Verdade


Uma das primeiras lições que necessitamos aprender é que nossas mentes, sendo até então incapazes de responder às intuições ocultas, tornam impossível para nós, dizer com segurança que tal condição seja esta, aquela ou uma outra; que, até que possamos atuar em nossa consciência de alma, não temos condições para afirmar o que é e o que não é; que, até nos termos submetido ao necessário treino, não estaremos em posição de afirmar ou negar coisa alguma. 

Nossa atitude deveria ser aquela de uma inquirição razoável e nosso interesse, o do filósofo que investiga, desejoso de aceitar uma hipótese na base de sua possibilidade, mas não desejoso de aceitar como verdade provada coisa alguma, antes de conhecermos o fato por nós mesmos e em nós mesmos.

(...) O valor destas instruções está em sua totalidade e deve ser encontrado na infra-estrutura ou esqueleto subjacente das afirmações coordenadas e correlatas que devem ser consideradas como um todo e não em detalhe e isto por duas razões: 


1. A linguagem, como foi dito antes, oculta a verdade e não a revela. Se a verdade é reconhecida, é porque o estudante que investiga encontrou um ponto de verdade em si mesmo, que serve para iluminar seus passos à medida que ele lenta e gradualmente se esforça para diante. 


2. Há muitos tipos de mentes e não se deve esperar que a informação dada, por exemplo, neste Tratado, agrade a todos. Deve-se lembrar que todas as pessoas são unidades de consciência exaladas de uma das sete emanações de Deus. Por isso, mesmo suas mônadas, ou aspectos espirituais, são inerentemente diferentes, tal como, no prisma (que é um), há sete cores diferenciadas. Mesmo isto é assim, somente por causada natureza, do ponto de vista e do aparelho de percepção do homem, cujo olho registra e diferencia as intensidades variadas de luz vibratória. Estes sete grupos subsidiários, por sua vez, produzem um aspecto, mentalidade e contato variados, novamente, produzem um aspecto, mentalidade e contato variados, todos igualmente corretos, mas todos apresentando um ângulo de visão sutilmente diferente. Quando a realização acima está acoplada com fatores tais como os diferentes pontos na evolução, as variadas nacionalidades e as características diversas, as distinções inerentes surgidas através da inter-relação entre o corpo físico envolvido e o meio ambiente, tomar-se-á patente que nenhuma aproximação com assuntos abstrusos tais como a natureza do espírito e da alma pode ter uma definição geral nem se submeter a uma terminologia universal.



De "Um Tratado sobre Magia Branca - Tomo I" - Alice Bailey

Poder de acomodar

Às vezes pensamos assim: Existe apenas uma maneira de fazer as coisas e essa é a minha maneira. A questão é que há várias maneiras de fazer as coisas, mas porque nós fazemos as coisas de um modo particular então pensamos que só há um modo. 

Porém, existem outras maneiras que podem nos satisfazer que é pensar assim: Bem esse é o meu jeito de fazer, qual é o seu jeito? OK, eu nunca havia pensado em fazer dessa maneira! Está OK assim. 

Da mesma maneira que escolhemos diferentes trajetos para ir até o trabalho - pela via expressa ou por caminhos alternativos - a depender da nossa necessidade ou vontade, assim acontece com cada um. Há diversas maneiras de ficarmos satisfeitos com os outros. E isso envolve realmente entendê-los e dar a eles o direito de serem o que são. Dar a eles permissão total para serem eles mesmos. Isso significa poder de acomodar. 

Denise Lawrence

"Quase tudo é uma criação onde níveis de ilusão se sobrepõem"



"O tempo em si não é nada... apenas mais uma das percepções que temos nesse mundo onde quase tudo é uma criação onde níveis e mais níveis de ilusão se sobrepõem até termos algo que vivemos, olhamos e/ou acreditamos que é meramente um "holograma" : ) 

E desfazer esses zilhões de hologramas que fomos acostumados a olhar e achar que eram reais, vai tempo sim. 

A priori é bom se afastar de coisas que te geram mais confusões e confundem o seu "banco de dados de hologramas". O ocultismo não é simples como ler um jornal, mas também não deve ser tortuoso como resolver um quebra-cabeça de 1 milhão de peças. 

