fugir dele com os olhos fechados para alguma bela e confortavel un-dade, ou um vazio, ou algo assim. Enfrenta-o! É isso o que você é. Você tem que ver a forma e a não-forma no mesmo instante. Você vê que Aquilo que é forma é sem forma e você é Aquilo que está vendo essa forma – você é a Fonte de ambas.Você é o vazio e a plenitude, ou Aquilo que é forma e não-forma, já que as duas são como o que você é, feito o espaço e Aquilo que nem mesmo forma não é.


Karl Renz
“O próximo gole de café” –ou: “Impiedosa graça” 
Oito Dias em Tiruvannamalai: Conversas com Karl

Um absoluto não saber


Myoe Win Aung

Nesse não-compreender absoluto, 
você compreende. 
Nessa imbecilidade absoluta, nessa escuridão absoluta,
nessa absoluta falta de luz, de um saber ou não-saber, 
você sabe. 
E como vê nessa fração de segundo, 
apesar de um saber ou não-saber, 
você é.

(...)

Assim, ao absolutamente não se encontrar,
você descansa.
Mas isso não é como um terreno onde pousar;
 isso é um absoluto não saber.
Isso é a liberdade total do não saber,
não de alguma definição.

Karl Renz

“O próximo gole de café” –ou: “Impiedosa graça” 
Oito Dias em Tiruvannamalai: Conversas com Karl

As práticas espirituais e materiais deveriam atuar conjuntamente

A religiosidade não deveria colidir com as atividades comuns; e vice-versa. Quando tal conflito ocorre, o dever espiritual é incompleto e deveria ser modificado. As atividades comuns também deveriam ser revisadas quando se opõem àquelas de natureza espiritual. As práticas espirituais e materiais deveriam atuar conjuntamente, harmoniosamente e uniformemente.

Paramhansa Yogananda 
The Second Coming of Christ

Escrituras

Myoe Win Aung 

Todas as Escrituras, como o Bhagavad Gita (ou a Bíblia Hindu) e a Bíblia Cristã tem um significado triplo. Em outras palavras, o Escrituras lidam com três fatores dos seres humanos, isto é, o material, o mental, e o espiritual. Assim, todas as verdadeiras Escrituras têm sido escritas de forma a serem benéficas para o corpo, mente e a alma do homem.

Paramhansa Yogananda
The Second Coming of Christ

"Então, que sou eu?"


É suficiente saber o que você não é. Não necessita saber o que é.


Maharaj
I'm That - Dialogues of Sri Nisargadatta Maharaj
The Sense of ‘I am’

Pode haver uma mente feliz?

Artavazd Talalyan


(...)


Maharaj: O que você considera estar errado com sua mente? 

Q: É inquieta, ávida pelo agradável e tem medo do desagradável.

M: O que está errado com a sua busca do agradável e fugir ao desagradável? Entre os bancos de dor e prazer o rio da vida flui. É só quando a mente se recusa a fluir com a vida, e fica presa nos bancos, que se torna um problema. Ao fluir com a vida eu quero dizer aceitação - deixar vir o que vem e ir o que vai. Não desejar, não temer, observar o real, como e quando isso acontece, pois você não é o que acontece, você é a quem isso acontece. Em última análise, até mesmo o observador você não é. Você é a potencialidade máxima de que a consciência toda abrange, é a manifestação e a expressão.

(...)

Q: Nossa questão é: pode haver uma mente feliz?

M: O desejo é a memória do prazer e o medo é a memória da dor. Ambos fazem a mente inquieta. Momentos de prazer são apenas lacunas no fluxo de dor. Como pode a mente ser feliz? 

Q: Isso é verdade quando desejamos prazer ou esperamos a dor. Mas há momentos de alegria inesperada, imprevista. Alegria pura, não contaminada pelo desejo - não procurada, imerecida, dada por Deus.

M: Ainda assim, a alegria é só alegria contra um fundo de dor.


I'm That - Dialogues of Sri Nisargadatta Maharaj 
The Living Present

Nosso real propósito

...O que nos cumpre fazer é, segundo me parece, tornar-nos cônscios das condições de nossa existência diária, de nossos infortúnios, nossas angústias, nossa confusão e conflito, e tratar de compreendê-los tão profundamente que possamos lançar uma base adequada, para começar. Não há outra solução. Temos de enfrentar-nos assim como somos e não como deveríamos ser, segundo um certo padrão ou ideal. Temos de ver realmente o que somos e, daí, iniciar a transformação radical.

Direis: "Que efeito ou valor pode ter uma transformação individual? Como poderá isso alterar o curso da existência humana? Que pode um só indivíduo fazer?" 

Esta me parece uma pergunta errônea, porque não existe tal coisa - consciência individual; só há consciência, da qual somos uma parte. Um indivíduo pode segregar-se, cercar-se dentro de um determinado espaço chamado "eu". Mas esse eu está relacionado com o todo, esse eu não é separado. E, com a transformação dessa seção específica, dessa determinada parte, podemos influir na totalidade da consciência. 

Considero muito importante compreender que não estamos falando de salvação individual ou reforma individual, porém, sim, da necessidade de estarmos conscientes da parte em relação com o todo. Desse percebimento nascerá uma ação que atingirá o todo...

J. Krishnamurti
http://despertandonaluz.blogspot.com.br/2009/12/nosso-real-proposito.html

Sua mente é como um gramofone repetindo uma canção que você ouviu



(...) Você vai ao escritório, faz seu trabalho, e volta, seguindo dia a dia o mesmo antigo padrão; e não quer nenhuma perturbação desse padrão o que significa que você está superficialmente satisfeito. 

