As raízes de nossos problemas
O monge Bhante Gunaratana quando mudou-se para um monastério nos EUA, deparou-se com a tentativa de plantio de bambus próximo ao templo. Ele chamou a pessoa responsável e disse “Não plante bambu aqui, pois ele cresce muito e vai tampar as janelas do templo.” A pessoa respondeu “Fique tranquilo Bhante, aqui na América os bambus não crescem tanto”. Ele complementou “O bambu não tem em si as separações geográficas que nós criamos. Ele cresce em qualquer lugar e cria raízes profundas.” Mesmo com o apelo do monge os bambus foram plantados.
Seis meses depois o bambu estava alto, grande e tampando as janelas do templo e do quarto do monge. Ele então chamou a responsável e disse “Bom, como eu havia dito, o bambu está tampando as janelas do templo. Vamos providenciar sua retirada”. O bambu foi cortado, a área limpa. Seis meses depois novamente o bambu havia crescido e estavam tampando as janelas. O monge solicitou novamente que cortassem. “Eu disse. As raízes do bambu são profundas, não vai adiantar cortar apenas a superfície.” Dessa vez usaram uma máquina para escavar e retiraram a moita de bambus. Sete meses depois o bambu estava lá novamente. Então foi necessário escavar todo entorno do templo e arredores até que fosse achada toda a raiz do bambu.
Com essa símile o monge, em uma palestra quando esteve no Brasil, exemplificou sobre a luta que empregamos contra nossos problemas pessoais. Quando parece que os resolvemos, eles ressurgem ou tomam uma nova roupagem e se sucedem em ciclos por toda a vida. Ele comparou a forma como solucionamos problemas ao corte da moita de bambu. Nós removemos apenas a superfície (problemas), mas não chegamos até as raízes (causas do problema) que se ramificam e atingem a profundidade de nosso ser inconsciente. Mesmo quando achamos ter retirado os bambus e a raiz, muitas vezes esta última está muito mais além do que conseguimos enxergar e compreender e fatalmente ressurgirá.
E como então remover essas raízes por completo?
A única forma seria trabalhar essas raízes e suas ramificações, extirpando-as de tal forma que elas não pudessem mais nos causar os mesmos problemas. Segundo o monge a meditação com o tempo vai removendo essas raízes de forma sutil e podemos observar isto através das mudanças na superfície, isto é, nossos problemas e como reagimos a eles.
Segundo o Buda a raiz de todo o sofrimento é composta de três fatores: raiva, apego e ignorância. Dessas três raízes iniciais, temos diversas outras ramificações. E quando vemos brotar na superfície o resultado dessa raiz - nossos problemas e sofrimentos - muitas vezes nem paramos para analisar o que as causou, isto é, quais raízes que a originaram. Então entramos em um ciclo infindável de experiências onde vivenciamos as ações e o resultado dessas ações, criando e fortalecendo ainda mais essas raízes.
Cabe a nós buscarmos os meios hábeis de retirarmos essas raízes por completo através da plena atenção, de exercícios de meditação, da oração ou outros que possibilitem com o tempo retirar de nós as raízes mais profundas.