Quando deparar-se com coisas assim é melhor parar. Guarda. No futuro lê de novo ou não."

PR

Morte e Vida


Então para nós a morte é o fim total, o fim de seu apego – certo? - o fim de tudo que você reuniu. Você não pode levar com você. Pode até gostar de ter aquilo até o último minuto, mas não pode possivelmente levar com você.

Então nós dividimos a vida em morrer e viver. E esta divisão produziu grande medo. E a partir desse medo inventamos todos os tipos de teorias, muito confortantes, pode ser ilusório mas é muito confortante, ilusões são confortavelmente neuróticas.

Então é possível, por favor, estou lhe fazendo esta pergunta, é possível, como vivemos, morrer para as coisas a que estamos apegados? Você compreende minha pergunta? Sou apegado à minha reputação – Deus me livre! - sou apegado a ela. E a morte está chegando, porque estou ficando velho e tenho medo, pois vou perder tudo. Então posso ficar totalmente livre da imagem, da reputação que as pessoas me conferiram? Compreende? De modo que você morre enquanto vive.

Será que você está entendendo? Então a divisão entre viver e morrer não está milhas distante, está junto. Imagino se você entende isto, por favor. E se você compreende a grande beleza disso a cada dia, ou a cada segundo, não há acumulação, acumulação psicológica, você tem que acumular roupas com dinheiro e assim por diante, isso é diferente, mas psicologicamente não existe acúmulo como conhecimento, como apego, dizer, 'Isto é meu'.

Você fará isso? Você realmente fará esta coisa de modo que o conflito entre morte e vida com toda sua dor e medo e angústia chegue totalmente ao fim, de modo que você está – o cérebro está encarnado? Compreende? Imagino se você compreende tudo isto. O cérebro renasce novo, e assim nisso há tremenda liberdade.

Krishnamurti

Poder Interior


Que você torne seu poder interior mais forte do que as forças externas. Hoje em dia somos influenciados por muitas situações, pelo ambiente ao nosso redor e pela atmosfera do mundo. Às vezes, dizemos e fazemos coisas que não queríamos dizer ou fazer, mas sentimos que as situações nos “fizeram fazer”. Mais do que culpar a atmosfera, eu posso aumentar meu poder interior até que ele se torne maior do que a força externa das situações. Meu poder interior aumenta sempre que eu volto minha atenção para dentro de forma concentrada. 

365 Beautiful Thoughts, Brahma Kumaris, Canadá

"Só em liberdade podemos descobrir o que é o verdadeiro, o que é Deus"

Consideremos a crença em Deus, a crença em algo, é religião. Pensamos que crer é ser religioso. Compreende?

Se não acreditamos, nos considerarão ateus, seremos condenados pela sociedade. Uma sociedade condenará os que acreditam em Deus, e outra sociedade condenará aos que não acreditam. Ambas são a mesma coisa.

Assim, pois, a religião se torna uma questão de crença; e a crença atua e exerce sua influência sobre a mente.

Desse modo, a mente jamais pode ser livre. Porém, só em liberdade podemos descobrir o que é o verdadeiro, o que é Deus; não podemos fazê-lo mediante nenhuma crença, porque nossa própria crença projeta o que pensamos que deve ser Deus, o que pensamos que deve ser a verdade.

Krishnamurti
http://nossaluzinterior.blogspot.com.br/2012/02/mais-alem-da-crenca.html

Trabalho mundano e o trabalho espiritual

(...) A Vida no mundo e a vida no espírito não são incompatíveis. O trabalho, ou a ação, não é contrário ao conhecimento de Deus, porém, na verdade, se realizado sem apego, é um instrumento para ele.

Por outro lado, a renúncia significa renúncia do ego, do egoísmo - não da vida. A finalidade, tanto do trabalho como da renúncia, é conhecer o Eu* interiormente e Brahman** exteriormente, e perceber sua identidade.

O Eu é Brahman, e Brahman é tudo.

* Atman, Alma
** Deus, Criador

Swami Prabhavananda
Os Upanishads

As 37 condições que levam à budeidade (Parte 1) - As quatro considerações



Para tornar-se um Buda são necessárias 37 condições, todas discutidas em detalhes nos Agamas. Aqui, iremos apenas esboçá-las, mostrando sua relação com a cessação e a contemplação.