Quando é perturbado superficialmente, busca mais satisfação, assim sua vida permanece no nível superficial. 

Embora você possa meditar, ler as escrituras, pensar em Deus, é tudo na superfície. Sua mente é como um gramofone repetindo uma canção que você ouviu. Não é nem mesmo sua canção, é a canção de outro; e pode nem haver “sua canção”, mas apenas “a canção”. 

Assim, é muito importante compreender não só o consciente, mas também a mente inconsciente. A mente inconsciente é muito mais poderosa, muito mais insistente, muito mais diretiva e conservadora do que a mente consciente; porque o consciente é simplesmente a mente educada que se ajustou ao meio ambiente. 

(...) Se posso sugerir, olhem suas próprias mentes; não ouçam apenas as minhas palavras, mas através de minhas palavras, observe a operação de seu próprio pensar e descubra você mesmo. Estou descrevendo o quadro, mas é seu quadro, não meu. 

Se você realmente olhar para si mesmo, verá uma mudança radical acontecendo apesar de sua mente consciente. É como uma semente que, sendo lançada em solo fértil, rompe pela terra e brota. Então, posso eu respeitosa e persistentemente pedir que você ouça de modo que pela atividade de ouvir, descubra os fatos reais, a verdade sobre você mesmo. A descoberta dessa verdade vai libertar a mente. 

J. Krishnamurti
Collected Works, Volume IX. Colombo 3rd Public Talk 20th January 1957
http://www.jkrishnamurti.org/pt/krishnamurti-teachings/view-daily-quote/20120526.php?utm_source=feedburner&utm_medium=email&utm_campaign=Feed%3A+JKOnline_DailyQuotes_PT+%28JKOnline+RSS+PT%29

Conversa com Maharaj

Maharaj: Você pode sentar no chão? Precisa de uma almofada? Tem qualquer pergunta a fazer? Não é que você necessite perguntar, você pode também ficar quieto. Ser, só ser, é importante. Você não precisa perguntar, nem fazer nada. Tal modo aparentemente preguiçoso de passar o tempo é altamente considerado na Índia. Significa que, no momento, você está livre da obsessão do “e agora?”. Quando você não tem pressa e a mente está livre da ansiedade, ela se torna tranqüila e, no silêncio, algo pode ser ouvido, o qual é ordinariamente muito tênue e sutil para ser percebido. A mente deve estar aberta e serena para ver. O que estamos tentando fazer aqui é trazer nossas mentes para dentro do estado adequado ao entendimento do que é real. 

Pergunta: Como podemos reduzir nossas preocupações? 

M: Você não necessita preocupar-se com suas preocupações. Apenas seja. Não tente estar tranqüilo; não faça do “estar tranqüilo” uma tarefa a ser realizada. Não se inquiete a respeito de “estar tranqüilo”, angustiado por “ser feliz”. Simplesmente, seja consciente de que você é, e permaneça consciente – não diga “sim, eu sou; e agora?” Não há um “e agora?” no “Eu sou”. É um estado eterno. 

P: Se for um estado eterno, ele se expressará de qualquer modo. 

M: Você é o que é, eternamente, mas de que lhe serve isto a menos que você o conheça e saiba agir de acordo? Sua tigela de mendigo pode ser de puro ouro, mas, enquanto você não souber disto, será um miserável. Você deve conhecer seu valor interno e confiar nele, e expressá-lo no diário sacrifício do desejo e do medo. 

P: Se eu me conhecesse, não deveria desejar ou temer. 

M: Durante algum tempo, os hábitos mentais podem demorar-se apesar da nova visão – o hábito de desejar o passado conhecido e temer o futuro desconhecido. Quando você souber que estes só pertencem à mente, poderá ir além deles. Enquanto tiver todo o tipo de idéia sobre si mesmo, conhecer-se-á através da névoa destas idéias; para conhecer-se tal com é, abandone todas as idéias. Não pode imaginar o sabor da água pura, só pode descobri-lo abandonando todos os sabores. Enquanto estiver interessado em seu modo atual de vida, você não o abandonará. O descobrimento não poderá vir, enquanto você estiver aderido ao familiar. Só quando você compreender plenamente a imensa aflição de sua vida, e se rebelar contra ela, poderá encontrar a saída. 

P: Posso ver agora que o segredo da vida eterna da Índia está nestas dimensões da existência das quais a Índia sempre teve a custódia.

M: É um segredo aberto e sempre houve pessoas querendo, e dispostas a distribuí-lo. Mestres, há muitos; discípulos corajosos, muito poucos. 

P: Estou desejoso de aprender. 

M: Aprender palavras não é o bastante. Você pode conhecer a teoria, mas sem a experiência real de si mesmo como o impessoal e não qualificado centro de Ser, amor e bem-aventurança, o mero conhecimento verbal será estéril. 

P: Então, o que faço? 

M: Tente ser, apenas ser. A palavra mais importante é “tentar”. Destine tempo suficiente a cada dia para sentar-se quietamente e tentar, apenas tentar, ir além da personalidade com seus vícios e obsessões. Não pergunte como, não pode ser explicado. Siga tentando até ser bem sucedido. Se perseverar, não poderá haver fracasso. O que interessa no grau máximo é a sinceridade, a seriedade; deve estar farto de ser a pessoa que é, e ver a urgente necessidade de libertar-se desta desnecessária auto-identificação com um punhado de recordações e hábitos. Esta firme resistência contra o desnecessário é o segredo do êxito. No final das contas, você é o que é a cada momento de sua vida, mas nunca é consciente disto, exceto, talvez, no momento de acordar do sono. Tudo quanto necessita é ser consciente do ser, não como uma afirmação verbal, mas como um fato sempre presente. A Consciência que você é abrirá os seus olhos para o que você é. É tudo muito simples. Em primeiro lugar, estabeleça um contato constante consigo mesmo, esteja consigo mesmo todo o tempo. Todas as bênçãos fluem da Consciência. Comece como um centro de observação, de conhecimento deliberado, e torne-se um centro de amor em ação. “Eu sou” é uma pequena semente que se tornará uma poderosa árvore – de forma totalmente natural, sem um traço de esforço. 

