Nesse momento comprometam-se totalmente a esse ponto único durante uma inalação, e depois durante uma exalação. Não tentem fazê-lo durante, digamos, quinze minutos pois nunca seriam bem sucedidos se esse fosse o período de tempo designado para se focarem num só ponto. Portanto usem esta duração de uma inalação e de uma expiração.
O sucesso disto depende mais da vossa paciência do que da vossa vontade, pois a mente vagueia e temos sempre que, pacientemente, voltar à respiração. Quando estamos conscientes de que a mente está a vaguear então reparamos no que se passa: pode se dever ao facto de colocarmos muita energia a princípio e de não a conseguirmos manter depois, fazendo demasiado esforço sem manter o controlo. Estamos assim a usar a duração de uma inalação e a duração de uma exalação de modo a limitar o esforço para apenas este período de tempo, durante o qual mantemos a nossa atenção.
Empenhem-se em colocar um esforço no princípio da inalação e em mantê-lo durante esta. Depois façam o mesmo durante a exalação e de novo na inalação. Eventualmente tudo se torna estável e diz-se que estamos em samādhi quando já não precisamos aplicar esforço. De princípio parece ser um esforço enorme ou parece que não o conseguimos fazer por não termos esse hábito. A maioria das mentes foi treinada para usar o pensamento associativo, para ler livros, para ir de palavra em palavra, para ter pensamentos e conceitos baseados na razão e na lógica. Contudo, ānāpānasati é um tipo diferente de treino onde o objecto no qual nos concentramos é tão simples que não oferece qualquer interesse a nível intelectual. Não se trata de uma questão de se estar interessado, mas de colocar esforço e de usar esta função natural do corpo como um ponto de concentração.
O corpo respira, quer estejamos cientes disso ou não. Não é como prājāyama, onde estamos a desenvolver poder através da respiração. Aqui estamos a desenvolver samādhi’ – concentração – e plena atenção através da observação da respiração, tal como ela é no momento. Como qualquer outra coisa isto é algo que temos de praticar para o podermos fazer; ninguém tem problema algum em perceber a teoria, é a contínua prática dessa teoria que faz com que as pessoas se sintam desencorajadas.
Mas reparem nesse desencorajamento, que surge por não sermos capazes de obter o resultado que desejamos, pois ele é o obstáculo para a prática. Reparem bem nesse mesmo sentimento, reconheçam-no e depois deixem-no ir. Voltem novamente à respiração. Estejam conscientes desse momento em que se sentem fartos ou sentem aversão ou impaciência reconheçam-no, deixem-no ir, e voltem de novo à respiração.
Ajahn Sumedho
Plena Atenção