As quatro primeiras condições denominam-se "quatro considerações":

1. Consideração de que o corpo é impuro. Esse é um ato de cessação.

2. Consideração de que, em última instância, todas as impressões dos sentidos levam apenas ao sofrimento. Esse é um ato de cessação.

3. Consideração de que todas as atividades da mente são impermanentes e mutantes. Esse é um ato de cessação.

4. Consideração de que todos os fenômenos se inter-relacionam e nenhum tem natureza própria. Esse é um ato de contemplação.


Hsing Yün
Purificando a Mente: a meditação no Budismo chinês

Os três aspectos do homem

Um dos principais meios pelos quais o homem chega a uma compreensão daquela grande totalidade à qual chamamos de Macrocosmo - Deus, funcionando através de um sistema solar - é pela compreensão de si próprio (...). 

Através da Lei da Analogia, ou das correspondências, os processos cósmicos e a natureza dos princípios cósmicos são indicados nas funções, estrutura e características de um ser humano. São indicadas mas não explicadas ou elaboradas. Servem simplesmente como sinais na estrada (...). 

A compreensão da triplicidade do espírito, alma e corpo permanece, todavia, além do alcance do homem, mas uma idéia quanto às suas relações (...) pode ser indicada por uma apreciação do homem a partir do seu aspecto físico e seu funcionamento objetivo. 

Há três aspectos do organismo humano que são símbolos, e somente símbolos, dos três aspectos do ser. 

1. A energia, (...) que se retira misteriosamente na morte, retira-se parcialmente nas horas de sono ou da inconsciência, e que parece usar o cérebro como sua sede principal de atividade e daí dirigir o funcionamento do organismo. 

Esta energia tem uma relação direta primária as três partes do organismo a que chamamos cérebro, coração e aparelho respiratório. Este é o símbolo micro cósmico do espírito. 

2. O sistema nervoso, com sua complexidade de nervos, (...) para produzir a resposta sensitiva que existe entre os muitos órgãos (...), também para o tornar consciente do, e sensível ao, meio que o cerca. Esta aparelhagem sensorial inteira é a que produz a conscientização organizada e a sensibilidade coordenada do ser humano, primeiro dentro dele mesmo como uma unidade e, secundariamente, capacidade de resposta e estrutura nervosa, coordenando, correlacionando e produzindo uma atividade grupal externa e interna. 

(...) Ele está intimamente associado com o aspecto energia, sendo o instrumento utilizado por aquela energia para vitalizar o corpo, para produzir sua atividade e funcionamento coordenados e para conseguir um relacionamento inteligente com o mundo no qual tem de participar. 

(...) Por sua vez, é motivado e controlado por dois fatores: 

a) A totalidade da energia que é a quota individual da energia vital. 

b) A energia do meio ambiente na qual o indivíduo se encontra e na qual tem de atuar e desempenhar seu papel. 

Este sistema nervoso coordenador (...) é o símbolo, no homem, da alma, e uma forma e exterior de uma realidade espiritual interior. 

3. Há, finalmente, o que poderia ser descrito como o corpo, a totalidade de carne, de músculos e de ossos que o homem vai carregando, correlacionados pelo sistema nervoso e tonificados pelo que vagamente chamamos sua "vida". 

Nestes três, a vida, o sistema nervoso e a massa corporal, nós achamos o reflexo e o símbolo do todo maior, e por um detalhado estudo destes e uma compreensão de suas funções e relações grupais, podemos chegar a uma compreensão de algumas das leis e princípios que dirigem as atividades de "Deus na natureza" - uma frase, sublimemente verdadeira e igualmente finitamente falsa. 

Os três aspectos da divindade, a energia central, ou espírito; a força coordenadora, ou alma, e aquela que estas duas usam e unificam são, na realidade, um princípio vital se manifestando na diversidade.

Estes são os Três em Um, o Um em Três, Deus na natureza e a própria natureza em Deus

Transportando o conceito, à guiza de ilustração, para outros reinos do pensamento, esta trindade de aspectos pode ser vista atuando:

>  no mundo religioso como o ensinamento esotérico, a simbologia e doutrinas fundamentais das grandes religiões mundiais e das organizações exotéricas;

> no governo, ele é a totalidade da vontade do povo seja ela qual for, as leis formuladas e a administração exotérica; 

> na educação, é a vontade de aprender, são as artes e ciências e os grandes sistemas educacionais exotéricos; 

> na filosofia, é a sede de sabedoria, são as escolas de pensamento inter-relacionadas e a apresentação exterior dos ensinamentos. 