P: Vejo tanto mal em mim mesmo. Não devo mudar isto? 

M: O mal é a sombra da falta de atenção. Na luz da Consciência, ele secará e cairá. Toda dependência de outro é fútil, pois o que os outros podem dar, outros levarão. Apenas o que é seu no princípio permanecerá seu ao final. Não aceite orientação exceto de dentro e, mesmo então, examine bem todas as lembranças, pois elas o enganarão. Mesmo que desconheça os caminhos e os meios, fique quieto e olhe para dentro de si mesmo; a orientação, seguramente, virá. Você nunca é deixado sem conhecer que próximo passo deverá dar. O problema é que você pode evitá-lo. O Guru está aí para dar-lhe coragem, devido à sua experiência e realização. Mas só aquilo que você descobre através de sua própria Consciência, seu próprio esforço, será de uso permanente para você. Lembre-se, nada do que você percebe é seu. Nada de valor vem a você do exterior; apenas seu próprio sentimento e entendimento são relevantes e reveladores. Palavras ouvidas, ou lidas, apenas criarão imagens em sua mente, mas você não é uma imagem mental. Você é o poder da percepção e da ação por trás e além da imagem. 

P: Parece que você me aconselha a centrar-me em mim mesmo ao ponto do egoísmo. Não devo render-me a meu interesse pelas outras pessoas? 

M: Seu interesse nos outros é egoísta, é interesse próprio, orientado para si mesmo. Você não está interessado nos outros como pessoas, mas só na medida em que eles enriquecem ou enobrecem sua própria imagem de si mesmo. E o maior egoísmo é cuidar apenas da proteção, preservação e multiplicação do próprio corpo. Por corpo quero dizer tudo o que está relacionado com seu nome e forma – sua família, tribo, país, raça, etc. O egoísmo é estar apegado à forma e ao nome. Um homem que sabe que não é nem corpo nem mente não pode ser egoísta, pois não tem nada por que ser egoísta. Ou, você pode dizer que é igualmente “egoísta” em benefício de todos aqueles que encontra; o bem-estar de todos é o seu bem-estar. O sentimento “eu sou o mundo, o mundo sou eu mesmo” torna-se totalmente natural; uma vez que isto esteja estabelecido, não haverá modo de ser egoísta. Ser egoísta significa invejar, adquirir, acumular em benefício da parte e contra o todo.

P: Pode-se ser rico e com muitas posses por herança ou matrimônio, ou simplesmente boa sorte. 

M: Se você não se aferrar a elas, serão levadas de você. 

P: Em seu estado presente, pode amar outra pessoa como pessoa? 

M: Eu sou a outra pessoa, a outra pessoa sou eu mesmo; em nome e forma somos diferentes, mas não há separação. Na raiz de nosso ser, nós somos um. 

P: Não é assim toda vez que há amor entre pessoas? 

M: É, mas não são conscientes disto. Elas sentem a atração, mas não conhecem a razão. 

P: Por que o amor é seletivo? 

M: O amor não é seletivo, o desejo é seletivo. No amor não há estranhos. Quando o centro do egoísmo não existe mais, todos os desejos de prazer e temor da dor cessam; não se está mais interessado em ser feliz; além da felicidade está a pura intensidade, a energia inesgotável, o êxtase de dar de uma fonte perene.  

P: Não devo começar resolvendo por mim mesmo o problema do certo e do errado? 

M: O que é agradável, as pessoas tomam por bom, e o que é doloroso é tido por mau. 

P: Sim, é assim, para nós, pessoas comuns. Mas como é para você, no nível da unidade? O que é bom e o que é mau para você? 

M: O que aumenta o sofrimento é mau e o que o remove é bom. 

P: De modo que você não considera bom o sofrimento em si mesmo. Há religiões em que o sofrimento é considerado bom e nobre. 

M: O karma, ou destino, é a expressão de uma lei benéfica; o universal tende ao equilíbrio, à harmonia e à unidade. A cada momento, aquilo que acontece agora é no sentido do melhor. Pode parecer doloroso ou feio, um sofrimento amargo e sem sentido, mesmo assim, considerando o passado e o futuro, é para melhor, a única saída de uma situação desastrosa. 

P: Sofre-se apenas pelos próprios pecados? 

M: Sofre-se junto com o que se acredita ser. Se você se sentir um com a humanidade, você sofrerá com ela. 

P: E, posto que você pretende ser um com o universo, não há limite no tempo e no espaço para seu sofrimento! 

M: Ser é sofrer. Quanto mais estreito for o círculo de minha auto-identificação, mais agudo o sofrimento causado pelo desejo e pelo medo. 

P: O Cristianismo aceita o sofrimento como purificador e enobrecedor, enquanto o Hinduísmo o olha com desgosto. 

M: O Cristianismo é uma maneira de juntar palavras e o Hinduísmo é outra. O real é, por trás e além das palavras, incomunicável, diretamente experimentado, explosivo em seus efeitos sobre a mente. É facilmente obtido quando não se quer nada mais. O irreal é criado pela imaginação e perpetuado pelo desejo. 

