Vivemos um vida aprendendo como agarrar coisas.
Ainda quando pequenos umas das primeiras coisas que aprendemos é agarrrar ou segurar nossos pequenos brinquedos. Depois vamos aprendendo tantas outras coisas relacionadas: meus livros, meus sapatos, meus amigos, minhas roupas, meus relacionamentos... Da mesma forma que aprendemos a agarrar ou segurar as coisas, elas também parecem nos agarrar à medida que tiram cada vez mais nossa liberdade e nossa capacidade de compreendermos o quão preso somos.
O mesmo aprendizado que temos durante a infância se repete por toda a vida: como agarrar ou segurar coisas. Para agarrá-las precisamos antes conquistá-las. Quando conquistamos precisamos mantê-las pois senão elas se vão, quebram, acabam, perdem seu encanto. Mas não conseguimos manter muitas coisas pois dentro de nós parece haver algo maior, um movimento exatamente na direção contrária: o de soltar ou largar.
Largamos os brinquedos dias ou talvez horas depois os termos ganho. Largamos roupas usadas. Largamos livros sem ler. Largamos amigos e relacionamentos. Largamos coisas que antes de as termos nos causavam tanto desejo e agora parecem não ter nenhuma utilidade. O ato de soltar ou largar acontece talvez na mesma proporção que o agarrar. Mas é naquilo que o agarrar ocorre, que nos prendemos. Soltar algo por desleixo, esquecimento ou por perder o encantamento é algo normal. Soltar algo que parece nos trazer prazeres, sensações boas, realizações é outra estória.
O apego surge nessa tentativa de tentar agarrar coisas que não são permanentes, como a felicidade, as pessoas, os empregos e todas as coisas que compõem nossa vida. Por não serem permanentes não conseguimos agarrá-las por muito tempo e quando elas se vão, nos trazem infelicidade. Entender e aceitar essa impermanência são uma de nossas grandes dificuldades, por isso tentamos num ciclo infinito nos agarrar aquilo que julgamos positivo para nós mesmos e largar aquilo que julgamos negativo para nossa vida.
O grande problema é que as coisas que nos agarramos como sendo positivas, uma hora se tornam negativas e não nos apercebemos pois estamos “agarrados” à sensações passadas. Relacionamentos entre pessoas nos dão um bom exemplo disso. Muitas vezes o relacionamento já desgastado não nos traz qualquer fator positivo, mas insistimos nele, pois estamos presos às sensações que um dia eles nos causaram. Vivemos lembranças do “passado”, sofrendo no “presente”. Agarramo-nos ao que um dia aconteceu, que não está acontecendo mais e que talvez nunca mais volte a acontecer no futuro.
Sendo assim precisamos estar preparados para soltar e largar sempre tudo aquilo que deve ser soltado e largado, compreendendo que não devemos nos agarrar a nada e sim estar atento e vivendo as experiências presentes, em cada simples e único momento.
Toda tentativa de agarrar algo se mostrará infrutífera e dolorosa, ainda que a sensação de agarrar algo por um tempo, nos traga sensações boas.
PR