Assim esta eterna triplicidade percorre cada departamento do mundo manifestado, seja visualizada como aquilo que é tangível, ou como aquilo que é sensível e coerente, ou o que é tonificante. É aquela atividade inteligente que foi desajeitadamente chamada conscientização, é a capacidade de estar consciente, envolvendo, como faz a resposta sensitiva ao meio ambiente e o dispositivo daquela resposta, a divina dualidade da alma; é finalmente a totalidade daquilo que é conhecido e que se contata; é aquilo do qual o aparelho sensitivo se toma consciente. Esta, como veremos mais tarde, é uma compreensão gradualmente crescente, deslocando-se sempre para os ramos mais internos e mais esotéricos.

De Um Tratado sobre a Magia Branca - Tomo I - Alice Bailey

Como um grão de areia


Para que a voz perca o poder de ferir, o homem deve ter chegado àquele ponto em que vê a si mesmo como apenas mais um em meio às vastas multidões que vivem; apenas mais um entre os grãos de areia levados para lá e para cá pelo mar da existência vibratória.

Afirma-se que cada grão de areia no leito do oceano é levado a seu tempo até a praia e vive à luz do sol por um momento. O mesmo ocorre com os seres humanos. Eles são levados para lá e para cá por uma grande força; e cada um, no momento certo, sente sobre si os raios solares.

Quando um ser humano é capaz de ver deste modo a sua própria vida como parte do todo, ele deixa de lutar para obter qualquer coisa para si mesmo.

"Light on the Path", Theosophy Co., pp. 75-76

Sozinho



Por sobre a terra se estendem 
ruas e caminhos mil, 
mas levam todos aos mesmo fim. 

De dois em dois, três em três, 
indo a pé ou a cavalo, 
o último passo - sozinho 
há de dá-lo. 

Não há, portanto, saber 
nem poder algum melhor 
do que o difícil a gente
fazer só. 

Hermann Hesse


Conversas Ouspensky e Gurdjieff - homens são máquinas

(...) Certo dia em Moscou falava com Gurdjieff (G) sobre Londres, onde estivera por pouco tempo, alguns meses atrás. Dizia-lhe da terrível mecanização que invadia as grandes cidades européias. (...)

O: As pessoas estão se transformando em máquinas e não duvido que um dia se convertam em máquinas perfeitas. Mas será que ainda são capazes de pensar? Não creio. Se tentassem pensar, não seriam tão belas máquinas.

G: Sim é verdade, mas só em parte. A verdadeira questão é essa: de QUE PENSAR se servem em seu trabalho? Se se servem do pensar conveniente, poderão até pensar melhor dentro de sua vida ativa e no meio das máquinas. Mas uma vez mais sob a co dição de se servirem do PENSAMENTO CONVENIENTE.

Em segundo lugar a mecanização de que fala não é em absoluto perigosa. Um homem pode ser um HOMEM, mesmo trabalhando com máquinas. Há outra mecanização mais perigosa: É SER ELE MESMO UMA MÁQUINA. Você já pensou no fato de que todos os homens são eles mesmos máquinas?

O: sim, de um ponto de vista científico todos os homens são máquinas governadas pelas influências exteriores.

G: Científico ou não é a mesma coisa para mim. Peço-lhe que compreenda o que digo. Olhe, todas essas pessoas que vê são máquinas.

O: Creio compreender o que quer dizer e muitas vezes tenho pensado em como são pouco numerosos, no mundo, os que podem resistir a essa forma de mecanização e escolher seu próprio caminho.

G: Ai justamente está SEU ERRO MAIS GRAVE. Pensa que alguma coisa possa escolher seu próprio caminho ou resistir à mecanização; pensa que tudo não é igualmente mecânico.

O: Mas é claro! - exclamei. A arte, a poesia, o pensamento são fenômenos de ordem totalmente diferente.