P: Pode haver sofrimento que seja necessário e bom? 

M: A dor acidental, ou casual, é inevitável e transitória; a dor deliberada, infligida inclusive com a melhor das intenções, é absurda e cruel. 

P: Você não castigaria o crime? 

M: A punição não é senão crime legalizado. Na sociedade construída sobre a prevenção em vez da retaliação, haveria poucos delitos. As poucas exceções seriam tratadas medicamente, como mente e corpo enfermos. 

P: Parece que você tem pouco emprego para a religião. 

M: O que é a religião? Uma nuvem no céu. Eu vivo no céu, não nas nuvens, as quais são muitas palavras unidas. Elimine a verbosidade e o que permanece? A verdade permanece. Meu lar está no imutável, o qual parece ser o estado de constante reconciliação e integração dos opostos. As pessoas vêm aqui para aprender sobre a existência real de tal estado, sobre os obstáculos a seu surgimento e, uma vez percebido, sobre a arte de estabelecê-lo na consciência, de modo que não haja choque entre o entendimento e o viver. O próprio estado está além da mente e não é necessário aprendê-lo. A mente pode apenas focar os obstáculos; ver um obstáculo como obstáculo é eficaz, porque é a ação da mente sobre a mente. Comece do início; dê atenção ao fato de que você é. Em nenhum momento você pode dizer “eu não fui”, tudo o que pode dizer é: “Não recordo”. Você sabe quão incerta é a memória. Aceite que, preocupado com mesquinhos assuntos pessoais, esqueceu o que é; trate de recuperar a memória perdida mediante a eliminação do conhecido. Não se pode falar a você sobre o que vai acontecer, nem tampouco é desejável; a antecipação criará ilusões. Na busca interior, o inesperado é inevitável; o descobrimento está invariavelmente além de toda a imaginação. Do mesmo modo que uma criança ainda não nascida não pode conhecer a vida depois do nascimento, pois não tem em sua mente nada para formar uma imagem válida, assim também a mente é incapaz de pensar no real em termos de irreal exceto mediante a negação: “Isto não, aquilo não”. A aceitação do irreal como real é o obstáculo; ver o falso como falso, e abandoná-lo, traz a realidade para dentro do ser. Os estados de total claridade, amor imenso, coragem completa, são meras palavras no momento, perfis sem cor, sinais do que pode ser. Você é como um homem cego esperando ver depois de uma operação – desde que você não a evite! No estado em que estou, as palavras não interessam de forma alguma. Nem há qualquer dependência delas. Só importam os fatos. 

P: Não pode haver nenhuma religião sem palavras. 

M: As religiões documentadas são meros montes de verbosidade. As religiões mostram seu verdadeiro rosto na ação, na ação silenciosa. Para saber no que o homem acredita, observe como ele age. Para a maioria das pessoas, o serviço a seus corpos e mentes é sua religião. Podem ter idéias religiosas, mas não agem de acordo com elas. Brincam com elas, muitas vezes sentem-se muito orgulhosas delas, mas não agirão de acordo com elas. 

P: As palavras são necessárias para a comunicação.

M: Para a troca de informações, sim. Mas a comunicação real entre as pessoas não é verbal. Para estabelecer e manter uma relação afetuosa, requer-se uma Consciência expressa na ação direta. Não o que você diz, mas o que faz é que importa. As palavras são fabricadas pela mente e só são significativas no nível mental. Não pode comer nem viver da palavra “pão” que, meramente, comunica uma ideia. Ela adquire significado apenas com a refeição real. No mesmo sentido, estou lhe falando que o Estado Normal não é verbal. Posso dizer que é o amor sábio expresso na ação, mas estas palavras transmitem pouco, a menos que você as experimente em toda sua plenitude e beleza. As palavras têm sua utilidade limitada, mas não pôr nenhum limite a elas nos leva à beira do desastre. Nossas nobres idéias estão elegantemente equilibradas por ações desprezíveis. Nós falamos de Deus, Verdade e Amor, mas, em lugar de experiências diretas, nós temos definições. Em vez de aumentar e aprofundar a ação, nós cinzelamos nossas definições. E imaginamos que conhecemos o que podemos definir! 

P: Como se pode transmitir a experiência senão por palavras? 

M: A experiência não pode ser transmitida através de palavras. Vem com a ação. Um homem cuja experiência é intensa irradiará confiança e coragem. Outros também agirão, e ganharão a experiência nascida da ação. O ensinamento verbal tem sua utilidade, prepara a mente para esvaziar-se de suas acumulações. Um nível de maturidade mental é alcançado quando nada externo é de algum valor e o coração está pronto para abandonar tudo. Então o real tem uma oportunidade e a aproveita. Os atrasos – se houver algum – são causados pela mente que se recusa a ver ou a descartar. 

P: Estamos tão totalmente sós? 

M: Oh, não! Não estamos. Aqueles que têm podem dar. E tais doadores são muitos. O próprio mundo é um presente supremo, mantido por um amoroso sacrifício. Mas, os adequados receptores, sábios e humildes, são poucos. “Pedi e será dado” é a lei eterna. Tantas palavras você tem aprendido, tantas você tem dito. Você conhece tudo, mas não a si mesmo. Porque o ser não é conhecido através de palavras – apenas a percepção direta o revelará. Olhe dentro de si mesmo, busque no interior. 

P: É muito difícil abandonar as palavras. Nossa vida mental é uma corrente contínua de palavras. 

M: Não é questão de fácil ou difícil. Você não tem alternativa. Ou você tenta, ou não. Depende de você.

