No tocar de suas vidas, as pessoas geralmente possuem duas tendências.
Quando oprimidas pelo sofrimento ou numa situação de crise, as pessoas se apressam a alterar a situação. Às vezes elas são capazes de resolver o problema, enquanto em outras vezes elas não conseguem e precisam encarar a perda ou a ruína. Mesmo se forem bem sucedidas, experimentam muita aflição e conflito até encontrar uma solução duradoura; elas podem até encontrar a derrota em meio ao seu sucesso: ‘vencer a batalha, mas perder a guerra’.
Enquanto há tranquilidade na vida cotidiana, tendo as preocupações imediatas atendidas, as pessoas se tornam complacentes, permitindo que seus dias passem na busca por prazer ou entregando-se à gratificação. Elas não se preocupam com a prevenção de danos futuros. A menos que se vejam encurraladas, elas procrastinam as suas responsabilidades. Assaltadas pela aflição ou perigo, se apressam a encontrar alívio.
Depois de o terem alcançado, se contentam em desfrutar de seus deleites. Esse ciclo continua até que um dia elas tornam-se impotentes para alterar o curso dos acontecimentos ou são subjugadas em sua tentativa de fuga.
O comportamento descrito acima é pamāda, que pode ser traduzido de formas variadas como negligência, descuido, lassidão, desprezo, falta de esforço e letargia. Tende a seguir de mãos dadas com a preguiça.
A qualidade oposta é a diligência (appamāda*), que é despertada e guiada por atenção vigilante. Pessoas diligentes estão continuamente cientes do que deve ser evitado e do que deve ser buscado e se comprometem com essas tarefas. Elas reconhecem a importância do tempo, do trabalho e da menor responsabilidade que seja. Não são intoxicadas ou excessivamente encantadas pela vida. Fazem todo o esforço para evitar transgressões, e não perdem oportunidade alguma de evoluir na virtude. Apressam-se em direção a sua meta, ou ao bem, sem interrupção e despendem um grande cuidado em seus preparativos.
Um entendimento das Três Características promove diretamente a diligência, porque quando se sabe que tudo é impermanente, instável, fugaz, não subordinado à vontade e sujeito a causas, apenas uma forma de prática resta, que é agir em conformidade com essas causas. Isso significa que se faz o esforço para se proteger de influências prejudiciais, para reparar os danos, para preservar as qualidades benéficas e para agir de forma meritória no sentido de obter progresso mais adiante.
Tal prática envolve a investigação da causalidade e ação em conformidade com isso. Por exemplo, consciente de que todas as coisas são sujeitas a mudanças, a pessoa se esforça para agir de tal forma que as condições saudáveis desejadas permaneçam durante o maior tempo possível, e que proporcionem o máximo de benefícios aos outros.
* Outras traduções comuns incluem atenção, seriedade, perseverança, cuidado e vigilância.
Ven. Ajahn Payutto