G: São exatamente da mesma ordem. Estas atividades são tão mecânicas quanto as outras. Os homens são máquinas e de máquinas não poderia se esperar outra coisa que a não ser ações maquinais.


O: As pessoas se parecem muito pouco. Acho impossível colocá-las dentro do mesmo saco. Há selvagens, há intelectuais, há pessoas mecanizadas, há gênios...

G: Exato as pessoas são diferentes, mas A DIFERENÇA REAL entre as pessoas você nem conhece e nem pode ver. Fala de diferenças que simplesmente não existem. Isso deve ser compreendido. Todas as pessoas que você conhece são máquinas trabalhando sob as forças exteriores como você disse. O que vem fazer aqui os selvagens e os intelectuais? Agora mesmo enquanto falamos várias máquinas se esforçam para aniquilarem umas outras (*1a Guerra Mundial). Em que então elas diferem? Onde estão os selvagens e onde estão os intelectuais? São todos a mesma coisa...


O: Que pensa da psicologia moderna?

G: Antes de falar dessa ciência devemos entender do que ela se trata e de que não trata. O objeto próprio dessa ciência são os seres humanos. De que psicologia se trata quando cuidamos apenas de máquinas? É da mecânica e não da psicologia que necessitamos para o estudo das máquinas. Por isso é que começamos pelo estudo da mecânica. Ainda falta um longo caminho para chegarmos à psicologia.


O: Pode um homem deixar de ser máquina?

G: Ah! Aí está toda a questão. Sim, é possível deixar de ser máquina, mas para isso é necessário antes de tudo conhecer a máquina. Uma máquina, uma máquina real , não se conhece a si mesma e não pode conhecer-se. Quando uma máquina se conhece, desde esse instante deixou de ser máquina; pelo menos não é mais a mesma máquina de antes. Já começa a ser responsável por suas ações.


O: Isso significa que um homem não é responsável por suas ações?

G: Um homem é responsável. Uma máquina não é responsável.

(...)

P.D. OUSPENSKY
Fragmentos de um ensinamento desconhecido

Sobre a crença em Deus


Pergunta: A crença em Deus foi sempre poderoso incentivo para uma vida melhor. Por que negais a Deus? Por que não procurais reanimar a fé do homem na ideia de Deus?

Krishnamurti: Consideremos este problema com amplitude e de maneira inteligente. 

Eu não nego Deus; seria absurdo fazê-lo. Só o homem que não conhece a realidade se entretém com palavras sem significação. O homem que diz que sabe, não sabe. O homem que conhece a realidade, momento por momento, não tem meios de comunicar essa realidade. A crença é negação da verdade, a crença é um obstáculo à verdade.

Crer em Deus não é achar a Deus. Nem o crente nem o descrente acharão a Deus. 

Porque a realidade é o desconhecido, e vossa crença ou descrença do desconhecido é simples autoprojeção, e por conseguinte não é real. Sei que credes e sei que isso tem muito pouca significação na vossa vida. Há muitas pessoas que crêem; milhões crêem em Deus e encontram consolo nisso. Em primeiro lugar, por que credes? Credes porque isso vos dá satisfação, consolo, esperança, e dizeis que essas coisas dão sentido à vida. Na realidade, vossa crença tem muito pouca significação, porque credes e explorais. Credes e matais, credes em um Deus universal e vos assassinais mutuamente. O rico também crê em Deus; explora impiedosamente, acumula dinheiro, e depois manda construir uma igreja ou se torna filantropo. Os homens que lançaram a bomba atómica sobre Hiroxima disseram que Deus os acompanhava; os que voavam da Inglaterra para destruir a Alemanha, diziam que Deus era seu co-pilôto. Os ditadores, os primeiros ministros, os generais, os presidentes, todos falam de Deus e têm fé imensa em Deus. Estão prestando algum serviço tornando melhor a vida do homem? As mesmas pessoas que dizem crer em Deus, devastaram a metade do mundo, e o deixaram em completa miséria. A intolerância religiosa, dividindo os homens em fiéis e infiéis, conduz a guerras religiosas. Isso mostra nosso estranho senso político. 

A crença em Deus é "poderoso incentivo para uma vida melhor" ? Por que precisais de um incentivo para viver melhor? Ora, por certo, vosso incentivo deve ser vosso próprio desejo de viver com pureza e simplicidade, não achais?