P: Tentei muitas vezes e fracassei. 

M: Tente novamente. Se continuar tentando, alguma coisa poderá acontecer. Mas se você não tentar, estará preso. Você pode conhecer todas as palavras adequadas, citar as escrituras e ser brilhante em suas discussões e, mesmo assim, continuar sendo um saco de ossos. Ou pode ser discreto e humilde, uma pessoa totalmente insignificante, todavia resplandecente de amorosa bondade e profunda sabedoria.

Eu Sou Aquilo - Conversações com Sri Nisargadatta Maharaj

Eu Sou Aquilo - Obsessões com o corpo

Questão: Maharaj, você está sentado na minha frente e eu estou aqui a seus pés. Qual é a diferença básica entre nós?

Maharaj: Não há nenhuma diferença básica.


Q: Ainda deve haver alguma diferença real, eu venho até você, você não vem até mim.

M: Como você imagina as diferenças, vai aqui e ali em busca de pessoas superiores.


Q: Você também é uma pessoa superior. Você diz que sabe o real, enquanto eu não.

M: Eu já lhe disse que você não conhece e, portanto, você é inferior? Que aqueles que inventaram essas distinções provem-na. Não tenho a pretensão de saber o que você não faz. Na verdade, eu sei muito menos do que você.


Q: Suas palavras são sábias, seu comportamento nobre, sua graça todo-poderoso.

M: Não sei nada sobre tudo isso e não vejo nenhuma diferença entre mim e você. Minha vida é uma sucessão de eventos, como a sua. Só que eu estou separado e vejo o show que passa, como um show que passa, enquanto você se identifica com as coisas e se move junta a elas.


Q: O que te fez tão imparcial?

M: Nada em particular. Acontece que eu confiei em meu Guru. Ele me disse que eu não sou nada, mas meu ego e eu acreditei nele. Confiando nele, eu me comportava de acordo e deixou eu cuidar daquilo que não era eu, nem meu.


Q: Por que você estava a sorte de confiar em seu professor plenamente, enquanto a nossa confiança é nominal e verbal?

M: Quem pode dizer? Aconteceu assim. As coisas acontecem sem causa e razão e, afinal, o que importa, quem é quem? Sua opinião elevada de mim é a sua opinião apenas. A qualquer momento você pode mudá-la. Por que atribuem importância a opiniões, mesmo a sua própria?


Q: Ainda assim, você é diferente. Sua mente parece estar sempre tranquila e feliz. E os milagres acontecem em volta de você.

M: Não sei nada sobre milagres, e me pergunto se a natureza admite exceções às suas leis, a menos que concordemos que tudo é um milagre. Quanto à minha mente, não há tal coisa. Há consciência na qual tudo acontece. É bastante óbvio e na experiência de todos. Você simplesmente não olham com cuidado o suficiente. Olhe bem, e verá o que eu vejo.


Q: O que você vê?

M: Eu vejo que você também pode ver, aqui e agora, mas para o foco errado de sua atenção. Você não dão atenção para o seu Eu. Sua mente está repleta com coisas, pessoas e idéias, nunca com o seu Eu.

Traga o seu Eu em foco, torne-se consciente de sua própria existência. Veja como você funciona, veja os motivos e os resultados de suas ações. Estude a prisão que você construiu em torno de si, por inadvertência.

Ao saber o que você não é, você chegou a conhecer a si próprio. O caminho de volta para seu Eu é através da recusa e da rejeição. Uma coisa é certa: o real não é imaginário, não é um produto da mente. Mesmo o sentido "eu sou" não sendo continuo, embora seja um indicador útil; ele mostra onde procurar, mas não o que procurar.

Basta dar uma boa olhada nele. Uma vez que você estiver convencido de que você não pode dizer a verdade sobre o seu Ser nada, exceto "eu sou", e que nada que possa ser apontado, pode ser o seu Eu, a necessidade de "eu sou" termina - você não mais tem a intenção em verbalizar o que você é.

Tudo que você precisa é livrar-se da tendência para definir o seu Eu. Todas as definições se aplicam ao seu corpo somente e suas expressões. Uma vez que esta obsessão com o corpo vai, você voltará ao seu estado natural, espontaneamente e sem esforço.

A única diferença entre nós é que estou ciente do meu estado natural, enquanto você está confuso. Assim como o ouro transformado em ornamentos não tem vantagem sobre pó de ouro, exceto quando a mente faz com que seja assim, também nós somos um em Ser - nós diferimos apenas na aparência. Descobrimos isso sendo sérios, pesquisando, perguntando, questionando diariamente e a cada hora, dando vida a essa descoberta.

I AM THAT
Nisagardatta Maharaj


Auto-realização


Consciência é o Eu de que todos estão conscientes. Ninguém nunca está afastado do Eu Real, e portanto todos são de fato Auto-Realizados; o que acontece é que – e este é o grande mistério – as pessoas não sabem disso e buscam realizar o Eu Real. A Realização consiste apenas em se libertar da falsa noção de que não somos realizados. Não é nada novo a ser adquirido. Ela deve já existir, caso contrário ela não seria eterna, e apenas vale a pena se esforçar por aquilo que é eterno.

Ramana Maharshi
Os Ensinamentos de Ramana Maharshi em Suas Próprias Palavras

Quem sou eu?


Eu tenho um corpo, mas eu não sou meu corpo. Eu posso ver e sentir meu corpo, E o que pode ser visto e sentido não é o verdadeiro Vidente. Meu corpo pode estar cansado ou excitado, Doente ou saudável, pesado ou leve, mas isso nada tem a ver com meu Eu interior. Eu tenho um corpo, mas eu não sou meu corpo.

Eu tenho desejos, mas eu não sou meus desejos, eu posso conhecer meus desejos, e o que pode ser conhecido não é o verdadeiro. Conhecido. Desejos vêm e vão, flutuando através de minha percepção, mas eles não afetam meu Eu interior. Eu tenho desejos, mas não sou desejos. 

Eu tenho emoções, mas eu não sou minhas emoções. Eu posso sentir minhas emoções, e o que pode ser sentido não é o verdadeiro Senciente. As emoções passam através de mim, mas elas não afetam meu Eu interior. Eu tenho emoções, mas eu não sou emoções. 

Eu tenho pensamentos, mas eu não sou meus pensamentos. Eu posso conhecer e intuir meus pensamentos, E o que pode ser conhecido não é o verdadeiro Conhecedor. Pensamentos vêm a mim e pensamentos me deixam, mas eles não afetam meu Eu interior. Eu tenho pensamentos, mas não sou meus pensamentos. 

Eu sou o que permanece, um centro puro de percepção, uma testemunha impassível de todos esses pensamentos, emoções, sentimentos e desejos.

Ramana Maharshi

O Mundo é Real


O mundo é real tanto para aqueles que não realizaram quanto para aqueles que realizaram o Eu Real. Mas para os que não realizaram, a Verdade é delimitada pela forma do mundo, enquanto que para os que realizaram, a Verdade brilha como a perfeição sem forma a Realidade sobre a qual o mundo aparece. Esta é a única diferença entre eles.

Ramana Maharshi
Os Ensinamentos de Ramana Maharshi em Suas Próprias Palavras

Remoção da Ignorância

                                                          Sandra Francis

A expressão "auto-realização", nos diz Ramana Maharshi, é apenas um eufemismo para "remoção da ignorância". Nada há para ser adquirido; há, apenas, ignorância a ser removida. Somos a própria vida, o Ser Infinito, a fonte de todas as coisas. 

 http://pt.wikipedia.org/wiki/Ramana_Maharshi

Sair da prisão da ignorancia


A alegoria da caverna, baseada no estudo hindu da "maya" (literalmente "medir", "avaliar"), se refere a essa limitação: a idéia é diferente daquilo que verdadeiramente "é". 

É preciso ultrapassar a limitação dos conceitos, das idéias, das imagens, das representações. Sair da prisão da ignorância, representada pela caverna, para o espaço infinito da bem-aventurança. 

A própria alegoria não é bem compreendida no suposto "mundo ocidental". Tomar o resultado da avaliação como verdade é tomar as sombras pela coisa em si, e, por conseguinte, viver na ilusão. 

A ignorância basilar é a que existe com relação ao "eu". Julgo conhecer-me por meio de uma representação. Desconhecendo quem é o conhecedor, busco conhecer o universo, os seres vivos, os objetos. Deles também construo representações. A representação que construo a respeito de mim mesmo, que é sempre incompleta, e com a qual me identifico, busca, em vão, completar-se por meio de conhecimentos, sensações, posses, prestígio. Nessa busca, ela tem continuidade, com a inseparável sensação de incompletude e, portanto, de sofrimento. 

http://pt.wikipedia.org/wiki/Ramana_Maharshi

o silêncio do sim do silêncio


Neste exato momento, você tem a oportunidade de cessar o insaciável fluxo dos desejos e abrir os olhos para a sutil realidade de que há uma alegria inerente, que independe absolutamente dos acontecimentos externos. Existe um ponto de maturidade em que deve ficar claro para você que a sua alegria não tem nada a ver com o lado de fora.
Do lado de fora, tudo o que te é dado, pode ser tirado. Então, de verdade, não há nada que possa ser “seu” – nem mesmo este “você” que você pensa ser. Milhares de coisas acontecem com o seu corpo e atravessam a sua mente à revelia de qualquer decisão sua.
Essa percepção traz quietude e alegria à sua vida. Por mais conquistas que você obtenha, sem essa percepção ainda haverá frustração. No entanto, diante da percepção da Consciência que você é, os desejos surgem e não mais ditam uma direção a seguir. Tudo pode vir e ir, na mesma intensidade e aceitação.
Aquiete-se e diga-me: o que está faltando à você neste mínimo instante? Organize o simples fato de que os desejos sejam frutos da mente e deixe que isso aconteça sem envolvimento ou interferência. Desprenda-se do fluxo imposto pelo mundo e entregue-se ao “sim” do Silêncio.

Satyaprem

"(...) Percorrer o caminho inverso"



Estou sentindo RAIVA. Por quê?
Existe um CONFLITO ... 

Qual o motivo desse CONFLITO? 
Algo está se interpondo ao meu OBJETIVO (ganancioso e egoísta).

E por que eu tenho propósitos EGOÍSTAS? 
Porque eu acho que estou SEPARADO dos demais... Preciso apenas pensar naquilo que é bom para mim. 

E porque acho que estou SEPARADO dos demais? 
Porque tenho uma PERCEPÇÃO ILUSÓRIA da vida, baseada em minha CONSCIÊNCIA DE CORPO... que me leva a fazer as coisas baseado nessa separatividade e no MEDO. 

PR

"Ame e faça o que quiser"

Leis, mandamentos, normas e regulamentos são necessários para aqueles que estão separados de quem eles são, da sua verdade interna. Essas regras destinam-se a evitar os piores excessos do ego, porém, em geral, não são capazes sequer de fazer isso. "Ame e faça o que quiser", disse Santo Agostinho. As palavras não conseguem chegar mais perto da verdade do que isso.