Se conferis tanta importância ao incentivo, não estais interessado em tornar a vida possível para todos: estais interessado unicamente no vosso in­centivo, que é diferente do meu incentivo — e brigaremos por causa dos nossos incentivos.

Se vivemos felizes e unidos, não porque cremos em Deus, mas porque somos humanos, compartilharemos os diferentes meios de produção, a fim de produzirmos, para todos, as coisas necessárias. Em virtude da nossa falta de inteligência, aceitamos a ideia de uma superinteligência, a que chamamos Deus; mas esse Deus, essa superinteligência, não nos dará uma vida melhor. O que conduz a uma vida melhor é a Inteligência; e não pode haver inteligência se há crenças, se há divisões de classes, se os meios de produção se encontram nas mãos de poucos, se há nacionalidades isoladas e governos soberanos. 

Tudo isso indica, por certo, evidente falta de inteligência, e é isso que nos está privando de uma vida melhor, e não a falta de crença em Deus. 

Todos vós credes, de diferentes maneiras, mas vossa crença não tem realidade alguma. A realidade é o que sois, o que fazeis, o que pensais, e vossa crença em Deus é apenas uma fuga do vosso viver monótono, estúpido, e cruel. 

Além disso, a crença, invariavelmente, separa os homens: temos o hinduísta, o budista, o cristão, o comunista, o capitalista, etc. A crença, a ideia, divide, não une os homens. Será possível unir certo número de pessoas em um grupo, mas este grupo se oporá a outro grupo. Ideias e crenças nunca são unificadoras, ao contrário, são fatores de desavença, desintegração e ruína. Por conseguinte, vossa crença em Deus só está, na verdade, espalhando misérias pelo mundo. Ainda que vos tenha trazido momentâneo conforto, na realidade ela trouxe mais sofrimentos e mais destruição, sob a forma de guerras, fome, divisões de classe, e as crueldades de certos indivíduos. Vossa crença, pois, é sem eficácia. 

Se deveras crêsseis em Deus, se isso fosse uma experiência real, vossos semblantes irradiariam afeto, e não estaríeis destruindo vossos semelhantes. Mas, que é a realidade, que é Deus? Deus não é a palavra; a palavra não é a coisa. 

Para conhecer aquilo que é imensurável, independente do tempo, a mente deve estar livre do tempo, o que significa que deve estar livre de todo pensamento, de todas as ideias relativas a Deus. Que sabeis de Deus ou da verdade? De fato nada sabeis daquela realidade. O que conheceis são só palavras, experiências de outrem, ou alguns momentos de experiências um tanto vagas, de vós mesmos. Isso, naturalmente, não é Deus, não é a realidade, não está fora da esfera do tempo. 

Para conhecer o que está além do tempo, é preciso compreender o processo do tempo, sendo o tempo pensamento, processo de "vir a ser", acumulação de conhecimentos. Aí está todo o fundo que constitui a mente; a mente, ela própria, é o fundo, consciente e inconscientemente, coletiva e individualmente. A mente, por conseguinte, deve estar livre do conhecido, o que significa que deve estar de todo silenciosa, sem ter sido posta em silêncio.

A mente que alcança o silêncio como resultado, como consequência de determinada ação, exercício, disciplina, não é mente silenciosa. A mente que é constrangida, controlada, moldada, posta numa forma e obrigada a ficar quieta, não é mente tranquila. Podeis conseguir, por certo período de tempo, forçar a mente a um silêncio superficial, mas essa mente não é tranquila. A tranquilidade só pode vir quando se compreende todo o processo de pensamento, porque, compreender o processo é pôr-lhe fim, e o fim do processo de pensamento é o começo do silêncio. 

Só quando a mente se acha em silêncio completo, não só na superfície, mas no fundo, de ponta a ponta, tanto nos níveis superficiais como nos níveis mais profundos da consciência — só então pode o desconhecido manifestar-se na existência. 

O desconhecido não é passível de ser experimentado pela mente; só o silêncio pode ser experimentado; nada mais senão o silêncio. Se a mente experimenta algo que não seja silêncio, está apenas projetando seus próprios desejos e portanto não está em silêncio; enquanto a mente não está silenciosa, enquanto o pensamento, sob qualquer forma, consciente ou inconsciente, se acha em movimento, não pode haver silêncio. Silêncio é liberdade, é estar livre do passado, do saber, da memória, tanto consciente como inconsciente.