De "O Despertar de Uma Nova Consciência", Eckhart Tolle

Fatos e interpretações

Todo ego confunde opiniões e pontos de vista com fatos. Além disso, nenhum ego consegue estabelecer a diferença entre um acontecimento e sua reação a ele. O ego é sempre um mestre da percepção seletiva e da interpretação distorcida.


Apenas por meio da consciência - e não do pensamento - somos capazes de diferenciar entre fato e opinião. Somente por intermédio da consciência uma pessoa consegue ver o seguinte: esta é a situação e aqui está a raiva que sinto dela. Depois, compreende que existem outras formas de abordar aquela circunstância e maneiras diferentes de entendê-la e de lidar com ela.

Só com o uso da consciência conseguimos ver a totalidade da situação ou da pessoa em vez de adotarmos um ponto de vista limitado.


De "O Despertar de Uma Nova Consciência", Eckhart Tolle

"Porque muitas pessoas passam talvez 70% de suas vidas esperando por algo"

Sabedoria só pode surgir quando você acessa a dimensão do não pensar em você mesmo.

Os homens e mulheres sábios não têm nada que você não tenha.

Ele ou ela estão simplesmente atentos à dimensão da quietude, a dimensão do não pensar. É daí que toda sabedoria surge. O que também está em você.

Então, trazer isso à vida do dia-a-dia, mediante estar atento ao campo interior de energia do corpo. Estar alerta ao senso de percepção, em outras palavras ficar alerta ao presente sem pensamentos.

Algumas vezes ao dia olhe em torno do quarto em que você fica sentado. Isso requer um alto grau de estado de alerta, sim, mas isto está em você.

Então, periodicamente, mesmo que cinco segundos a cada vez, você traz o não-pensar. Não no seu sentido usual, mas aqui o não-pensar implica em mais consciência.

E então você percebe que a compulsão por pensar é somente um hábito profundamente estabelecido.

E não ouça a mente quando ela diz "não tenho tempo para estar no presente agora...". Nem mesmo dez segundos? Não é verdade. Ex.: Você espera o elevador e pressiona o botão. Está você se projetando mentalmente para onde quer chegar, ou está simplesmente ali? Está você imerso em pensamentos ou está usando essa oportunidade para simplesmente estar presente com seu inteiro ser, parado ali não esperando por nada?

Porque muitas pessoas passam talvez 70% de suas vidas esperando por algo. É sempre a próxima coisa a fazer que não foi totalmente terminada ainda. É sempre a próxima coisa a acontecer... "Eu estou esperando por isso...". Por que não usar todo o período de espera para estar presente? Então você entra no elevador e pressiona o térreo... E ele desce... Então há uma vivificação em seu inteiro campo de energia. E é lindo!

(...)

Eckhart Tolle
Vídeo: A Sabedoria na Vida Diária



Queixas e Ressentimentos

Queixar-se é uma das estratégias prediletas do ego para se fortalecer. Cada reclamação é uma pequena história que a mente cria e na qual acreditamos inteiramente. 

(...) O ressentimento é a emoção que acompanha a queixa e a rotulagem mental dos outros. Ele acrescenta ainda mais energia ao ego. Ressentir-se significa ficar magoado, melindrado ou ofendido. Costumamos nos sentir assim em relação à cobiça das pessoas, à sua desonestidade, à sua falta de integridade, ao que estão fazendo no presente, ao que fizeram no passado, ao que disseram, ao que deixaram de dizer, à atitude que deviam ou não ter tomado. O ego adora isso. Em vez de detectarmos a inconsciência nos outros,nós a transformamos em sua identidade. Quem é o responsável por isso? Nossa própria inconsciência, o ego. 

Algumas vezes, a "falta" que apontamos em alguém nem mesmo existe. Ela pode ser um erro total de interpretação,uma projeção feita por uma mente condicionada a ver inimigos e a se considerar sempre certa ou superior. 

Em outras ocasiões, a falta pode ter ocorrido; contudo, se nos concentrarmos nela, às vezes excluindo todo o resto, nós a tornamos maior do que é. E dessa maneira fortalecemos em nós mesmos aquilo a que reagimos no outro.

Não reagir ao ego das pessoas é uma das maneiras mais eficazes de não só superarmos nosso próprio ego como também de dissolver o ego humano coletivo. No entanto, só conseguimos nos abster de reagir quando somos capazes de reconhecer o comportamento de alguém como originário do ego,como uma expressão do distúrbio coletivo da espécie humana. Quando compreendemos que não se trata de nada pessoal, a compulsão para reagir desaparece. Não reagindo ao ego, muitas vezes podemos fazer aflorar a sanidade nos outros, que é a consciência não condicionada em oposição à consciência condicionada. 

Em determinadas ocasiões, talvez precisemos tomar providências práticas para nos proteger de pessoas profundamente inconscientes. Isso é algo que temos condições de fazer sem torná-las nossas inimigas. Nossa maior defesa, contudo, é sermos conscientes. Alguém passa a ser um inimigo quando personalizamos a inconsciência que é o ego. A não-reação não é fraqueza, mas força. Outra palavra para não-reação é perdão. Perdoar é ver além, ou melhor, é enxergar através de algo. E ver, através do ego, a sanidade que há em cada ser humano como sua essência. 

O ego adora reclamar e se ressente não só de pessoas como de situações. O que podemos fazer com alguém também conseguimos fazer com uma circunstância: transformá-la num inimigo. Os pontos implícitos são sempre: isso não deveria estar acontecendo, não quero estar aqui, estou agindo contra minha vontade, o tratamento que estou recebendo é injusto. E, é claro, o maior inimigo do ego acima de tudo isso é o momento presente, ou seja, a vida em si.

Não confunda a queixa com a atitude de informar alguém de uma falha ou de uma deficiência para que elas possam ser sanadas. Além disso, abster-sede reclamar não corresponde necessariamente a tolerar algo de má qualidade nem um mau comportamento. Não há interferência do ego quando dizemos ao garçom que a comida está fria e precisa ser aquecida - desde que nos atenhamos aos fatos, que são sempre neutros. "Como você se atreve a me servir uma sopa fria?" Isso é se queixar. Nessa situação, existe um "eu" que adora se sentir pessoalmente ofendido pela comida fria e ele aproveitará esse fato ao máximo, um "eu" que aprecia apontar o erro de alguém. A reclamação a que me refiro está a serviço do ego, e não da mudança. 

 De "O Despertar de Uma Nova Consciência", Eckhart Tolle

A Atitude Reativa e o Rancor


Embora o ressentimento costume ser a emoção que acompanha a queixa, ele também pode vir junto com uma emoção forte, como a raiva ou outra forma de contrariedade. Dessa maneira, torna-se mais carregado energeticamente. A reclamação então se transforma numa atitude reativa, outra maneira que o ego encontra de se fortalecer. Existem muitas pessoas que estão sempre esperando pela próxima coisa contra a qual reagir para que possam se sentir irritadas ou perturbadas - e nunca demora muito até que encontrem o que procuram. "Isso é um insulto", "Como você ousa...", "Estou profundamente magoado com isso" - é o que costumam dizer. Elas são viciadas em se aborrecer e se encolerizar, enquanto os outros funcionam como uma droga. Pela reação a isso ou àquilo, afirmam e intensificam sua percepção do eu. 

Um ressentimento antigo é chamado de rancor. Carregar um sentimento desse tipo é estar permanentemente no estado "contra", e é por isso que o rancor constitui uma parte significativa do ego de muita gente. Quando coletivo, ele pode sobreviver por séculos na psique de um país ou de uma tribo e alimentar um ciclo interminável de violência. 

Um rancor é uma forte emoção negativa ligada a um acontecimento ocorrido no passado, algumas vezes distante, que é mantido vivo pelo pensamento compulsivo que reconta a história, na cabeça ou em voz alta, "do que alguém me fez" ou "do que alguém nos fez". Esse sentimento também é capaz de contaminar outras áreas da vida. Por exemplo, enquanto pensamos sobre o rancor e o sentimos, sua energia emocional nefasta pode distorcer nossa percepção de um acontecimento que está ocorrendo naquele momento ou influenciar a maneira como falamos com alguém no presente ou nosso comportamento em relação a essa pessoa. Um rancor profundo é suficiente para afetar vários aspectos da vida e nos manter nas garras do ego.

É preciso honestidade para verificarmos se ainda guardamos rancores, se existe alguém na nossa vida que não conseguimos perdoar completamente, um "inimigo". Caso você esteja nessa situação, tome consciência do rancor tanto no nível do pensamento quanto no nível emocional, ou seja, conscientize-se dos pensamentos que mantêm a continuidade desse sentimento negativo e sinta a emoção, que é a reação do corpo a esses pensamentos. Não tente deixar o rancor de lado. Tentar perdoar não dá certo. O perdão acontece de modo natural quando entendemos que o rancor não tem outro propósito a não ser fortalecer uma falsa percepção do eu, ou seja, possibilitar a existência do ego. Compreender é libertar-se. O ensinamento de Jesus sobre "perdoar os inimigos" trata, em essência, de desfazer uma das principais estruturas egóicas da mente humana. 

O passado não tem força para nos impedir de viver no estado de presença agora. Apenas o rancor em relação ao passado pode fazer isso. E o que é o rancor? A bagagem de velhos pensamentos e antigas emoções. 

De "O Despertar de Uma Nova Consciência", Eckhart Tolle

Desafio

A mudança chama desafios - olhar para si e para as situações em volta e descobrir como equilibrar esses dois mundos distintos e interligados. 

De "Caminhos para uma consciência mais elevada", Ken O'Donnell

Controle da Fala



A fala é o armamento de todo ser humano. Os animais têm agilidade nos pés, agudez das garras, presas, chifres, dentes, bicos, unhas, etc. Mas os seres humanos são dotados com a fala como uma faculdade, como seu armamento.

A primeira lição no aprendizado fundamental para um aspirante espiritual é o "Controle da Fala". Através da doçura de sua voz, você pode desarmar toda a oposição e derrotar todos os projetos de ódio. Doçura o torna Pashupathi (Divino). Aspereza o torna pashu (Bestial). Mera polidez ou doçura externa é hipocrisia.

A fala sincera deve fluir da doçura real do coração, um coração cheio de amor. Remova todo mal do lago transparente de sua mente e torne-o uma morada adequada para o Divino.

Sathya Sai Baba

Temos de enfrentar-nos assim como somos


(...) O que nos cumpre fazer é, segundo me parece, tornar-nos cônscios das condições de nossa existência diária, de nossos infortúnios, nossas angústias, nossa confusão e conflito, e tratar de compreendê-los tão profundamente que possamos lançar uma base adequada, para começar. Não há outra solução. Temos de enfrentar-nos assim como somos e não como deveríamos ser segundo um certo padrão ou ideal. Temos que ver realmente o que somos e, daí, iniciar a transformação radical.

J. Krishnamurti
http://nossaluzinterior.blogspot.com.br/2012/04/temos-de-enfrentar-nos-assim-como-somos.html
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