Quando a mente está silenciosa de todo, quando não está em uso, quando há o silêncio que não é produto de esforço, só então se manifesta o atemporal, o eterno. Esse estado não é um estado de lembrança; não há nele entidade que se recorda, que experimenta. Por consequência, Deus ou a verdade — ou como quiserdes chamá-lo — é algo que se manifesta de momento a momento, e isso só pode acontecer num estado de liberdade e espontaneidade, e não quando a mente foi disciplinada, de acordo com uma padrão. 

Deus não é produto da mente, não é resultado de autoprojeção; só pode surgir quando há virtude, que é liberdade. Virtude é enfrentar o fato, o que é. E enfrentar o fato é um estado de bem-aventurança. Só quando a mente está repleta de felicidade, tranquila, imóvel, sem nenhuma projeção de pensamento, consciente ou inconsciente — só então se manifesta o Eterno. 

 Krishnamurti
A Primeira e Última Liberdade
http://nossaluzinterior.blogspot.com/2010/02/sobre-crenca-em-deus.html

O rio do autoconhecimento


Ficaremos satisfeitos com as coisas necessárias, no seu sentido exato - que é estar livre do desejo de poder - quando tivermos encontrado o imperecível tesouro interior a que chamamos Deus, a verdade, ou como quiserdes. Se puderdes encontrar essas riquezas imperecíveis dentro de vós, vos sentireis satisfeitos com poucas coisas, e essas poucas coisas podem ser fornecidas.

Procuramos felicidade através das coisas, pelas relações, por meio de pensamentos e idéias. Assim as coisas, as relações e idéias tornam-se todas importantes, e não a Felicidade. Quando se procura felicidade através de alguma coisa, então, a coisa torna-se de valor superior a própria felicidade. Quando apresentado desta forma o problema parece simples e é simples. Procuramos felicidade na propriedade, na família, no nome e então, a propriedade, a família, a idéia torna-se todas importantíssimas, mas sendo a felicidade procurada por um algum meio, o meio destrói o fim. 

A felicidade pode ser achada por algum meio qualquer, através de qualquer coisa feita pela mão ou pela mente? As coisas, as relações e idéias são claramente não-permanentes, estamos sempre insatisfeitos com elas. As coisas são impermanentes, se acabam e são perdidas; o relacionamento é um constante atrito e a morte é o fim; idéias e convicções não têm nenhuma estabilidade, não são permanentes. Procuramos felicidade nisso e ainda não percebemos sua impermanencia. Portanto, o sofrimento se torna nossa constante companheira superando nosso problema. 

Para descobrir o verdadeiro sentido da felicidade, temos de explorar o rio do autoconhecimento. Autoconhecimento não é um fim em si mesmo. Existe a fonte deste rio? Cada gota de água do seu início até o fim é que faz o rio. Imaginar que acharemos felicidade na fonte é um equivoco. Ela se encontra onde você está no rio do autoconhecimento. 

Krishnamurti
http://nossaluzinterior.blogspot.com/2011_11_01_archive.html

Santos

Santo não é uma pessoa perfeita.

Santo é aquele que consegue equilibrar os vícios (vícios todo mundo tem), de forma que pode dedicar toda a sua vida à sua purificação.

Santo é um ser diferente de nós, pois nós não estamos o tempo todo tentando equilibrar as forças viciosas. O santo não se distrai com isso.

E o santo diz: "Como sou imperfeito!". O santo é uma das criaturas mais insatisfeitas que pode haver, pois vê o caminho que tem a percorrer e está acorrentado equilibrando as forças viciosas. O santo não vê mérito nenhum em si.

Ele não é conhecido por suas ações, pois entre uma ação e outra, escapa alguma coisa que não é santidade, alguma força que não foi suficientemente amarrada. Ele falha. Mas ele não abandonou a busca de purificação. 

Reconhecemos o santo é pela sua força interna.

Trigueirinho
Palestra proferida em Jul/2005
http://www.irdin.org.br/palestra/por/audicao.html?cod=3654
Textos relacionados